RioContentMarket reuniu 3.200 profissionais do audiovisual brasileiro e internacional em três dias de palestras e rodadas de negócios no Rio de Janeiro.

Nº 141 – Abril/Maio 2014

Por Fernando Moura no Rio de Janeiro

Reportagem

Evento reúne 3.200 profissionais do setor audiovisual brasileiro e internacional no Rio de Janeiro. Nesta reportagem analisamos as palestras organizadas pela SET que trataram a evolução da tecnologia 4K, os novos conteúdos e plataformas de mídia e faremos uma análise do mercado. Evento é o primeiro de uma nova parceria entre a SET e a ABPITV

RioContentMarket realizado no Rio de Janeiro de 12 a 14 de março de 2014 reuniu mais de 3 mil profissionais do setor audiovisual vindos de todos os cantos do Brasil, alguns países da América Latina, Europa e África e permitiu a realização de negócios e novas parcerias do audiovisual brasileiro e internacional. O evento teve exposição de conteúdo, reuniões de negócios, apresentações de projetos em pitching e das principais tendências do setor.
A edição 2014 do evento contou com um aumento de 30% do público em relação a 2013, e trouxe a capital fluminense palestrantes como Dan Weiss, um dos criadores da série Game of Thrones; o filósofo francês Pierre Lévy, especialista em cibercultura; e Gideon Raff, de Homeland. A especialista em cibercultura, Lucinda Axelsson, produtora da BBC Natural History Unit responsável pela série “Wild Brazil” da BBC, e Hellen Hawkin, diretora de programação da Discovery Networks International, entre outras personalidades.
Em entrevista a Revista da SET o conselheiro da ABPITV, Leonardo Dourado, explicou que o acordo de cooperação entre as entidades no início de fevereiro de 2014 será fundamental para unir todos os elos do sistema produtivo. “Agora podemos unir toda a cadeia de valor, porque nós podemos ter a ideia, mas precisamos da engenharia para dar suporte a essa ideia tanto na hora da produção como da distribuição”.
Para o diretor da RioFilme, Adrien Muselet, este é um dos maiores encontros da TV mundial. “É importante que executivos venham ao Rio de Janeiro para tomar esse tipo de decisão. É um evento sério, com qualidade impressionante”.
Museket afirmou que a RioFilme ampliou o alcance das suas políticas. “Elevamos o número de filmes investidos lançados, o público cresceu significativamente.
Em 2013 implantamos para as áreas de cine e TV um sistema de aprovação automático, que é impessoal e transparente legitimando a nossa escolha. Assim, os resultados dos mecanismos automáticos permitiram financiar 23 projetos para 19 empresas. Desses, em um deles se investiu R$ 1,6 milhões que renderam R$ 54,4 milhões em bilheteria. Em TV nunca tínhamos investido automaticamente. Se investiu R$ 6.9 milhões, em 12 projetos de 8 produtoras para 7 canais e 4 programadoras e os resultados foram ótimos”.

4K, tecnologia de imagem e Cop
No evento, a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) coordenou dois painéis. O primeiro painel “Tecnologia da Imagem” foi moderado pelo vice- -presidente da SET, Nelson Faria, e tratou do impacto das novas tecnologias de captação e transmissão na produção de conteúdo audiovisual. O painel abordou também como o 4K será utilizado nos jogos da Copa do Mundo e em transmissões ao vivo, além de sua viabilidade para produções de ficção.
O painel esteve composto por Erick Soares de Oliveira, engenheiro especializado em tecnologias e produtos do mercado de broadcast e Sales Support Specialist da Sony do Brasil; o reconhecido fotógrafo de cinema Affonso Beato; e Hertz da Silva, diretor de vendas da Harmonic.
Nelson Faria abriu o painel afirmando que “o 4K será usado por todo o mundo nos próximos tempos” porque “a evolução é necessária. Cada dia ouvimos recursos novos e novas tendências, esta é firme e segura, mas terá um grande impacto na vida da indústria e dos telespectadores que de certeza mudará muito a experiência da TV”.
Erick Soares, interlocutor da Sony afirmou taxativamente que o “4K já é uma realidade, no Japão este ano começarão transmissões via satélite com esta tecnologia e no Brasil não podemos perder tempo”.
Para Soares, esta é a “evolução da produção HD, uma evolução natural e rápida que trará uma serie de benefícios tecnológicos que acabam por ser importantes para o conteúdo final, um conteúdo muito melhorado”.
Esse conteúdo, para Soares tem de ser pensado em duas realidades. “Quando falamos de 4K nos deparamos com duas realidades, dois formatos, um para cinema em 17:9 com 4096×2160, e um de TV, 16×9 com 3840×2160, que na essência fazem pouca diferença”.
Para ele, o que é realmente diferente no 4K “é a complexidade do processo de produção que passa pela captação, pós e finalização e mais tarde, distribuição em um nível até agora impossível de ser pensado”.
O engenheiro da Sony Brasil afirmou que tudo isto foi possível graças a “evolução das câmeras e da tecnologia de captação chegando hoje a um avanço importante no factor tecnológico, aparece um sensor Super 35 mm, e a aplicação de Alta Velocidade ou High Frame Rate”.

De Esq. à Dir.: e Hertz da Silva; Affonso Beato; Erick Soares
de Oliveira e Nelson Faria após a realização da palestra
“Tecnologia da Imagem”.

Hertz da Silva da Harmonic foi menos otimista. Para ele “o 4K pode ser uma grande aposta ou pode passar”, porque ainda hoje “não há padronização de emissão” e na cadeia de valor temos “dificuldades na cadeia de distribuição porque não temos disponíveis processadores para emitir”, dependendo de set-top-box e com isso, “precisamos resolver a compressão, hoje estamos pensando no HEVC, mas o avanço tecnológico não acaba aqui”.
Silva, ainda, questionou a colorimetria da tecnologia 4K e afirmou que “é preciso pensar na colorometria das imagens, e se ela é fiel a cor em 4K. Precisamos padronizar muitas coisas, entre elas, os níveis de cor”. Finalmente, Affonso Beato afirmou aos presentes que na sua carreira fez 50 longas, das quais, a última, “foi a primeira que fiz sem pelicula” e com ela entendi as diferenças que existem entre os dois sistemas. De fato, para Beato, o mais importante e mais complexo foi “entender e usar recursos digitais com o objetivo de mais tarde se transformar em um filme. O conceito muda, é mais flexível”.

Para Celso Araújo, diretor de Cinema da SET, o uso da
tecnologia para desenvolvimento e gestão de conteúdo e
formatos audiovisuais é fundamental na nova etapa da TV.

“Na realização da serie Maysa apreendi os problemas e as vantagens do digital. O mais importante, sem dúvidas, é a monitorização, ela é o fotómetro do diretor de fotografia. O grande trunfo do digital é a monitorização instantânea do produto, já que com monitores bons é possível fazer um desenho de cor, criar um “look” no mesmo momento da gravação”, explicou Beato. Com a produção, em 2012, do “Tempo e o vento” para a TV Globo entrei nua nova geração de produções. Nela, a telenovela da Globo esta fazendo cinema eletrónico transmitida em formato eletronico. Assim, fiz pela primeira vez no mundo um filme neste formato. Pela primeira vez vi como é possível fazer um filme com 16 bits (medida de profundidade de cor) e entender que é possível fazer filmes eletrónicos em 4K”.

Conteúdo e novas plataformas
O painel “Tecnologia e Gestão de Conteúdo” moderado pelo diretor de Cinema da SET, Celso Araújo, tratou o uso da tecnologia para desenvolvimento e gestão de conteúdo e formatos audiovisuais e como essas tecnologias impactam diretamente na produção audiovisual.
As apresentações no painel ficarão a cargo dos seguintes especialistas: André Carreira, produtor executivo e diretor da produtora Camisa Listrada; Giuliano Chiaradia, diretor Artístico da Rede Globo de Televisão, Video Show, e especializado em Conteúdo e Inovação; Marcos Ferreira, sócio diretor da mobCONTENT; e Rodrigo Arnaut, professor, pesquisador de TV – Tecnologia, Inovação e Transmídia da TV Globo, fundador do grupo Era Transmídia e membro da diretoria da SET.
Na palestra, André Carreira afirmou que o setor broadcast esta passando por grandes mudanças, entre elas, “nas produções atuais de externa é preciso ter equipamentos robustos e saber o que vamos produzir, para onde e como? O mundo mudou e quando se produz um conteúdo temos de pensar como rentabiliza-lo”.
Rodrigo Arnaut, apresentou a palestra “inovar a produção e distribuir conteúdos através de Transmídia”, para ele, é preciso pensar a geração de conteúdos de forma global e para isso explicou os passos que um produtor tem de realizar para gerar um projeto transmídia, e quanto custa sair da produção audiovisual chegando a uma participação em diferentes mídias. Valores aproximados que serão investidos na produção das “N mídias complementares”, assim segundo ele, “um filme precisa entre 5 a 10% do seu orçamento” para criar um projeto desse tipo. Porque “a transmídia tem de ter um padrão que nas novas mídias ainda não está definido, por isso, “os custos de distribuição em diferentes mídias é mais caro já que falta estabelecer um padrão”.
Marcos Ferreira, da mobCONTENT na sua palestra, “Tecnologia e gestão de conteúdo”, explicou que hoje trabalhamos com as telcos nos “serviços de valor agregado” destas empresas é muito importante, “talvez o maior recursos que eles têm sejam as Over the Top (OTT) como nova fonte de ingressos”.
Se bem, disse Ferreira, “vivemos em uma era onde nunca foi tão fácil criar e entregar conteúdos ao produto final “ é necessário que “a TV tradicional procure cada vez mais outras mídias porque está mudando a linha do tempo da distribuição lineal”.
Giuliano Chiaradia, Fundador do SET Experimental e diretor da Rede Globo mostrou aos presentes o “Projeto arte mobile” no qual “mapeamos cidades no mundo com celular” e como a Set Experimental é pioneira na produção de conteúdo audiovisual por telefone celular, responsável pela produção independente do primeiro curta mobile na América Latina e os primeiros videoclipes do Brasil usando o mesmo recurso móvel para as bandas Detonautas Roque Clube, Pato Fu, e o rei Roberto Carlos, clipes premiados e gravados com telefone celular.
Em entrevista à Revista da SET, Celso Araújo afirmou que a TV por “uma evolução natural precisa se digitalizar, não só se digitalizar por entregar um conteúdo em alta definição, em formato digital, senão que significa enxergar as oportunidades de convergência com outros meios, e nesse sentido a Segunda Tela, por exemplo, é um exemplo muito bom porque o radiodifusor tem oportunidade de fazer uma sincronização do conteúdo que está sendo exibido com a Segunda Tela que vai proporcionar um espaço extra onde é possível explorar outro tipo de relacionamento com o público”.
Para Araújo é hora de mudanças na TV tradicional, e assumir que “a sincronização com a Segunda Tela apoiando-se na internet e a radiodifusão utilizando os dois de uma maneira equilibrada. Usando o poder da radiodifusão garantindo entrega, e simultaneamente, sem onerar a tua estrutura de internet entregando conteúdo a um número limitado de pessoas. A radiodifusão não tem este limite de entrega, tem a força de chegar a todos os lados, e a internet pode ainda contribuir em maior expansão de entrega desses conteúdos”.

Fernando Moura
Redação: Revista da SET
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A PARCERIA É NATURAL

conselheiro da ABPITV, Leonardo Dourado, afirmou em entrevista à Revista da SET, que a parceria assinada entre a ABPITV e a SET tem como objetivo o intercâmbio de conhecimentos e a participação das associações nos eventos que estas organizam. Para ele, “a parceria é mais do que natural porque as pontas, mesmo que extremas, agora se juntam” e esta união “chega em um momento histórico para o setor audiovisual brasileiro com números recordes de investimentos, produções e público.
A seguir os principais trechos da entrevista:
Revista da SET: Porque demorou tanto esta parceria?
Leonardo Dourado: O Brasil tem uma estrutura na televisão diferente a muitos países. Ela cresceu como indústria com muitíssimo conteúdo internacional.
Hoje, temos uma massa crítica importante e aos poucos estas necessidades começam a aparecer. Estamos produzindo mais no país e por isso esta parceria é importante.

Revista da SET: Falou que o Brasil possui uma estrutura na qual as emissoras além de emissoras, também são produtoras. Elas têm uma função dupla?
Dourado: Sim, mas a Lei de TV por Assinatura (Lei 12.485) veio a separar essas funções determinando que quem é difusor deve difundir; quem é produtor deve produzir; quem é programador, deve programar separando e organizando o setor. No caso da TV aberta comercial é diferente porque ela foi construída ao contrário de como foi feito nos Estados Unidos, onde a produção independente é a maioria da programação.
Como sabe, aqui não é assim, pelo contrário, aqui a produção da emissora é a maioria máxima. Revista da SET: Isso pode mudar? Dourado: Sim, esta mudando. Lentamente, mas vai mudando. As novas mídias, a internet e outras formas de veicular o conteúdo estão dando sinais de mudança. Sempre trabalhamos muito próximo das programadoras, a tendência atual é acercarmos as TVs abertas comerciais.

Revista da SET: Até há algum tempo a TV aberta ditava a evolução tecnológica. Hoje podemos produzir em 4K, mas não temos como emitir os conteúdos via espectro nessa definição. Esse é um sinal de mudança?
Dourado: Estamos em um momento de mudança, estamos atravessando um novo grande corte de tecnologia.
Neste momento o céu é o limite para a criação e produção, a questão é saber como transmitiremos nessas novas tecnologias, porque a internet muitas vezes não comporta nem tem banda suficiente para emitir conteúdos em 4K.

Revista da SET: Nos estamos cada dia mais passando de tecnologia via hardware para software. Será que o segundo se esta sobrepondo ao primeiro?
Dourado: Graças a Deus, hoje já não importa o suporte, não importa a mídia, o que realmente importa é o conteúdo, e quando ele é bom vai ocupar todo o espaço que consiga ou exista.


BNDES anuncia subsídios de R$ 2 bilhões

OBNDES, através da sua Agência de fomento, anunciou no RioContentMarket que tem orçamento de R$ 2 bilhões para investir no setor em 2014 por meio do Procult, que tem novas premissas para esse ano, como foco em inovação e desenvolvimento das empresas.

Luciane Gorgulho, chefe do departamento de cultura,
entretenimento e turismo do BNDES durante a sua
palestra no RioContentMarket 2014.

O anúncio foi feito por Luciane Gorgulho, chefe do departamento de cultura, entretenimento e turismo do BNDES durante o RioContentMarket, evento realizado pela ABPITV apresentando a profissionais do audiovisual os projetos da agência de fomento voltados ao desenvolvimento do setor, que vive um período bastante promissor. “O movimento que começou em 2010 e vai até 2020 vai ser a era do audiovisual”, afirmou, lembrando que o BNDES tem como desafio entender a dinâmica do setor e desenvolver mecanismos para que a área se desenvolva.
O orçamento do Procult para 2014 é de R$ 2 bilhões. Tendo em vista as premissas de desenvolvimento do setor, algumas mudanças foram feitas para o acesso aos recursos, com base em estudo conceitual e levantamento internacional. Entre as mudanças estão o investimento em inovação. As produtoras audiovisuais devem possuir núcleo de pesquisa de mercado, pesquisa e desenvolvimento de personagens, marcas, formatos originais e desenvolvimento de conteúdos multiplataforma.
Outro ponto de reformulação é o foco na carteira de projetos e plano de negócios das produtoras. “Tira- -se o foco do financiamento do projeto e coloca-se o foco na empresa como um todo”, observa Luciane.
Luciane também destacou as metas do BNDES para o setor em 2020: ter produtoras brasileiras de grande porte, fortalecer programadoras e distribuidoras nacionais independentes e inverter a posição do Brasil, de 7º maior importador de produtos audiovisuais para o 7º maior exportador. “Temos competência e condições para isso”, disse.