TV analógica de São Paulo desligada

Reportagem Especial

A maior metrópole da América latina foi desligada na passagem de 29 para 30 de março de 2017, um fato histórico para a televisão brasileira e latino-americana, uma vez que a capital paulista é a primeira cidade destas proporções a realizar o switch-off

por Redação*

Ao lado do presidente da Anatel, Juarez Quadros, e de representantes do setor de radiodifusão, o ministro Gilberto Kassab assina portaria que homologa o desligamento do sinal analógico de TV em São Paulo e municípios da região metropolitana

A televisão analógica se despediu dos telespectadores paulistanos às 23h59 da quarta-feira, 29 março de 2017, marco histórico para a TV brasileira

Paulistano instala KIT de recepção de TV Digital recebido no centro da capital paulista por ser parte de um dos programas sociais

O último minuto da quarta-feira, 29 de março de 2017, ficará marcado na história da televisão paulista como o momento no qual as emissões analógicas de TV foram encerradas. Às 23h59, todas as estações, fossem elas emissoras ou retransmissoras, retiraram as suas programações de seus canais analógicos, os quais não serão mais religados.
No entanto, e como já vinha acontecendo desde há algum tempo – até vários anos em alguns casos – a mesma programação, com mais qualidade (HDTV), ficou disponível em formato digital, no canal realocado da emissora. Este longo processo começou em 2006 quando o então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva assinou o primeiro decreto que estabelecia a incorporação da TV Digital ao modelo de telecomunicações brasileiro.
São Paulo foi a primeira cidade no país a iniciar suas transmissões digitais de televisão. As primeiras transmissões oficiais da TV Digital aconteceram no dia 2 de dezembro de 2007. De lá para cá, as emissoras realizaram grandes investimentos em infraestruturas de transmissão digital e de produção de conteúdo em alta definição (HD). O que começou em São Paulo, em 2007, tem se difundido para o país. O desligamento de São Paulo foi o término de uma importante etapa que começou há quase 10 anos, afirmam os diretores de 37engenharia das principais emissoras paulistas.
Assim, a região metropolitana de São Paulo passou a assistir aos canais abertos de televisão apenas pelo sinal digital. A homologação foi feita pelo Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, e pelo presidente da Anatel, Juarez Quadros, após apresentação do índice de 90% em pesquisa de aferição realizada pelo Ibope e concluída no dia 22 de março. De acordo com projeção realizada por estatísticos, 92% dos domicílios da região estavam preparados para o sinal digital de televisão no dia do desligamento.
Para autorizar o desligamento do sinal analógico em São Paulo e 38 municípios, o Grupo de Implantação da TV Digital (Gired) levou em consideração os resultados da pesquisa Ibope que aponta que 90% dos domicílios da Grande São Paulo estão preparados para receber o sinal digital. A Portaria nº 378/2016, do MCTIC, estabelece o índice mínimo de 93% dos lares com acesso ao sinal digital para que o desligamento do sinal analógico ocorra nos municípios. Como a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, o Gired entendeu que o mínimo exigido foi atingido. Com o fim das transmissões analógicas, a previsão é que o índice da população coberta por algum tipo de sistema de recepção de sinal de TV será de 95%. Isso inclui, por exemplo, os domicílios que possuem TV parabólica.
O desligamento foi possível após o ministro Kassab e o presidente da Anatel assinarem a portaria que autorizou o desligamento da TV analógica em São Paulo, em uma cerimônia de homologação do desligamento da transmissão analógica em São Paulo e cidades do entorno realizado na sede do Ministério, em Brasília.
Kassab destacou os bons resultados do processo de desligamento. “Somos um case de sucesso. Cerca de 30 milhões de pessoas serão beneficiadas com uma TV de mais qualidade de imagem e serviço. A TV é o grande instrumento de entretenimento. Os telespectadores vão perceber a mudança a partir de amanhã. Vai ser criado um clima de muita alegria e satisfação. A EAD está preparada para atender a população com os conversores. Este momento é muito especial. A experiência vai se acumulando e o sucesso fica assim assegurado”.
Para Quadros esta foi “uma data importantíssima. A TV aberta brasileira é uma das melhores do mundo. O Estado assumiu o ônus da distribuição dos kits para os beneficiários de programas sociais, que foi partilhado com as empresas de radiodifusão. A Grande São Paulo possui 22 milhões de habitantes, são cerca de sete milhões de domicílios. Foi mais uma etapa vencida”.
Quadros disse aos jornalistas que mais de um milhão de kits contendo conversor e antena já foram entregues pela Seja Digital a famílias inscritas em programas sociais, processo que continuará pelos próximos 45 dias. “Basta ir aos postos de distribuição para retirar os kits, não há necessidade de correria; há kits em estoque, os equipamentos estão disponíveis para entrega”, explicou o presidente da Anatel, lembrando que, com a transição do sinal analógico para o digital, os ganhos decorrentes da melhoria da qualidade do sinal são significativos.
O coordenador do Grupo de Trabalho de Switch-off da SET, Rafael Leal afirma que “o desligamento do sinal analógico é um importante marco para os profissionais de televisão de todo o país. Foi um momento históEspecialrico na evolução tecnológica da televisão brasileira e de muito orgulho para todos os profissionais que, de alguma forma, contribuíram para o processo de transição do analógico para o digital. Com a evolução tecnológica das novas mídias e o surgimento de diversas formas de assistir aos conteúdos audiovisuais, era natural que a “boa e velha” televisão analógica também passasse por seu processo evolutivo. A TV Digital está aí, disponível para mais de 70% da população com uma qualidade incrível de som e imagem. Iniciei minha carreira em 2006 e já entrei no universo da televisão digital apesar da feliz e saudosa convivência com nossos bons transmissores analógicos.
Chegou a hora de começar a concluir mais um capítulo das tecnologias das comunicações nacionais, pensar nos próximos passos e seguir em frente. Ainda temos grandes desafios e precisaremos, assim como acabamos de fazer em São Paulo, planejar e pensar nas melhores formas para que a transição tecnológica seja a mais tranquila possível para a população em todas as regiões que estão por vir, que são muitas”.
Por sua parte, o presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Tonet, afirmou que o encerramento das transmissões analógicas em São Paulo é mais uma etapa num processo importantíssimo, mas ressaltou que há muito a fazer, pois o Brasil é muito grande e muito diverso. Também presente à cerimônia de assinatura da portaria, Luiz Claudio Costa, presidente da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), afirmou que o Brasil está conseguindo êxito no desligamento da TV analógica e que o país tem sido um exemplo neste processo.
“O governo tomou a frente e deu o ponto de partida no processo. Todos nós, radiodifusores e teles, fizemos o nosso dever de casa. O que estamos fazendo aqui hoje é um grande exemplo para esse país como um todo. Hoje, à meia-noite, São Paulo dá um grande passo em direção ao progresso, ao futuro da sua radiodifusão, e eu tenho certeza que será assim no Brasil inteiro”, disse Costa.
Apesar de algumas regiões do mundo á terem desligado os seus sinais analógicos de TV – Europa, por exemplo – este “foi um dos maiores desligamentos simultâneos realizados no planeta. Para superar este desafio, nos inserimos nas comunidades da região metropolitana de São Paulo com uma campanha de comunicação robusta, além de ações junto à população de menor renda”, afirmou o diretor geral da Seja Digital, Antonio Carlos Martelletto.
O executivo explicou que a Seja Digital (EAD – Entidade Administradora do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais TV e RTV) – responsável por distribuir kits gratuitos com antena, conversor e controle remoto às famílias cadastradas em programas sociais do Governo Federal – já entregou mais de um milhão de kits gratuitos. “Vamos continuar na região por pelo menos mais 45 dias para atender à população e distribuir os kits para as famílias que ainda não puderam retirar”, afirma Martelletto. “Esta é uma etapa do processo e trabalhamos para chegar a 100% de digitalização. Nosso objetivo é não deixar ninguém para trás.”
A Seja Digital tem a expectativa de alcançar esse índice em até 60 dias após o desligamento.
Além do município de São Paulo, o maior do Brasil, foram encerradas as transmissões analógicas de TV nos municípios de Arujá, Barueri, Biritiba Mirim, Caieiras, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Diadema, Embu, Embu-Guaçu, Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Franco da Rocha, Guararema, Guarulhos, Ibiúna, Itapecerica da Serra, Itapevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Mairiporã, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Poá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Salesópolis, Santa Isabel, Santana de Parnaíba, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Lourenço da Serra, Suzano, Taboão da Serra e Vargem Grande Paulista.

Seja Digital distribuiu em São Paulo até o último 3 de abril de 2017, 1.204.901 kit de TV Digital de um universo total de 1.956.605 em São Paulo e os 38 municípios da área metropolitana

 

Cronograma de desligamento analógico
Conforme o cronograma definido pelo Governo Federal, até o final de 2018, os sinais analógicos serão desligados em 1.326 municípios brasileiros. Entre 2018 e 2023, o resto do país também desligará os seus sinais analógicos. “Temos que estar bem atentos ao cronograma e trabalharmos de forma intensa para que o nível de conhecimento da população seja o maior possível nos dias que antecederão os desligamentos em cada cidade brasileira. É um assunto complexo para grande parte da população e nós, profissionais do setor, temos a responsabilidade de compartilhar informações e conhecimentos sobre todo o processo. A SET cumpre o importante papel de disseminar essas informações aos profissionais do setor. O quanto mais próximo da população estivermos, melhor será e mais tranquilos estaremos para encarar os desafios do desligamento. O cronograma de desligamento dos sinais analógicos pode ser consultado através das portarias ministeriais nº 378, nº 1.714 e nº 3.493”, afirma a entidade.
A próxima capital a ser desligada será Goiânia, onde as transmissões analógicas deverão ser encerradas no dia 31 de maio.

O kit gratuito com antena e conversor é destinado aos beneficiários de Programas Sociais do Governo Federal como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Tarifa Social de Energia Elétrica e muitos outros

O espectro radiofônico livre
O espectro eletromagnético é um bem da União e é utilizado seguindo políticas públicas com base nas recomendações da União Internacional de Telecomunicações (UIT), afirma a SET. A utilização destes canais dependerá da política nacional escolhida pelo governo brasileiro. Em 2014, tivemos o leilão de parte do espectro onde operavam alguns canais de TV, canais acima do canal 52 (faixa de 700 MHz), e que foram remanejados para as faixas mais baixas. “Sabemos também que em diversas cidades, os canais 5 e 6, hoje utilizados pelos canais analógicos, serão destinados após o desligamento para a migração das rádios do AM para o FM. Acredito que a SET seja o lugar adequado para o estudo e a elaboração de propostas visando a utilização do espectro restante em prol do futuro da TV”.

Um pouco de história
No dia 29 de junho de 2006 o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva expediu o decreto 5.820 que criava o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTV-D-T) e o Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial (Serviços Integrados de Radiodifusão Digital Terrestre), ISDB-T na sigla em inglês.
O decreto também estipulava as diretrizes que deveriam ser seguidas para a migração do sistema de transmissão do sinal analógico para o digital.
No artigo sexto do decreto se estabelecia que por meio do SBTVD-T seria possível a transmissão Digital em Alta Definição (HDTV) e em Definição Padrão (SDTV); transmissão Digital simultânea para recepção fixa, móvel e portátil; e interatividade. Este último tópico tem se mostrado, com o correr dos anos e as mudanças no consumo audiovisual, o maior desafio das emissoras, uma vez que o público está cada vez mais segmentado e conectado a outras plataformas.
O processo de transmissão de sinal Digital teve início no Brasil em 2007. Contudo, o processo de desligamento do sinal analógico só aconteceu quase 10 anos depois, com o desligamento em caráter de teste da cidade de Rio Verde (GO), marco do projeto-piloto criado pelo MiniCom e a Anatel, sendo o primeiro município a desligar o sinal analógico.

* Com Agência Brasil, MCTIC e Anatel