Inteligência Artificial – oportunidades e ameaças para a indústria criativa

Criar algo é o ponto que coloca a IA Generativa no centro de um debate cada vez mais acalorado

O lançamento do ChatGPT gratuito em novembro do ano passado colocou na pauta das discussões os avanços impressionantes da Inteligência Artificial (IA). E os impactos do acelerado desenvolvimento de ferramentas baseadas em IA é um tema que afeta diretamente a indústria criativa, algumas vezes como oportunidade, outras como ameaça.

E como não poderia deixar de ser, o tema foi incluído na grade do Congresso SET Expo 2023 e reuniu opiniões de especialistas. “É uma discussão que está em uma encruzilhada entre tecnologia e criatividade”, expôs Bruno Souza, Diretor de Tecnologia e Data & AI da Globo. “Por isso é um assunto que tem gerado um misto de entusiasmo e apreensão”.

Souza mediou o debate baseado em uma palestra sobre a evolução e os dilemas da IA Generativa, feita por Jeremias Klausner, Gerente de Ciência de Dados da Globo. Em sua  apresentação, o executivo explicou as diferenças entre IA Funcional e IA Generativa. 

“A IA Funcional atua há anos como uma ferramenta para a tomada de decisões em tempo real que uma pessoa não poderia tomar. É o caso de um catálogo de streaming, que traz sugestões personalizadas para quem acessa, atualizadas o tempo todo de acordo com a interação”, explicou Klausner. Por outro lado, a IA Generativa não se aplica a tomadas de decisão, mas sim à geração de conteúdo. Ela tem a capacidade de processar um gigantesco volume de dados, contextualizar todos eles e criar algo a partir disso. Além disso, aprende à medida em que é utilizada, ampliando seu repertório e se tornando mais precisa.

Criar algo é o ponto que coloca a IA Generativa no centro de um debate cada vez mais acalorado. Para a indústria criativa isso traz a possibilidade de utilizar a IA para diversas tarefas, como geração de conteúdos em texto, imagem, áudio e vídeo. Como exemplo, Klausner dá a criação e manipulação de imagens com comandos simples de texto, geração automática de legendas, dublagem de filmes em diversos idiomas clonando a voz original do ator ou atriz.

Todas essas possibilidades trazem, juntas, oportunidades, ameaças e desafios para a indústria lidar com todos os aspectos dessa nova tecnologia. Ele cita como desafios as questões de direitos autorais, uma vez que todo aprendizado da IA tem origem em material já  produzido por alguém. Outra questão é o tráfego de busca, que gera monetização para o mercado, já que uma busca feita via IA Generativa não produz o click no link, que gera o tráfego, o que afeta todo um ecossistema dentro da internet. Sem falar em questões éticas, desafio a ser encarado nos próximos anos: como isso vai afetar empregos pelo mundo, os riscos para a segurança e a privacidade das pessoas, já que todos temos nossos dados online que podem ser usados pelo algoritmo.

Para Paula Chimenti, que atua no Centro de Estudos em Estratégia e Inovação da Coppead/UFRJ, os dilemas trazidos pela IA generativa não são novos. “Sempre que uma nova tecnologia muda a regra do jogo ela vai trazer junto oportunidades e ameaças. Foi assim no surgimento da internet”. 

Chimenti afirma que não existe uma resposta categórica sobre como devemos lidar com a IA, porque todas as discussões hoje ainda são muito recentes.  “Precisamos lidar com isso como sociedade, como organizações e como indivíduos. Vamos ter que pensar soluções para isso juntos. Por isso, a participação de todos no debate é muito importante”.

Na visão de Gabriel Carvalho, Key Account Director do Google Cloud, há uma diferença quando usamos uma solução de IA aberta e gratuita, como o Bard do Google ou o ChatGPT, e uma aplicação fechada. Ele explica que, para a indústria de mídia, é preciso ter calma antes de se entusiasmar e utilizar IA de forma aleatória.

Ele compara com o que ocorreu alguns anos atrás com os chatbots. Todos queriam utilizar, mas nem todos tinham amadurecido o motivo e o propósito de aplicar essa tecnologia em seus negócios. Com a IA é a mesma coisa. “É uma oportunidade com muitos asteriscos”, Antes de usar é preciso pensar em qual problema vai resolver, qual o propósito de seu uso. IA não é solução para tudo”, complementou o executivo.