NAB 2018: Convergência de soluções transparentes
A edição 2018 da maior feira da indústria audiovisual do mundo mostrou que, em uma era de mudanças tecnológicas e sociais disruptivas, é necessário pensar de forma mais global, aberta e pragmática, trabalhando para gerar soluções compartilhadas, simples e agnósticas que foquem na experiência do usuário e utilizem tanto IoT como IA
por Fernando Moura, em Las Vegas
O mundo está em mudança, talvez estejamos entrando em uma nova Era. A convergência já é uma realidade, não só tecnológica senão de hábitos e consumos, por isso termos como “storytelling”, palavra de origem inglesa relacionada às narrativas e historias relevantes, já faz parte do evento, que aos poucos passa de ser a NABShow para ser a M.E.T Effect, onde se juntam e convergem o mundo broadcast e o broadband que avança para uma indústria “tell a story”, que não é outra coisa que “contar uma história” desde a ótica do storyteller, ou seja, do contador de histórias. Uma indústria híbrida e cada dia mais transparente.
A indústria audiovisual e as subdivisões que a atravessaram desde a invenção do cinema no final do século XIX parecem ter ficado para trás. Já não percebemos nos pavilhões no Las Vegas Convention Center – são três – com espaços reservados apenas para cinema ou TV nas suas mais diversas modalidades – PayTV, TV Everywhere, OTT, VoD, DTH, entre outras – mas sim, soluções para produção de conteúdo. Hoje as empresas desenvolvem “soluções” ou “micro soluções” para oferecer investimentos em OPEX ou CAPEX, sejam de hardware ou software, onde as necessidades dos clientes/usuários se tornam cada dia mais “customizadas” e personalizadas.
Assim, chegamos à “convergência de soluções com máxima transparência para o usuário”, frase de Gilvani Moletta, diretor de Tecnologia da TV Cultura de São Paulo. E à observação de Nivelle Daou Jr, Vice-presidente de Tecnologia da Fundação Rede Amazônica e diretor da SET Norte: “Não vi grandes disrupções, observei mudanças, avanços e sobretudo empresas oferecendo micro soluções integradas. A indústria está mudando muito rapidamente”. Observações que sintetizam a última edição da NAB, que se realizou em Las Vegas de 7 a 12 de abril de 2018.
Por sua parte, Felipe Andrade, agora gerente da unidade de Negócio, Produção, Infraestrutura e Playout da AD Digital, afirmou que presenciamos “uma indústria em plena transformação. Emissoras tendo que repensar seus modelos de negócios, já que agora a receita publicitária está dispersa em muitos outros canais e plataformas, diluindo seu fluxo de receita tradicional. Para criar valor, alguns investem na produção de conteúdo próprio e distribuição multiplataformas, obtendo retornos que compensam a perda do modelo tradicional”.
Para Andrade, nessa transformação os fabricantes estão passando por fusões e aquisições numa tentativa clara de desfragmentação da indústria, tendo que adaptar novas tecnologias às novas receitas e necessidades do mercado. Produtos proprietários dando lugar a soluções agnósticas, baseadas, praticamente todas, em software, apoiadas em servidores COTS, com possibilidade de virtualização e uso na nuvem, além do uso quase unânime da tecnologia IP. E, por último, uma expansão de novos players que até então não faziam parte deste jogo. Empresas como Google, Amazon e Facebook passando a ocupar um espaço importante, muito mais interessados em oferecer uma experiência de serviço com qualidade e interatividade do que propriamente discutir os meios para chegar a este fim”.
Nesse contexto, da NAB 2018 fica a sensação de que a corrida pela qualidade não para e nem vai parar. Vão se cumprindo passos, se avança e retrocede em alguns pontos, mas na Copa do Mundo da Rússia, que se realizará em junho, os jogos serão produzidos e transmitidos em 4K para todo o mundo. Os Jogos Olímpicos Tóquio 2020 serão produzidos em 8K, e a NHK fará, como na Rio 2016, teste de produções em 8K para o Japão. Para isso, precisamos maiores sensores, maiores CCUs, monitores, e uma nova imersão, que aos poucos está chegando. Finalmente, destaque também para os desenvolvimentos de Inteligência Artificial (AI) e o avanço de solução para IoT (Internet das Coisas).
A NAB em números
A edição 2018 da NAB contou com a participação de mais de 1.700 empresas, incluindo 819 expositores internacionais e algumas das principais marcas do mundo, incluindo Sony, Blackmagic, Canon, Nikon, Imagine, Panasonic, Cisco, Ericsson, Google, Facebook, IBM, Imagine, Grass Valley – A Belden Brand, Microsoft, Panasonic, AWS Elementar, Adobe, Avid e Sharp. Nesta edição participaram pela primeira vez 244 empresas que estiveram espalhadas nos quase um milhão de metros quadrados de exposição dos 3 pavilhões do Las Vegas Convention Center ocupados pela feira. Entre as marcas debutantes, destaque para Sohonet, Apalya Technologies Pvt., Qencode, Audinate, Backblaze, Densitron, LumaForge, Quantiphi, Red Bee Media, StreamShark, entre outras.
Chris Brown, VP executivo de Convenções e Operações da NAB, disse que os participantes vêm de todo o mundo para ver em primeira mão as tecnologias de ponta dessas empresas e soluções práticas de negócios. E, por isso, segundo ele, é essencial que a entidade continue inovando para que os produtores de conteúdos avancem na “criação, distribuição e recepção desses produtos audiovisuais”.
Brasil em destaque
A NAB 2018 novamente teve o Brasil e as produções da Globo como destaque de vários estandes e em conferências do Congresso NAB 2018.
No estande e na coletiva de imprensa da Sony, vimos a Globo numa apresentação à imprensa internacional da produção em 8K 120P HDR do último Carnaval do Rio de Janeiro 2018, que foi realizada em parceria com a TV Globo e projetada em uma tela denominada Black Canvas, uma “redefinição de displays gigantes” com estrutura modular de Crystal Led Integrado de 17 7/8” (463.6mm) x 15 7/8” (403.2mm).
No estande da Intel, outra vez a Globo esteve numa experiência incrível de realidade virtual com soundround imersivo na passagem da Vila Isabel no Carnaval do Rio 2018. Ravi Velhal, diretor de Política e Padrões de Tecnologia e Pesquisador da Intel, disse à Revista da SET que a experiência 8K no Carnaval do Rio é um “avanço fundamental nas produções imersivas em 8K 360. Estamos desenvolvendo soluções de realidade virtual como a produção do filme “Dunkirk”, de Christopher Nolan, mas esta é uma experiência real que mostramos aos visitantes da NAB”.
A reportagem observou os dois conteúdos de alta qualidade, um de ficção e computação gráfica, “Dunkirk”, que realmente estabelece outro parâmetro no VR no cinema, mas a sensação das imagens captadas na Marquês de Sapucaí mudam o olhar sobre os conteúdos audiovisuais. Como disse Velhal, “8K VR imersivo é uma nova forma de produzir conteúdo, uma nova forma de contar histórias”.
Fernando Moura é professor da Universidade Anhembi Morumbi e da PUC-Campinas