SET Sul 2018: Internet talvez não chegue ao mesmo sucesso que a TV aberta

Painel analisa novas formas de consumo audiovisual e pontua que  “o jovem que hoje tem um pouco menos interesse na TV aberta consome os assuntos da TV aberta por outros meios”

Giovana Alcantara, diretora Comercial, Kantar IBOPE Media

A revolução tecnológica pela qual passamos tem gerado questionamentos e reflexões quanto aos hábitos de consumo. Na prática, o papel do profissional de mídia tem sido o de pensar os comportamentos dos chamados millennials, também conhecidos como geração Y (nascida com a Internet) e geração Z (que não conhece o mundo sem Internet).

“Entender essas mudanças é fundamental para o sucesso do nosso negócio. Nesse painel, vamos debater com experts do mercado como os hábitos de consumo de mídia da população estão mudando e que alertas esses novos comportamentos trazem para nós”, explicou a moderadora Luana Carolina Bravo, da SET.

O painel começou com uma explanação dos palestrantes para situar a discussão em três pilares: o comportamento do gaúcho no consumo de mídia (bairrista e valoriza mais as marcas locais do que a média do brasileiro), feito pela gerente do RBS Intelligence Marketing, do Grupo RBS, Ana Paula Schneider Kremer; o comportamento brasileiro com o processo de identificação entre público e marca e todas as suas relações possíveis, feito por Geferson Barths, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da UniRitter; e o comportamento brasileiro para com o consumo de mídias pelas diferentes plataformas, apresentado por Giovana Alcantara, diretora Comercial, Kantar IBOPE Media.

Ana Paula Schneider Kremer, gerente do RBS Intelligence Marketing, do Grupo RBS

A seguir, alguns pontos de destaque da discussão dividida em perguntas e respostas feitas pela moderadora do painel, Luana Bravo.

De fato as pessoas estão “abandonando” a TV aberta e migrando para internet? Ou isso ainda é uma característica de uma pequena parcela da população?

Giovana Alcântara: Não. A TV nunca esteve tão preocupada em produzir conteúdo que atinjam esse público. Se o conteúdo é atrativo e adequado para aquele target, seguramente vai ter audiência. Em alguns dados da pesquisa Dimension, do Kantar Ibope, vimos que não muda radicalmente esse comportamento do jovem. Ele assiste, um pouco mais em VOD, ou streaming, de maneira fragmentada, e entra mais na conversa do reality tuitando, por exemplo, o que está acontecendo. A TV “criou filhotes” e essa geração dificilmente assiste de maneira separada.

– Será que estas gerações Y, Z em alguns anos, não farão o caminho contrário e voltarão a TV tradicional?

Geferson Barths:  Se seria uma moda temporária? É difícil de afirmar. Se ampliarmos a discussão, podemos pensar no conflito que vivem o jornal impresso e digital, as revistas. Ninguém afirma que o jornal impresso vai morrer, mas a produção do mesmo vem sendo reduzida. Entretanto, o conteúdo vai se adequando. Trazendo essa discussão para o ambiente da TV, me soa muito parecido. O jovem que hoje tem um pouco menos interesse na TV aberta, mas todos os dias está rodeado por assuntos que estão na TV aberta. Então ele e consome os assuntos da TV aberta por outros meios. Creio que ela (TV aberta) não vai deixar de ter importância, e, no meu ponto de vista, pode voltar até com mais força do que tinha antes se ela souber projetar seu conteúdo.

Outro cenário está com os “jovens de 35 anos”. Para quem demorou a entrar de fato na internet, é mais difícil abandonar os hábitos da TV aberta. Pois viveu-se mais tempo com o comportamento e pode carregar um certo saudosismo.

Luana Carolina Bravo da SET.

Giovana Alcântara– O que muda na vida da pessoa é a experiencia que ela tem para qualquer coisa. Seja para consumir produto ou ter uma experiência.

Considerando o perfil do gaúcho, que é mais tradicionalista e “bairrista”, seria possível afirmar que a busca de conteúdos online é menor , visto que a produção de conteúdo local  é em sua maioria para as televisões e não para internet?

Ana Paula Schneider Kremer: não podemos afirmar que o gaúcho busca menos conteúdo online. O GaúchaZH, principal site de conteúdo do Grupo RBS, atingiu em maio/18 um volume de 14 milhões de usuários únicos. Esse mesmo site está no ranking dos mais consumidos do Brasil, e o maior site regional de conteúdo. Além disso, o estudo Persona mostra que o gaúcho compra mais pela internet (eletrônicos e eletrodomésticos) do que a média dos brasileiros. Mas isso não significa que o gaúcho está abandando os veículos tradicionais: somos o povo que mais lê jornal do Brasil, e nosso consumo de Rádio também é maior do que a média nacional.

Giovana Alcântara– não achei nenhum dado sobre o gaúcho que fosse muito diferente do resto do Brasil quanto ao consumo. Não existe mais divisão entre online e offline.

Existe algum estudo sobre os anseios da população quanto ao futuro da oferta de conteúdos na televisão? De que maneira isso poderia ditar o futuro do negócio televisivo?

Ana Paula Schneider Kremer: Aposto na questão multitela e multiplataforma, em como os veículos tradicionais levarão esse conteúdo para consumo em outros locais. A Rede Globo já faz isso com seu conteúdo digital do G1 e Globo Play, e a RBS também faz com todos os seus veículos, estando presente na internet e redes sociais. Além de distribuir o conteúdo, estar atento a interação e opinião do público. Por parte do marketing, fazemos muitas pesquisas para entender esse comportamento e desenvolver produtos adequados nosso público. Tentamos estar em constante atualização e em movimento para entregar um conteúdo e experiência que representes as exigências para esse povo super crítico.

Giovana Alcântara: Nessa pesquisa que fizemos, temos a constatação de que a resposta é produzir conteúdo em todas as telas, seja para ficar disponível no live ou gravado, e a preocupação com engajamento/interatividade. Para isso, é preciso abrir um canal para que essa interação  aconteça. A soma de tudo isso melhora a experiência para todos os lados e vai fazer com que o conteúdo televisivo vire sucesso e continue relevante no Brasil, no Rio Grande do Sul e no mundo.

Geferson Barths, coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da UniRitter

Geferson Barths: Complemento essas opiniões dizendo que é importante estar atento também ao cenário econômico, que acaba determinando os acessos. Não adianta fazer multiplataforma e convergência se houver dificuldade de acesso. A TV fechada também passa por uma crise e isso pode ser determinante para gerar conteúdo e posicionar um veículo com maior abrangência e relevância.

Luana Bravo: Com essa discussão, creio que podemos concluir que a TV aberta ainda é o maior meio de entretenimento gratuito, o que talvez a internet não chegue a ser, por isso a importância de pensarmos este futuro da TV aberta.

 

Por Tainara Rebelo (Porto Alegre) e Fernando Moura (São Paulo). Fotos: Anselmo Cunha (Porto Alegre)