Futurecom 2023: Inovações e negócios da Inteligência Artificial Generativa

Painelistas analisam impacto, inovação e implicações nos negócios e na sociedade da tecnologia que no último ano tem despertado interesse, incerteza, greves e desenvolvimento tecnológicos em todos os setores. 

O painel, um dos mais concorridos da manhã do primeiro dia do evento foi cenário de uma das discussões mais ricas e instigantes sobre o lugar da Inteligência Artificial Generativa no panorama atual dos negócios e da sociedade. A discussão, mediada por Fernando Gomes de Oliveira, representando a ACATE e I2AI, proporcionou insights valiosos sobre as aplicações práticas, desafios e sucessos da IA generativa nas organizações.

IA Generativa no Futurecom 2023

A conversa foi iniciada por Claudia Nolla (IBM), que apresentou a complexidade de integrar tecnologia, pessoas e processos ao adotar soluções de IA. Ela destacou a mudança de mindset na IBM, indicando que a IA deixou de ser vista apenas como uma solução para questões pontuais. Ao invés disso, ela representa um redesenho completo dos processos organizacionais. As empresas, percebendo o potencial disruptivo da IA, planejam triplicar seus investimentos nessa área, mas Claudia ressaltou a necessidade desse investimento se justificar alinhado aos KPIs e objetivos das empresas.

Pela Embratel, Mário Rachid analisou o cenário com a vasta experiência na área de tecnologia, e disse que a discussão passa pelas nuances e aplicações práticas da IA. Ele compartilhou insights sobre o trabalho interno da Claro, um braço da Embratel, onde modelos de IA são testados internamente. Estes modelos, baseados em dados, oferecem não apenas soluções para a própria empresa, mas também insights que podem ser aproveitados como consultoria para outras organizações.

Do lado dos bancos, Walkiria Schirrmeister Marchetti (Bradesco, trouxe a de algum modo antiga jornada de adoção da IA generativa do Banco Bradesco. Walkiria narrou como a organização embarcou primeiro em debates educativos com executivos e, em seguida, com diretores de áreas de negócios. Uma equipe de influenciadores foi estabelecida e vários casos de uso da IA foram apresentados, priorizados e implementados em diferentes setores do banco, desde análises jurídicas até economistas interpretando dados das atas do COPOM.

A representante da ANPD,  Miriam Wimmer, falou da proteção e privacidade dos dados é uma questão crítica quando se fala em IA generativa. Miriam destacou a responsabilidade de gerir os dados, mencionando riscos como conteúdo tendencioso ou mesmo falso. A adesão à tecnologia deve ser feita com discernimento e consideração, especialmente no contexto da proteção de dados pessoais, um direito constitucional.

Sala cheia para o painel de “IA Generativa” no Futurecom

Paulo Antonialli da Amdocs abordou um tópico que está na mente de muitos: “Quando vou perder meu emprego para uma IA?”. Ele defendeu que a IA generativa, na sua essência, não visa substituir humanos. Ao invés disso, nesta primeira onda, vemos um empoderamento humano, aumentando a produtividade por meio da tecnologia. Entretanto, Izabela Anholett (Exame) enfatizou que a IA deve, acima de tudo, resolver um problema real. Ela compartilhou experiências de como a Exame está utilizando IA para aprimorar recomendações de conteúdo e gestão, e como testes internos foram cruciais para implementar soluções eficazes.

Finalmente, Daniel Domingos (Cogna Educação) colocou na discussão a importância de preparar os profissionais de hoje para a IA do futuro, e destacou a necessidade de formar indivíduos capazes de fazer as perguntas certas e interagir de forma eficaz com a tecnologia.

Em meio d essa rica tapeçaria de insights e discussões, o mediador Fernando Gomes de Oliveira trouxe à tona um dado interessante: o ChatGPT já acumula quase 1,5 bilhão de usuários ativos. Contudo, a adesão tem diminuído nos últimos meses, e a plataforma vem perdendo usuários nos 3 meses consecutivamente, não por deficiências na tecnologia, mas pela adesão a ela movida apenas pelo “hype”, em vez de uma verdadeira necessidade de resolução de problemas de negócios.

Segundo Gomes de Oliveira, “o painel foi uma janela para o futuro, explorando as infinitas possibilidades e desafios da IA generativa no mundo dos negócios e além. As diversas perspectivas oferecidas por cada painelista proporcionaram uma visão holística, variada e, mais importante, aplicável. A verdadeira força da Inteligência Artificial não está apenas em sua capacidade técnica, mas em como ela pode ser integrada às operações cotidianas das organizações. A adaptação e a adoção desta tecnologia requerem uma compreensão profunda de sua funcionalidade, potencial e, acima de tudo, seus limites”.

Foto: Futurecom 2023

De fato, o mediador conseguiu costurar essas diferentes narrativas em uma conversa coesa, enfatizando a necessidade de se olhar além do mero “hype” em torno da IA e focar em sua aplicabilidade prática e tangível. “A tecnologia, no fim das contas, é apenas tão boa quanto sua implementação e aplicação”.

Ainda, destaque para as observações de Izabela Anholett sobre a necessidade da IA em sanar um problema real ressoou fortemente. “A inovação, afinal, é impulsionada pela necessidade. E como Daniel Domingos apontou, a formação e educação adequadas são cruciais para garantir que a próxima geração esteja equipada não apenas para usar essa tecnologia, mas para moldá-la, direcioná-la e melhorá-la”, concluiu Gomes de Oliveira.

Assim, para o executivo que representou a ACATE e I2AI, afirmou à reportagem que “a discussão no Futurecom 2023 foi um lembrete de que, enquanto nos movemos em direção a um futuro mais digitalizado e tecnologicamente avançado, a humanidade, a ética e o discernimento permanecem no cerne de qualquer progresso verdadeiro. A IA generativa, com todas as suas promessas e potencialidades, ainda é uma ferramenta. E as ferramentas são melhores utilizadas quando compreendidas, controladas e aplicadas com intenção clara”.

Por Fernando Moura e Fernando Gomes de Oliveira, em São Paulo