A TV Universitária no Brasil: novo mapa, novas telas e configurações

Coluna ABTU

Figura 1: Estafe da UnBTV, exemplo de equipe de TVU

Dentro de um complexo contexto de mudanças, oportunidades e também de desafios que enfrenta a indústria da televisão brasileira, as TVs Universitárias (TVUs) vêm buscando encontrar seus espaços e proporcionar que as Instituições de Ensino Superior (IES) continuem a dialogar com a sociedade por meio de seus próprios veículos audiovisuais.

por Cláudio Magalhães e Ricardo Borges

Em linhas gerais, as TVUs são instrumentos de convergência do tripé basilar que sustenta e norteia uma universidade: ensino, pesquisa e extensão. É produzida pelo conjunto da sua comunidade acadêmica – professores, funcionários e estudantes (Figura 1) –, que pode experimentar linguagens e formatos consagrados e inovadores, além de fazer divulgação científica sobre a produção universitária. Dessa forma, a instituição procura estender para além muros os conhecimentos construídos.
Embora ainda enfrentem dificuldades nessa empreitada de se tornarem conhecidas, inclusive pela própria comunidade acadêmica, as TVs Universitárias já atingiram a maturidade e vêm crescendo tímida, mas constantemente, pelo Brasil. A história começa com a primeira concessão para uma emissora de TV Educativa no Brasil, dada para a Universidade Federal de  Pernambuco (UFPE), em 1967, a TV Universitária de Recife, ainda em atividade. Mas somente a partir da chamada Lei do Cabo (Lei n.º 8.977/95), quando as operadoras são obrigadas a oferecerem canais universitários, gratuitamente, a seus assinantes, as instituições de ensino superior se mobilizam localmente e as TVUs dão um salto quantitativo e qualitativo em todo o país.
Um novo incremento se estabelece com a popularização da internet e o barateamento dos equipamentos de produção audiovisual. Hoje, as TVs Universitárias já não estão restritas à concessão aberta ou transmissão via cabo, nem mesmo precisam de altos investimentos em infraestrutura para operar em sinal digital, uma vez que dispõem dos recursos acessíveis das plataformas de vídeos na internet e dos dispositivos móveis.

Mas, afinal, quantas e onde estão as TVUs no Brasil? Com a finalidade de identificá-las e, assim, fomentar políticas públicas e privadas, a Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) produz ou coparticipa da elaboração de mapas dessas TVs no país. De 2002 a 2009, foram realizados quatro levantamentos sobre a situação das TVUs pelo país (CARVALHO, 2002; PEIXOTO, PRIOLLI, 2004; BRASIL, 2006; RAMALHO, 2011). Neste momento, é realizado o Mapa 4.0, em parceria com a ABTU e IES e apoio de bolsistas e voluntários1.
Para a produção do Mapa 4.0, foram usados vários procedimentos metodológicos, incluindo pesquisa nos sites das IES e de suas TVs, visita técnica, entrevistas presenciais e envio de e-mails e questionário online. Inicialmente, realizou-se contato via e-mail com 1.270 IES e todas aquelas com TVs, a partir dos dados obtidos em seus sites, mas não se obteve respostas significativas. Foi possível encontrar dados de 94 das 151 instituições com TVUs apontadas em 2009. Dessas, foram excluídas 15 IES cujas TVUs apenas produzem conteúdo promocional. Posteriormente, foram detectadas na internet mais 18 TVUs não localizadas no mapa anterior, e abriu-se investigação em novas 55 com presença nas redes sociais.
Nessa fase, foram listadas, então, 167 TVUs, incluindo aquelas em investigação e 26 que responderam ao questionário. As informações estão sendo formatadas com 48 variáveis: local, ano de fundação, endereços na internet, organização e categoria da IES, transmissão, afiliações, programas e outras. Dessas 167 TVs iniciais, foram excluídas 14 por estarem repetidas no levantamento, por divulgarem apenas vídeos promocionais, não terem qualquer meio de transmissão ou estarem inativas há anos no meio em que atuam: o Youtube. Depois de nova busca na internet, foram localizadas mais 24 emissoras, chegando-se a 177 TVUs, um acréscimo de 14,7% em relação ao último mapa. Esse total representa 7% das IES brasileiras, que é de 2.448, segundo o Censo da Educação Superior de 2017 (BRASIL, 2017).

Resultados e reflexões
É importante ressalvar que os dados ainda estão em fase de coleta e análise, mas as informações já permitem traçar um cenário nacional e pensar conceitualmente a TV Universitária. Vale frisar também que os dados foram obtidos por meio de buscas nos sites e redes sociais das TVUs e de suas IES, bem como dos questionários respondidos (26 ao total). Estes são os resultados prévios de cinco das mais importantes variáveis de análise da pesquisa:

1. Localização geográfica: 72 TVUs são da região Sudeste (41%), 38 do Sul (21%), 31 do Nordeste (18%), 22 do Centro-Oeste (12%) e 14 do Norte (8%). Portanto, as TVUs concentram-se no Sudeste e Sul (62%), regiões com maior quantidade de IES. Na região Sudeste, houve aumento de 26% em relação ao último mapa; já no Nordeste, verificou-se um decréscimo de 8%, com o fechamento ou a inatividade de TVUs.

Figura 2: TVUs por localização geográfica

2. Ano de inauguração: a TVU mais antiga é a TVU Recife, de 1968. A partir de 2011, houve um grande aumento de TVUs veiculando vídeos apenas pela internet. As informações sobre essas WebTVs têm como fonte o ano de inscrição no Youtube.

Figura 3: Ano de inauguração das TVUs

3. Estrutura institucional das IES: constata-se que a maior parte das TVUs está ligada a universidades (61%). Entretanto, em relação ao último mapa, per- cebe-se um aumento percentual significativo de faculdades e centros universitários com TVUs: de 25% para 39% (14%). Se antes as universidades tinham maiores condições de arcar com os altos custos de uma televisão, agora instituições menores também podem fazer TV, pela internet.

Figura 4: Estrutura institucional da IES

4. Fontes de financiamento: as respostas dos questionários (26 emissoras respondentes) apontam que a maioria das TVUs depende exclusivamente dos recursos das suas IES e/ou mantenedoras (83%). Esse pode ser considerado o maior problema para a sobrevivência das emissoras, em especial daquelas que operam via cabo ou em TV aberta. Os dados reforçam que a captação de recursos externos não é ainda uma prática disseminada entre as TVUs.

Figura 5: Fontes de financiamento

5. Meios de transmissão: o levantamento revela que a quase totalidade das TVUs encontra-se na web – site e/ou redes sociais, sendo que 90 (52%) atuam apenas na internet. Neste mapa, são denominadas de WebTVUs.

Figura 6: Meios de transmissão

Equipe trabalhando

Diferentemente dos levantamentos anteriores, o Mapa 4. 0 considera como TVU a emissora que também atua apenas no Youtube, em uma conceituação mais ampla. Nesse sentido, propõem-se os seguintes critérios para definição de WebTVU:
a) Autointitulação – percepção da própria equipe da IES de que o trabalho realizado se enquadra como uma WebTVU, Isso se dá pelo nome ou pelo posicionamento expresso;
b) Programação – a atuação na rede precisa ocorrer de forma programada, com atualização diária, semanal, quinzenal ou mensal;
c) Periodicidade – para ser considerada WebTVU em atividade é preciso que o canal no Youtube seja atualizado com frequência, uma vez que não é um mero depósito ou fonte de registros.
d) Conteúdo – os vídeos disponibilizados são resultado da produção de uma equipe própria ou terceirizada sobre as ações e projetos da IES mantenedora; mas o conteúdo não se restringe à mera veiculação institucional.

Externa de equipe de TV Universitária

Por fim, o próximo passo da pesquisa será aprofundar as informações, por meio de contato direto com as emissoras universitárias. Mas já é possível afirmar que as TVs Universitárias são veículos complexos, em constante transformação, que buscam se adaptar aos novos tempos para exercer bem a sua missão institucional, além de proporcionar uma experiência prazerosa e enriquecedora ao público, nas mais variadas telas.


1. A pesquisa, sob orientação do prof. Dr. Cláudio Márcio Magalhães, contou inicialmente com a participação dos bolsistas Victor Alves de Almeida Soares e Maria Clara Guimarães Lopes do curso de Publicidade e Propaganda/Centro Universitário Una) e do mestrando Caetano Bonfim Ferreira (Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local/Una). Atualmente, participa do levantamento o doutorando Ricardo Borges Oliveira (Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília).


Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DA CULTURA (2006). I Fórum Nacional de TV’s

Públicas: Diagnóstico do campo  público  de  televisão.  Ministério  da Cultura, 2006.

BRASIL. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Censo da educação superior 2017: notas estatísticas. 2017.

CARVALHO, Juliano Maurício. Mapa da Televisão Universitária no Brasil. [CD-ROM]. Campinas: ABTU/PUC Campinas, 2002.

FÓRUM Nacional de TV’s Públicas: diagnóstico  do  campo  público de televisão. Brasília: Ministério da Cultura, 2006.

PEIXOTO, Fabiana; PRIOLLI, Gabriel. A televisão Universitária no Brasil. Os Meios de Comunicação nas Instituições Universitárias da América Latina e Caribe. São Paulo: Unesco/ABTU, 2004.

RAMALHO, Alzimar. Mapa da TV universitária brasileira: versão 3.0. Viçosa: Anadarco Comunicação, 2011.


Cláudio Márcio Magalhães é professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e  Desenvolvimento  Local do Instituto de Comunicação e Artes do Centro Universitário  UMA. Contato: [email protected]

 

Ricardo Borges é jornalista, mestre em Gestão Pública pela Universidade de Brasília, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília (PPGCOM/FAC/UnB) e coor- denador de Programação da UnBTV. Contato: ricar[email protected]


Revista da SET – 189 – coluna ABTU (PDF)