As possibilidades do Jornalismo de dados

Os painéis da SET Expo 2018 sobre produção de conteúdo deram largada com uma discussão  sobre jornalismo de dados. “Fatores como big data, inteligência artificial, algoritmos de processamento de linguagem natural, abertura de dados  e uso intensivo das redes sociais, entre outros, têm imposto ao trabalho jornalístico um papel cada vez mais científico e complexo”, contextualizou o moderador Daniel Monteiro, gerente de P&D da TV Globo. Um ambiente de jornalismo de dados é hoje fundamental. Mas quais as tecnologias e estruturas necessárias para implantá-lo?

João Castellani, gerente de Arquitetura de Informação e Integração da TV Globo, falou sobre a adoção do big data para a produção de conteúdo da emissora. Segundo ele, o projeto priorizou soluções de arquitetura aberta (open source), serveless (isento de servidores físicos), com armazenamento na nuvem e codificação mínima. As decisões justificam, por exemplo, o uso de recursos do Google de inteligência artificial, preparação de dados e armazenamento.

A ferramenta criada auxiliou a produção de reportagens especiais e infográficos, ajudando a processar volumes de dados que, em metodologias convencionais, demandariam muito tempo e muito custo. “Uma reportagem com muitos dados antes consumia dias, agora pode ser feita em minutos”, explicou Castellani. Segundo ele, jornalistas de diversas áreas do Grupo Globo foram treinados para saber utilizar a ferramenta, aprendendo, por exemplo, linguagem SQL. Também foram contratados analistas de dados para auxiliar as redações. “O big data promete ajudar na cobertura das eleições deste ano”, apontou.

Helder da Rocha, executivo da consultoria Argo Navis Tecnologia e Arte, abordou o poder da internet para a veiculação de dados. “A web abre vias para mostrar dados através de gráficos e mapas dinâmicos, com os quais leitores podem interagir. São tabelas que permitem projeções, cruzamento de variáveis e até inputs em tempo real. As fórmulas clássicas caíram”, disse Rocha. O profissional apontou recursos para a criação de gráficos dinâmicos, desde os mais simples (Tableau, Infogram, Google Sheets e Plotly) até ferramentas JavaScript já utilizadas por grandes jornais e revistas (Chart, P5 e D3).

A tecnologia pode ser utilizada não apenas para enriquecer o conteúdo, mas até para combater um problema crescente associado aos meios digitais: as fake news (notícias falsas). Bárbara Libório, editora da Aosfatos, falou sobre o desenvolvimento do Fátima. Trata-se de um robô (bot) criado para avisar usuários de redes sociais sobre notícias comprovadamente inverídicas. “A autenticidade das informações é checada pela equipe da Aosfatos. O recurso de inteligência artificial verifica quem compartilhou links de mentiras e envia um alerta”, explicou Bárbara. O Fátima estreou pouco mais de um mês atrás, no Twitter. “A recepção tem sido calorosa. Pessoas têm deletado tweets falsos e nos escrito agradecendo pelos avisos”.