CES 2020: A guerra do streaming

CES 2020 “O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”

Engenheiro participou da edição 2020 da CES em Las Vegas, e conta, em primeira pessoa, as suas impressões e como nesta “guerra” quem perde é o consumidor, que teve a conveniência da TV por assinatura substituída por dezenas de aplicações individuais

por Fernando Gomes

E mais uma vez Las Vegas deu boas vindas à maior feira de eletrônicos do mundo, recebendo mais de 4.400 expositores e mais de 175.000 visitantes, ávidos por presenciar – e vivenciar – o que há de mais novo em eletrônicos, ou o que ainda está por vir no futuro!

A companhia área apresentou um exoesqueleto móvel e ágil projetado para aumentar as capacidades físicas dos funcionários e aumentar a sua segurança

Nem bem as atividades começaram no dia que antecedeu à feira e a Samsung mostrou a que veio, apresentando, dentre outros produtos, um robô-companhia chamado Ballie, que entende as pessoas e reage às suas necessidades, com uma sofisticada implementação de IA (Inteligência Artificial). Parece ter vindo dos filmes de Star Wars, lembrando fisicamente o BB-8, personagem da saga que apareceu pela primeira vez em 2015 nas telonas.
Aliás, uma das primeiras frases de impacto que ouvi durante a semana da feira veio justamente do presidente da divisão de eletrônica de consumo da Samsung, H.S. Kim, confirmado que, para a Samsung, entramos na Era da experiência (Age of Experiences).
Nessa noite tive a certeza de que os próximos dias seriam interessantes e com muita informação. Por falar em Eras, se pensarmos que há 10 anos não tínhamos nem o iPad (o primeiro foi lançado em Abril de 2010), é notável que o mundo em que vivemos mudou consideravelmente nos últimos tempos, e mudou em muitos sentidos. A dificuldade é que a política e a regulação não conseguem acompanhar essa velocidade.

Cidades e mobilidade
As cidades inteligentes estão muito próximas de serem uma realidade, e é uma grande necessidade mudarmos como elas interagem com a sociedade e como a sociedade interage com elas. Será impossível manter a taxa de urbanização global se as cidades
não mudarem. Sistemas inteligentes habilitados por dispositivos, plataformas e dados inteligentes tornarão a vida dos cidadãos muito mais segura e fácil. As cidades inteligentes, que utilizarão IA, IoT e 5G, transformarão a maneira como interagimos com o ambiente ao redor, maximizando a praticidade e o prazer. Aliás, foi em um painel sobre o futuro da mobilidade que ouvi de Debora Wahl, Global Chief Marketing Offices da GM, sobre a visão da montadora em ter um mundo com zero crashes, zero emissions and zero congestion (sem acidentes, sem emissão de gases e sem congestionamento), tudo isso por meio do desenvolvimento de veículos elétricos, conectados, autônomos e compartilhados, que transformarão a maneira como nos moveremos.

Parceria desenvolveu um carro voador com autonomia de até 100 quilômetros

O pavilhão Norte dos Las Vegas Convention Center (LVCC) estava dedicado à mobilidade, com diversas soluções, muitas das quais já ouvimos falar anteriormente. Carros elétricos, carros conectados, carros autônomos e muito, muito software. Mais uma vez os smartphones desempenhando seu papel de “faz-tudo”. Se antes nós já não vivíamos sem nossos dispositivos, daqui a pouco os veículos também não funcionarão sem eles.
Se no pavilhão Norte estavam expostos os conceitos de mobilidade que há algum tempo já ouvimos, lá também era palco para aquelas ideias mais futuristas, como o Bell Nexus, a aposta da empresa para a mobilidade urbana futura.

Sistema interligado baseado numa nuvem permite que “smartphone seja ligado como cérebro” nas motocicletas

A montadora sul-coreana Hyundai é outra que aposta nos carros voadores como solução para a mobilidade urbana. Junto com empresas como Embraer, Boeing e Uber, realiza esforços de pesquisa para veículos que podem substituir carros terrestres, e revelou o conceito de uma aeronave já desenvolvida com a Uber, projetada para carregar quatro passageiros e um piloto, com autonomia de até 100 quilômetros.

Sensores
Outros itens muito presentes foram os sensores, medindo de tudo e de todos. E por falar em sensores, casas conectadas e inteligentes já são mais que uma realidade, são uma necessidade. Elas consomem menos energia, água, e gás, e dão mais liberdade, mais segurança e prazer para seus moradores. Com a tecnologia da Internet das Coisas (IoT) expandindo seu alcance além do lar para todos os tipos de edifícios, o grande objetivo é economizar energia, reduzir as emissões e ajudar a alcançar a sustentabilidade, à medida que as populações crescem.
Edifícios inteligentes também tornarão a vida mais conectada e prática. Por exemplo, os seus moradores poderão chamar elevadores, desligar as luzes, gerenciar entregas e procurar vagas na garagem por meio de um simples deslizar do dedo ou comando de voz. Aparelhos inteligentes instalados em edifícios inteligentes solicitarão reparos e resolverão problemas antes que os moradores sequer percebam que eles existem.
Chamou minha atenção o Mateo, um tapete de banheiro inteligente. Fino, flexível e confortável, é difícil ver a diferença de um tapete comum, mas captura, registra e controla muitas informações do nosso corpo, como peso, postura e composição do corpo.
O produto recorre à Inteligência Artificial e a mais de 7.000 pontos de pressão para recolher dados, os quais podem ser consultados através de uma aplicação instalada no smartphone.

Novos devices
Wearables (ou dispositivos vestíveis) estavam muito presentes e encontrei muitos produtos e ideias pra lá de interessantes. Os relógios inteligentes já não são mais os únicos dispositivos conectados que usamos, dando espaço a outros que, cada um com a sua função, podem facilitar nossa vida diária, gerando informações,
cuidando de nossa saúde e do nosso bem-estar.
Roupas inteligentes são uma próxima tendência. Vi um sistema de monitoramento de recém-nascidos que monitora o sono e a respiração dos bebês. Sossego para os pais, que acordam toda a madrugada para ter a certeza de que tudo está bem. Duvido algum pai ou mãe leitor afirmar que nunca fez isso!

Trabalho
E no trabalho, por que não? Tecidos inteligentes e conectados no ambiente de trabalho podem sentir e reagir à presença e à ação, comunicando-se proativamente com outros trabalhadores, sensores de IoT e criar ambientes mais seguros, mais eficientes e personalizados.
Falando em segurança do trabalho, outro conceito muito interessante, o do Homem Aumentado (ou Augmented Human) mais uma vez se fez presente. A Delta Airlines, em parceria com a Sarcos Robotics, demonstrou um exoesqueleto robótico desenvolvido para aumentar a força e a segurança dos funcionários, e planeja testar a tecnologia durante o primeiro trimestre de 2020.

Exo Esqueleto de fibra de carbono com sensores para facilitar tarefas e mobilidade

Healthtechs
Saúde também foi um tema recorrente nos corredores da feira e teve uma área dedicada às healthtechs no Sands Expo. Diversos produtos chamaram minha atenção, mas em linha com a demonstração da Delta Airlines, muito presentes estavam os exoesqueletos, o que nos leva a concluir que antes limitado a poucos, cada vez mais essa tecnologia estará acessível a todos.
Empresas como a Samsung e a C-Frex (foto) demonstraram seus produtos.

5G na mídia
Falando um pouco de mídia, 5G deixou de ser algo novo, passa a ser apenas o futuro habilitador para diversas das aplicações que estão sendo desenvolvidas, como VR gaming e Game Streaming, ambos muito presentes pelos corredores da feira, assim como os televisores 8K, marcando presença constante no pavilhão Central do LVCC.
A grande história da CES este ano quanto à mídia e conteúdo foi a chamada “Guerra do Streaming” (Streaming War). Minha opinião é que nesta guerra quem perde é o consumidor, que teve a conveniência da TV por assinatura substituída por dezenas de aplicações individuais. Se por um lado os telespectadores têm mais conteúdo, o que não se sabe é qual será o limite deles e até quando esses muitos serviços diferentes serão todos assinados. Porém há uma luz no fim do túnel e uma grande oportunidade de negócio para o AVOD (Advertising-supported Video On Demand).
E por falar em publicidade, muito mais próxima que imaginamos está a propaganda dirigida. Com a grande quantidade TVs conectadas instaladas há muita gente de peso trabalhando nisso, e sem dúvidas é mais um grande desafio que a TV aberta enfrentará muito em breve se não se adaptar rapidamente, mas sem
dúvidas é também uma grande oportunidade se bem utilizada. Chamou minha atenção o serviço Samsung Ads, um serviço de TV Ad Retargeting que permite aos anunciantes identificar quem viu ou perdeu seu anúncio na TV e conectar com eles via dispositivos
móveis e OTT.
O que fica cada vez mais claro é que não estamos perto do fim da televisão como muitos dizem, mas no início da Era das TVs Conectadas.
Terminei os quatro dias de exposição cansado e com muita informação, mas valeu a pena o esforço. Defino a CES como What’s new, What’s next, e What means for your business. Nestes últimos dias vivenciei o que há de novo, o que virá depois, e o que tudo isso significa — ou significará — para pessoas, empresas e por
que não, máquinas!
Até a CES 2021, quando veremos o próximo futuro próximo.


Fernando Gomes de Oliveira é Engenheiro de Computação pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, empreendedor, empresário com mais de 30 anos de experiência em TV Digital e tecnologias de banda larga. Especialista em assuntos regulatórios de telecomunicações, transformação digital, 5G, IoT e inovação disruptiva. É um entusiasta de tecnologia, membro da SET e da Poli Angels, grupo de investidores-anjo formado por ex-alunos da
POLI-USP que suporta startups com foco em tecnologia
nos seus estágios iniciais.
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