Futebol na TV: A pirataria de streaming no pós-pandemia

Em entrevista, Anderson Torres, gerente antipirataria da Nagra, explica que a marca d’água pode ser usada para proteger vazamentos na TV linear, streaming ao vivo e conteúdo VOD

Anderson Torres, gerente antipirataria da Nagra

O futebol tem sido desde a década de 1970, um fenômeno na TV brasileira, de fato é um dos principais produtos da grade. Não só pela audiência, mas também pelo aspecto publicitário e porque para muitos canais, sobretudo, os de TV paga, são uma importante fonte de renda já que os conteúdos premium acabam por rentabilizar ainda mais a atividade.

O esporte parou com a pandemia durante alguns meses, e com ele, o reforço para evitar a pirataria aumentou. Em entrevista à Revista da SET, Anderson Torres, gerente antipirataria da Nagra, afirma que “com as pessoas forçadas a ficar em casa, as telas se converteram nas principais fontes de entretenimento. Para os provedores de serviços de streaming, D2C e TV paga, que tinham o esporte como atrativo, a retomada dos jogos é o momento para recuperar os assinantes que migraram para outras plataformas em razão do cancelamento de eventos esportivos. Isso, considerando ainda o surgimento de uma “economia de subscrição”, que vincula pouco valor aos compromissos contratuais, e traz uma nova realidade para a qual a indústria está despertando”.

De fato, reforça o executivo, “embora a pandemia do novo coronavírus não tenha repercutido negativamente para a maioria das marcas de streaming – a empresa de análises do setor Omdia estima que os provedores de OTT tenham um aumento de 12% na receita em 2020 –, trouxe implicações financeiras para as plataformas especializadas ou com programação esportiva. E mesmo após a fase de distanciamento social obrigatória, é bastante provável que a mudança na forma como as pessoas consomem conteúdo, desencadeada pelo surto de Covid-19, permaneça – o que, pelo lado positivo, cria mais oportunidades para as operadoras ampliarem o alcance de seus serviços”.

Mas, à medida que este novo ambiente de consumo de entretenimento se torna uma nova área a ser explorada pelas operadoras, também não passa despercebido aos piratas. “Pelo contrário: todos os indicativos sugerem que a pirataria de conteúdo irá se intensificar no pós-pandemia. Isso ocorre porque o ritmo mais lento de estilo de vida em todo o mundo repercutiu no PIB dos países e, em alguns casos, significou um aperto de gastos por parte das famílias. Operadoras que, a princípio, abrandaram as condições comerciais até com a gratuidade de serviços on demand para conter a rotatividade, enfrentam a incômoda tarefa de reverter tais condições aos níveis anteriores à pandemia. Com a conjuntura econômica fragilizada, tais reversões podem não ser mais compatíveis com a renda de grande parcela da população e, assim, com um orçamento reduzido, potenciais consumidores vulneráveis serão vítimas da oferta de serviços piratas”.

Uma pesquisa recente, conduzida pelo Trade Desk, revelou que nos Estados Unidos e no Reino Unido os consumidores estão dispostos a pagar mensalmente US$ 20/£ 20, respectivamente, por todas as assinaturas que possuem. No Brasil, afirma o executivo, “isso equivaleria a R$ 20. Ante isso, como reagir a esse desafio que está incomodando os operadores? Seria a solução reduzir custos de produção e aliá-los a condições comerciais mais atrativas, para que os serviços se tornem acessíveis ao maior número possível de consumidores? Além de improvável que seja economicamente viável, os custos nunca serão iguais aos de suas contrapartes criminosas, uma vez que os piratas não têm custos de conteúdo como parte de seu modelo de negócios. Ademais, muitos consumidores podem não perceber que estão comprando serviços piratas e outros estarão mais interessados no preço de oferta do que no fornecedor contratado. Por isso, hoje, o combate aos piratas exige uma solução tecnológica – e a marca d’água forense, que traz diversos benefícios, encabeça a lista. Além de oferecer suporte a serviços tradicionais de TV paga e OTT, a marca d’água forense é usada para proteger de vazamentos TV linear, streaming ao vivo e conteúdo VOD. O processo é automatizado e pode determinar a origem do vazamento de forma rápida e eficiente, especialmente para eventos esportivos ao vivo, identificando as fontes de pirataria e fechando-as quase em tempo real”.

Torres afirma que é necessário que “os proprietários de direitos também podem adicionar outra camada de marca d’água no nível do assinante para identificar os destinatários atuais do conteúdo em caso de pirataria e os assinantes reais que cometeram a violação e piratearam o conteúdo. Da mesma forma, os provedores de serviços de TV por assinatura podem aplicar a marca d’água no nível do dispositivo para identificar a fonte de um vazamento pirata, incluindo aqueles usados ​​para alimentar servidores de streaming ilícitos, permitindo uma ação antipirataria apropriada”.

O executivo afirma que outro benefício da marca d’água forense é “a identificação de rede, que pode desempenhar um papel crítico no combate à pirataria, fornecendo informações importantes sobre os canais de um afiliado ou licenciado. No caso de esportes ao vivo, os proprietários de direitos geralmente começam implantando uma solução de identificação de rede para tomar apropriadas as ações antipirataria, analisar a receita de licenciamento por território versus o risco de pirataria, e revisar sua estratégia de licenciamento de conteúdo”.

Todos esses benefícios são cruciais, no contexto do Covid-19, quando a demanda por streaming é alta, disse Torres. “Combinado com serviços antipirataria, colaboração e ações judiciais, isso pode fornecer medidas eficazes para impedir a pirataria na fonte, a fim de preservar as receitas da atividade regulada. Neste contexto, a possibilidade de determinar a percentagem de conteúdo pirateado de um determinado site serve de suporte a este tipo de investigação. Com base nos resultados de um estudo recente da Nagra, produzimos uma métrica para justificar os pedidos judiciais de bloqueio de IP por falta de licenciamento. O bloqueio de IP e o redirecionamento de DNS são armas extras na luta contra a transmissão ilegal de conteúdo, ajudando a reduzir a exposição e o acesso aos serviços pirateados. Em razão de a pirataria digital permear em um território jurídico relativamente novo, a cooperação e o diálogo entre as principais partes interessadas são essenciais para a celeridade na hora de barrar violações em massa, especialmente de transmissões ao vivo. Operadores que implantam estratégias para proteção de conteúdo premium, quando nesse tipo de coalizão, fortalecem suas barreiras contra a distribuição ilegal de conteúdo, criando dificuldades para os criminosos e desestimulando quem usa o acesso para serviços ilícitos”, concluiu o executivo.

Por Fernando Moura, em São Paulo