Chris Brown, VP da NAB: “nós temos uma ótima parceria com a SET”

Chris Brown, vice-presidente da NAB, em entrevista para a SET. Foto: Tainara Rebelo.

O futuro da tecnologia está acontecendo diante dos nossos olhos. Para acompanhar todas essas mudanças, precisamos estar atentos às tendências e possibilidades que surgem diariamente em todo o mercado, da produção à entrega. Ano a ano, o NAB Show tem se firmado como o principal evento de tecnologia do mundo. Em meio a tão velozes atualizações, como selecionar o que será apresentado durante o evento, e quais as principais preocupações de seus organizadores? A SET conversou com o vice-presidente da NAB, Chris Brown, que além de comentar essas questões, enumerou assuntos que não podemos deixar de acompanhar nesta edição. A seguir, você confere a entrevista.

O NAB show funciona como um termômetro do mercado de tecnologia. O mundo inteiro se reúne aqui para saber as novidades de mercado e tendências de serviços e produtos. O que podemos destacar de mais importante na programação deste ano?

Temos muitas novidades sobre como a tecnologia e o mercado têm evoluído. Neste cenário no qual trabalhamos, as coisas evoluem com extrema rapidez e precisamos estar atentos para desenvolver novas tecnologias, o que têm acontecido. Destaco para este ano no NAB Show novos aspectos sobre consumo de mídia. Estamos falando sobre multiplataforma e como as pessoas querem consumir conteúdo em diversos aparelhos. E ainda, o que os criadores de conteúdo têm feito de diferente para acompanhar este mercado. Também aumentamos o pavilhão de Realidade Virtual para incluir realidade mista e variantes diretamente para o consumo. Os visitantes vão poder ver também muitas atrações sobre “data” e inteligência artificial.

No formato, mudamos a maneira de como as “general sessions” acontecem. Não são mais nos hotéis próximos, trouxemos para dentro do Centro de convenções. Esta programação está bem especial e começa na segunda (09). Temos um painel sobre os bastidores de Star Wars que é imperdível. A Inteligência Artificial e o ATSC 3.0 ganharam uma área interativa, mais focada em aplicação. Storytelling também é novidade, ganhou um pavilhão este ano pelo destaque que vem ganhando na produção de conteúdo.

Na inovação, tenho alguns destaques: fizemos uma área com produtos que deverão estar no mercado daqui a cinco anos. As startups estarão divididas em dois pavilhões: um de empresas que levarão 12 meses para estar no ar, e outras no pavilhão “Sprockit”, com ideias que são realmente disruptivas e serão importantes fontes de inspiração. Demos ainda um foco em “advertising” porque estão surgindo cada vez novidades neste setor.

Para os painéis, acho importante focar no tema e-sports. Não é mais uma novidade, mas está maior e agora faz parte da sessão de negócios porque as corporações estão investindo e muito dinheiro está circulando neste setor, o chamado e-sports business. Tem sempre muito dinheiro envolvido neste assunto porque sempre há investimento em novas tecnologias para testar novas plataformas para as futuras gerações. Serão seis ou sete novos temas focados em novas audiências e novas tecnologias nesse sentido.

Estamos cada vez mais focados na convergência digital. No futuro, o NAB Show também será menos presencial e mais virtual?

Boa pergunta. Eu penso uma coisa: que estaremos aqui ainda por um bom tempo, mas em um momento as coisas serão virtuais porque a tecnologia caminha para isso, a internet facilita isso, sem dúvidas. Entretanto, nós somos humanos e precisamos desse contato pessoal, uma interação. Mas o nosso negócio é altamente profissional e as pessoas gostam de fechar negociação cara a cara, com quem eles confiam. Sei que em breve mais algumas coisas que poderão ser feitas inteiramente online, como algumas pesquisas. Por hora, estamos aumentando a nossa transmissão em streaming, então as pessoas que não estão aqui podem ver um pouco do que acontece no evento. Estamos tentando dar um outro formato aos assuntos transmitidos online por meio de inovações em captação de imagens, para diferenciar do que o visitante vê aqui. Acredito que a tendência é explorarmos cada vez mais essas possibilidades.

As pessoas estão ocupadas desenvolvendo novas ideias para que possamos usar no futuro, e isso é ótimo! Mas por outro lado, também é por isso que muitas delas não conseguem vir até o evento. Nós estamos dispostos a explorar mais essas ferramentas para chegar até essas pessoas também pelas redes sociais, até porque, muito do que acontece aqui termina com o final do evento. E se pudermos gravar tudo isso, elas continuam vivas.

Falando em público. Qual é a presença estimada para este ano?

Nós estamos esperando para ver o número final de inscrições do evento, mas já temos perto de 100 mil, 100 mil e duzentas pessoas, vai ser em torno dessa média ou um pouco menos. Pela primeira vez em alguns anos tivemos um pouco menos de inscrições. Nos últimos três a quatro anos nosso público final foi de cerca de 100 mil e 200, 100 mil e 300 pessoas.

É possível  visualizar um motivo claro para esta redução de público?

Acho que isso reflete toda essa disrupção que falamos anteriormente. Outro fator é que muitas pessoas estão finalizando seus negócios para abrir outros focados em novas tecnologias, e há também muita consolidação de empresas. Elas estão se fundindo e ficando maiores para serem mais competitivas no mercado. E se você não tem tamanho, as vezes fica difícil participar disso.

Na tendência internacional, parece que estamos indo bem também. Ano passado tivemos em torno de 26 mil inscrições estrangeiras, e essa média está acima dos outros eventos. Esse ano me parece que estamos na mesma média, ou pouca coisa a menos, e isso reflete todos os novos modelos de negócios que estão acontecendo no mundo, gerando impacto econômico em diversos países. Para nós é muito importante ter essa presença aqui.

A delegação brasileira foi a segunda em número de inscritos no ano passado. Como está a nossa participação este ano? Permanecemos no topo?

Tenho certeza que continua no top 5 de maiores delegações que temos, e isso é muito importante para que possamos entender o mercado brasileiro também. A delegação brasileira cresce a cada ano e nós vamos conhecendo vocês um pouco mais. Nós temos ótima parceria com a SET. Na verdade, é uma parceria que não temos com mais ninguém, mais firme do que com qualquer outra, arrisco dizer. O SET e Trinta é um dos mais antigos cafés da manhã que temos. E por causa disso, hoje mantemos mais de 160 conferências internas tais como o SET e Trinta durante o NAB Show, mas em menor dimensão, com um dia ou algumas horas de duração. Obviamente existem barreiras de comunicação, então é difícil para a gente dizer que todas podem ser igualmente absorvidas pela NAB, mas o que a SET faz no SET e Trinta, por exemplo, é brilhante. O conteúdo interessa a praticamente toda a delegação brasileira que vem ao evento e possui palestrantes brilhantes que são compartilhados pelo seminário da própria NAB Show. Considero uma oportunidade fantástica.

No ano passado você me disse que o NAB Show vinha internacionalizando sua participação ao redor do mundo. Como têm sido essa experiência e como isso o faz se tornar ainda mais competitivo, se comparado com outros eventos internacionais de tecnologia, como o IBC?

No ano passado demos um grande passo: estreamos o nosso evento em Xangai, na China, e pretendemos continuar com com ele. Inclusive, acontece em junho este ano. Essa experiência nos permitiu aprender muito sobre como o mercado global sobrevive e em que estágio está. Estamos aprendendo um com o outro, em termos globais, quem está fazendo o quê e o que pode funcionar em cada mercado. A China é um mercado interessante porque eles estão começando a abrir mais oportunidades em broadcast e mídias digitais. Assim como na América do Sul, as demandas são diferentes. Mas posso afirmar que nós fomos além do que pensamos. Com isso estamos ampliando e melhorando nosso conteúdo nos outros eventos também e elevando o nosso nível.

Uma das novidades deste ano vem diretamente do conteúdo, o storytelling. O que podemos entender com este recurso no mercado de tecnologia?

Acredito que é um clássico exemplo da convergência digital e sobre como o conteúdo passou a ser sido produzido e entregue. Hoje, as redes sociais são realmente ferramentas de trabalho. Empresas como Google, Amazon e Netflix têm investido pesado em criação de conteúdo não só nos Estados Unidos, mas também fora daqui. Os criadores de conteúdo têm ótimas ideias e agora mais lugares para contá-las, além de liberdade com formato e tamanho. Todas essas novidades em mídias sociais estão abrindo espaço para o storytelling, porque há mais aceitação com estes formatos e, consequentemente, as pessoas estão se empenhando em usar essas técnicas.

Temos que entender que hoje em dia nada mais é linear ou simples, tudo acaba envolvendo uma gama de criatividade para se tornar tendência de mercado. Sem contar que a indústria de software também se aprimora. As técnicas vão se popularizando e mais pessoas vão sendo envolvidas do início ao fim nessa criação. O resultado é a mistura de realidade virtual e realidade mista sendo envolvida na maneira de criar conteúdo. Com isso, mexe-se todo o mercado para que essas histórias sejam encontradas e contadas.

A própria técnica do machine learning tem evoluído com muita rapidez. As possibilidades são fantásticas e está cada vez mais fácil de ser criativo. Entretanto, é preciso ter muita responsabilidade com isso, sem contar a segurança de toda essa convergência de informação.

E como fica a segurança de tudo isso? As coisas estão acontecendo cada vez mais rápido e online. Qual postura o mercado deve adotar para garantir que esse conteúdo e informações permaneçam seguras na rede?

Existem ótimas possibilidades, masas pessoas ainda estão descobrindo o que pode ser feito e explorando ferramentas e softwares para aprimorar o que já existe. “Não-engenheiros” estão salvando suas informações na nuvem. Acredite ou não, nós temos um novo programa com um parceiro este ano sobre segurança da informação para não-profissionais de TI. Porque hoje acreditamos que não é mais um assunto restrito a eles, mas toda a equipe tem que saber o que fazer para proteger os dados que estão sendo produzidos. Os profissionais estão trabalhando para encontrar uma solução perfeita, mas é tudo muito delicado. Neste ano, para tratar do assunto, vamos ter um evento paralelo, a Cúpula de Proteção de Conteúdo e Cibersegurança CDSA, promovido pela MESA (Media & Entertainment Services Alliance). É um assunto que temos que estar de olho e entendendo cada vez mais.

E quais são os planos da NAB para o futuro?

Nos precisamos continuar a evoluir e a construir parcerias com outras entidades que tenham a ver com a NAB, não só na feira, mas também no congresso. Vamos evoluir no que for preciso. Precisamos nos mover rápido em direção ao que é novo. Dar oportunidades de trabalhar de maneiras diferentes com as Empresas. Para nós, isso significa estar em contato com o que também impacta no nosso dia a dia. Para você ter uma ideia, depois de fecharmos os tracks do evento, levamos cerca de umas duas semanas para fechar os assuntos que estarão de fato na programação. Esse cuidado é importante para escolher com cuidado o que será mostrado e ter a certeza de que todo o evento será importante.

São atitudes óbvias, mas na verdade não tão obvias quando você para para pensar. As coisas explodem e depois param de emergir, até que voltam com tudo. Para não levar este susto, precisamos monitorar, então nosso escopo de trabalho cresce a cada ano. Um exemplo disso é o 4k e 8k, e a infraestrutura em IP. Tem muita coisa evoluindo nisso todo dia, mas não é algo totalmente novo. Nossa mente fica trabalhando o tempo todo para não perder tudo isso até porque o mercado não para, então o NAB Show não para depois que o evento acaba.

Entrevista: Tainara Rebelo, em Las Vegas