Entrevista: Marco Túlio Nascimento fala sobre o GT de Rádio da SET

Marco Túlio Nascimento. Foto: SET

O engenheiro de Telecomunicações Marco Túlio Nascimento é um apaixonado pelo meio rádio e tem se dedicado, nos últimos anos, às transformações tecnológicas e de consumo de áudio por meio da sua media tech Zydigital. Na SET, ele divide a coordenação do Grupo de Trabalho de Rádio com o engenheiro e consultor Eduardo Cappia. O GT é dividido em dois sub-grupos: Regulatório, a cargo de Cappia, e Tecnologia, a cargo de Nascimento.

Na entrevista a seguir, ele faz uma avaliação do meio rádio diante das transformações tecnológicas, da pandemia e fala sobre o papel da SET neste cenário. “O GT de Rádio da SET se tornou o único fórum de abrangência nacional para a discussão de tecnologias associadas à mídia áudio, seja ela no formato rádio ou online. O grupo é um indutor do desenvolvimento dos profissionais do setor e, por consequência, da própria indústria nacional de conteúdo de áudio”, diz ele.

SET – Como você avalia o engajamento dos profissionais e empresas nas discussões sobre a evolução das tecnologias de rádio? 

Marco Túlio Nascimento – Os profissionais de rádio são dedicados e comprometidos com as emissoras em que trabalham ou prestam serviços. É um clichê, mas diria que são apaixonados pelo que fazem. A determinação em manter a rádio em operação em qualquer condição e o compromisso em oferecer sempre um serviço de qualidade para o público é o que motiva estes profissionais.É um envolvimento emocional com a emissora que se evidencia na vontade de vencer os desafios, manter a empresa em crescimento e continuar prestando serviços cada vez melhores.

Porém, o cenário é desafiador. A transformação digital colocou a mídia tradicional em cheque, assim como fez com outras indústrias estabelecidas. Alguns modelos de negócio tradicionais simplesmente não resistiram às transformações e foram substituídos por outros, nativos do ambiente digital. Os profissionais reconhecem estas transformações no ambiente competitivo do rádio e sabem que elas têm grande poder de impactar o negócio.

Não se sabe ao certo a resposta estratégica para isto mas todos concordam que, seja qual for o caminho a seguir, ele passa fortemente por tecnologia.

SET – No caso da tecnologia em si, quais são as mudanças mais relevantes que podem ser ressaltadas?  

MTN – Entendo que há, ao menos, três grandes frentes de transformação. A primeira diz respeito à necessidade de aumentar substancialmente a eficiência da produção de conteúdo e das operações da empresa. Estão nesta área as plataformas de produção, automação e gestão. O desafio: integrar cada vez mais todas elas.

A segunda, é o canal tradicional de distribuição do conteúdo da rádio ou, mais simplesmente, o seu sistema de transmissão OTA (over-the-air). Nesta área, o rádio híbrido é o caso mais relevante. Combinando a transmissão de áudio pelo ar e de dados pela internet, as tecnologias de rádio híbrido tornam a experiência do ouvinte mais envolventes e atuais.

Por fim, há as tecnologias voltadas para a distribuição online do conteúdo que a rádio produz e, ainda, que poderá começar a produzir. Neste caso, as possibilidades são ilimitadas, mas podemos citar duas áreas muito importantes. A primeira é o segmento de consumo on-demand, representado principalmente pelos podcasts e todo o ecossistema de tecnologias e modelos de negócios destas plataformas. A segunda área de grandes transformações é a de monetização dos conteúdos de áudio, o segmento de ad-techs, tecnologias de comercialização compatíveis com a realidade atual do mundo digital (possibilidades de refinamento de targeting, atribuição etc).

SET – Quais os fatores que impactam na adoção dessas tecnologias?

MTN – O setor de rádio é formado majoritariamente por empresas independentes de médio e pequeno porte, com baixa capacidade de investimento. Por outro lado, agindo de forma isolada, elas têm pouco poder de barganha quando se trata de competir no ambiente digital com empresas de grande porte e alcance internacional (Spotify, Apple, Google, Facebook…) e os novos e potentes entrantes nacionais na área de conteúdo de áudio (TVs, grandes jornais e revistas…). Isto compromete a fatia de mercado da emissora e comprime ainda mais a sua capacidade de investimento. Este cenário de ciclo vicioso poderia ser revertido por uma ação articulada das emissoras para defender o setor e, coletivamente, alcançar ganhos de escala que fortaleçam os seus resultados e viabilizem maiores investimentos.

SET – Como a pandemia afetou este desenvolvimento até o momento?

MTN – A economia mundial parou e os investimentos foram congelados. Porém, estamos sendo forçados a passar para um nível maior de eficiência e isto está acontecendo. É também um tempo de aprendizado e reavaliação de estratégias.

SET – Você acredita que o GT é uma iniciativa que consegue influenciar o mercado? De que forma?

MTN – Sem dúvida. O GT de Rádio é formado por um time de profissionais de rádio de alto nível, representativo dos diferentes segmentos do mercado e de diversas regiões do país. O resultado do trabalho do grupo é a ampliação da base de conhecimento de todos, que acabará se refletindo positivamente dentro das empresas nas quais estes profissionais atuam. Assim, de forma indireta, o grupo cumpre um papel ainda mais fundamental de promover a articulação das emissoras e o crescimento do setor.

SET – Quantos profissionais estão engajados no GT neste momento? Há espaço para novos interessados?

MTN – O GT começou com um grupo de 15 profissionais e está crescendo. É um grupo aberto aos associados da SET e todos são muito bem-vindos!

SET – Quais os próximos passos do GT?

MTN – Com a liderança do Eduardo Cappia, o sub-grupo de aspectos Regulatórios está bem consolidado e já avançou bastante no debate sobre as mudanças que estão em curso nas normas e regulamentos do rádio. O próximo passo é ampliar a atuação do sub-grupo que lidero, o de Tecnologia, com uma pauta que inclui o rádio híbrido e o áudio online. Esperamos também ampliar o espectro de profissionais que integram o grupo com novos membros dos setores de mídia digital.

SET – Qual a importância da SET em manter o GT e dos profissionais se reunirem para discutirem esses assuntos?

MTN – O GT de Rádio da SET se tornou o único fórum de abrangência nacional para a discussão de tecnologias associadas à mídia áudio, seja ela no formato rádio ou online. O grupo é um indutor do desenvolvimento dos profissionais do setor e, por consequência, da própria indústria nacional de conteúdo de áudio.