SET visita a infraestrutura de broadcast da Fórmula 1

Carros chegam ao grid de largada no GP Brasil de Fórmula 1 (11/11/2018), no autódromo de Interlagos. (Foto: Andy Hone / LAT Images)

A SET esteve no Autódromo de Interlagos na véspera do Grande Prêmio Brasil 2018, onde acompanhou os treinos livres e visitou as instalações da FOM, da Tata Communications e da Rede Globo

No final de semana do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, se torna uma ilha de excelência em tecnologia das indústrias automobilística e de mídia e entretenimento audiovisual.

Na sexta-feira, 9 de novembro, primeiro dia de treinos, Olímpio José Franco, superintendente da SET, e a gerente de Comunicações, Carla Dórea Bartz, entraram no autódromo para conhecer como funciona a infraestrutura de broadcast e de dados do evento. O cenário não podia ser melhor: o sol aparecia por entre nuvens e a temperatura estava amena, suavizando as caminhadas entre as diferentes instalações.

Utkash Gosain (Tata), Olímpio José Franco (SET), engenheiros da ESPN Marcos Lucena e Fabiano Mosqueira a publicitária Viviane Soares no Orange Tree Club (Autódromo de Interlagos, 09/11/2018). Foto: Carla Dórea Bartz

A base de apoio foi o Orange Tree Club, uma área reservada a convidados, de onde é possível ver de perto as manobras dos pilotos nas curvas e retas que levam ao grid de largada e à reta dos boxes. Foi possível visitar as instalações da Formula One Management (FOM), da Rede Globo e da Tata Communications, que convidou a SET para conhecer de perto as operações.

Fórmula 1: em busca de inovação além das pistas

A capacidade de mobilização de milhões de fãs de esportes de velocidade faz do Campeonato da FIA um dos grandes eventos globais no setor e um excelente promotor de negócios televisivo, publicitário e automobilístico.

No atual momento em que as emissoras de TV tradicionais buscam se adequar ao novo cenário de distribuição multiplataforma, o Grande Prêmio de Fórmula 1 é um espetáculo em que a televisão brilha como o seu principal veículo de difusão ao vivo.

Para levar o sinal das câmeras instaladas na pista, nos carros e nos boxes, receber equipes de imprensa e de emissoras de TV do mundo inteiro, além de colher e analisar milhares de dados de telemetria, voz e áudio, a FIA conta com a empresa FOM e com parceiros de tecnologia que trazem soluções de ponta, como a Tata.

Tudo é planejado minuciosamente, de modo a minimizar praticamente a zero os riscos causados pela enorme logística de deslocamento em cada etapa do campeonato, garantido assim a qualidade e o resultado positivo a cada corrida. Em Interlagos, não foi diferente.

Além de trazer todos os equipamentos, estimados em mais de 160 toneladas e que contam com várias redundâncias, todos os técnicos, engenheiros, equipes de TI, cinegrafistas e demais profissionais também são estrangeiros e exclusivos do evento.

Para a obtenção de dados sobre os tempos de volta de cada piloto, velocidade, duração de pit stop e outras informações, durante os treinos e na corrida em si, sensores de temporização são conectados a cabos de fibra ótica de modo que os dados recebidos sejam incorporados a gráficos e exibidos nas telas de TV do mundo todo em tempo real.

Na parte de produção e transmissão da corrida, os operadores de câmera da FOM são posicionados ao redor do circuito e são eles que geram as imagens exibidas pelas redes, incluindo a TV Globo, detentora dos direitos de transmissão do campeonato no Brasil. A estimativa é que só com a venda de direitos de transmissão, a FOM negocie valores acima do meio bilhão de dólares.

Tata:  a super velocidade dos dados

A função da Tata é ser o provedor oficial de conectividade dos Grandes Prêmios, levando os dados locais para o mundo. Toda a infraestrutura de TI da Fórmula 1 e do site Formula1.com está hospedada nos servidores da empresa, que oferece serviços de armazenamento em data centers espalhados pelo mundo.

Lee South (Tata), Olímpio José Franco, engenheiro da Tata, Viviane Soares e engenheiros da ESPN em frente à tenda de tecnologia montada no autódromo (09/11/2018). Foto: Carla Dórea Bartz

Em Interlagos, a empresa montou uma enorme tenda climatizada, onde os engenheiros de TI que recepcionaram a SET mostraram os serviços oferecidos e também os switchers e demais equipamentos de transmissão da FOM.

Nos últimos cinco anos, a Tata vem desenvolvendo tecnologias que visam a transformação digital do esporte e a aproximação com os fãs por meio de experiências imersivas.

“Nós nos envolvemos no esporte para usá-lo como uma vitrine para nossos clientes corporativos B2B. Como a F1 é um ambiente tecnologicamente avançado, é uma ótima maneira de mostrarmos que “se fazemos isso para a F1, podemos fazer isso para qualquer um”, avalia a empresa.

“Durante as últimas seis temporadas, desenvolvemos um relacionamento muito próximo e colaborativo com a Fórmula 1 como um negócio e estendemos nossa experiência para todas as áreas do esporte – trabalhando em estreita colaboração com a equipe Mercedes AMG Petronas Motorsport e com cerca de 20 empresas de radiodifusão da F1 também”.

“Juntamente com a Fórmula 1, testamos tecnologias como 4K e vídeo de 360 ​​graus ao vivo para mostrar como levar a experiência de assistir às corridas a um outro patamar. E, junto com a Fórmula 1 e a equipe da Mercedes, realizamos o F1 Innovation Prize, uma plataforma colaborativa que incentiva os fãs de F1 a contribuírem para o seu futuro”, explica.

Este ano, entre os jurados estavam o piloto Lewis Hamilton, da Mercedes, Ross Brown, diretor da F1, e Mehul Kapadia, diretor administrativo da Tata F1 Business. O vencedor, o britânico James Gough, anunciado durante o Grande Prêmio dos Estados Unidos, ganhou 50 mil dólares ao desenvolver um aplicativo que permite uma experiência integrada e imersiva dos Grandes Prêmios para os fãs ao redor do mundo.

Criando campeões: parceria com a Mercedes

Equipe da Mercedes celebra a vitória de Lewis Hamilton em Interlagos, o que assegurou o campeonato de pilotos e de construtores (11/11/2018). (Foto: Steve Etherington / LAT Images)

Em 2013, a Tata assinou um contrato com a Mercedes com o objetivo de aumentar em três vezes a velocidade de conectividade dos dados entre os carros e a sede da equipe no Reino Unido. É esta conectividade que sustenta a estratégia de dados da Mercedes.

Durante cada corrida, a equipe disseca as informações registradas por centenas de sensores em cada carro, gerando cerca de 2.000 pontos de dados por minuto. A rede da Tata triplicou a velocidade de transferência de dados de telemetria – como degradação e temperatura dos pneus, fluxo de ar, aerodinâmica, aceleração, temperatura do freio e do óleo e movimentos dentro da caixa de câmbio – que são transferidos em menos de um quarto de segundo de uma pista de corrida em qualquer lugar do mundo para a fábrica no Reino Unido e vice-versa.

Com o volume de dados analisados ​​pela equipe crescendo a cada temporada, essa infraestrutura oferece uma vantagem competitiva real para a equipe, como prova o campeonato vencido por Lewis Hamilton antes das duas corridas finais.

A equipe da Mercedes também usa a rede global da Tata para operações remotas, permitindo que a equipe aproveite o máximo de inteligência possível. A Mercedes possui uma instalação de operações remotas de última geração, com uma ‘segunda’ equipe de pit situada na fábrica inglesa, desempenhando um papel direto em cada corrida, comunicando, colaborando e trocando dados e insights com a equipe na pista em tempo real, como se estivessem no mesmo lugar. As operações remotas permitem que a Mercedes tome decisões mais precisas, contribuindo para o seu sucesso.

A cada Grande Prêmio, a Tata instala uma infraestrutura de conectividade de fibra ótica equivalente ao de uma cidade pequena em apenas três dias – um processo que normalmente levaria várias semanas. “Depois que a corrida termina, derrubamos a rede novamente em questão de horas. A velocidade e a confiabilidade da conexão abrem as portas para infinitas possibilidades, incluindo a transmissão da F1 na internet e o aproveitamento de tecnologias como realidade virtual e aumentada e a Internet das Coisas para maior interatividade com os fãs em casa e no circuito”.

Presença brasileira

A permanência da etapa brasileira no calendário da FIA mostra a força da nossa tradição neste esporte. Mesmo a ausência de um piloto brasileiro competitivo não impede que os fãs lotem as arquibancadas de Interlagos nos dois dias de treinos e na corrida em si.

Parte da infraestrutura da TV Globo em Interlagos (09/11/2018). Foto: Carla Dórea Bartz

Na área de broadcast, a TV Globo mantém a tradição de ser a emissora oficial. Há décadas, os brasileiros acompanham as corridas pelas suas transmissões, garantido uma audiência importante e promovendo o esporte automobilístico em nosso país. Além deste trabalho, a Globo também fornece alguns serviços locais para a FOM.

Este ano, em Interlagos, a Globo levou uma enorme infraestrutura, instalada em uma tenda branca que incluía inúmeras salas para os jornalistas, técnicos, produtores, engenheiros e demais funcionários que trabalham nas operações no local, além de um restaurante, unidades móveis e geradores.

A SET foi recebida por profissionais que conhecem e fazem parte da entidade há décadas. Engenheiros como Edson Moura, Paulo Henrique Castro, Hélio Fernandes e Mário Jorge se entusiasmaram em falar sobre sua experiência no circuito da corrida e as tecnologias envolvidas.  “Só de pessoal de tecnologia são 33 pessoas”, informou Hélio Fernandes.

“A Globo tem duas entregas relevantes na transmissão do GP Brasil de Fórmula 1. Uma delas é a produção dos sinais unilaterais para as plataformas do Grupo Globo na TV aberta, TV fechada (SporTV) e digital (globoesporte.com)”, explicou.

“Começamos a cobertura na sexta feira, com os treinos livres, e seguimos no sábado com treinos livres da manhã, ancoragem ao vivo do Globo Esporte SP, e o treino classificatório da tarde. No domingo, temos ancoragem ao vivo para o Esporte Espetacular, e a transmissão ao vivo da corrida”.

“Em todos estes dias, realizamos entradas ao vivo nos telejornais locais e de rede da TV aberta, e também nos programas do SporTV. Para esta entrega, usamos uma unidade móvel, cinco câmeras, dois microlinks, duas cabines de narração, um veículo de transmissão via satélite, uma unidade geradora de microondas e links de fibra ótica com os nossos centros de produção em SP e no Rio”, descreveu.

“A outra entrega relevante da Globo é a distribuição do sinal internacional, produzido pela FOM, para todos os detentores de direitos presentes no autódromo, instalados no TV Compound Internacional e nas cabines de narração. Esta entrega inclui a montagem da distribuição de energia dedicada nos dois ambientes, bem como a entrega de circuitos ADSL nas cabines”, continuou Fernandes.

Instaladas em frente aos boxes, as cabines de locução para emissoras locais e estrangeiras são configuradas para operar com até duas pessoas. “O acompanhamento do evento é feito através da distribuição do sinal internacional FOM via CATV com múltiplos canais de serviços às emissoras estrangeiras e nacionais presentes no autódromo”.

Inovação: conexão remota e IP

Hélio Fernandes adiantou que, para o Grande Prêmio Brasil de 2019, a emissora tem a intenção de realizar a produção unilateral do evento para o Grupo Globo utilizando o conceito de produção remota.

“Os sinais multilaterais entregues pela FOM em Interlagos e as nossas câmeras nas cabines serão transportados via links IP para nosso centro de transmissão. As reportagens utilizarão mochilinks. Desta forma, buscamos um modelo de operação mais eficiente, sem perda de nenhuma capacidade de produção, qualidade e robustez”, finalizou.

Conheça a história da pista de Interlagos

Vista aérea do Autódromo José Carlos Pace (Interlagos). Foto: José Cordeiro/SPTuris

Foi um inglês, Louis S. Sanson, que desenhou e desenvolveu o circuito de Interlagos, que abriu suas portas em 1940. A área era escassamente povoada na época, perto dos dois grandes reservatórios de água da cidade (daí o nome “entre lagos”). Originalmente, o projeto incluía também um hotel e um clube. Apenas o circuito foi construído, com uma configuração bem diferente da atual.

Em 12 de maio de 1940, a pista foi inaugurada com 7.900 metros, com uma corrida que teve quase 15.000 espectadores assistindo Arthur Nascimento Jr. vencer, dirigindo um Alfa Romeo. Chico Landi chegou em segundo lugar, com um Maserati. Em sua longa carreira, ele continuou correndo no circuito até sua aposentadoria em 1974.

A primeira corrida internacional foi realizada em 1947 e o vencedor, o italiano Achille Varzi, também dirigiu um Alfa Romeo. Chico Landi chegou em segundo lugar em seu Maserati.

Trinta e dois anos depois da primeira corrida, em 30 de março de 1972, cinquenta mil espectadores viram o piloto argentino Carlos Reutemann vencer a primeira corrida moderna de Fórmula 1 no circuito de Interlagos, uma Brabham de Bernie Ecclestone.

No ano seguinte, o Brasil se juntou definitivamente ao grupo seleto de países que sediam o calendário do Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA. Muitas pessoas acreditam que Interlagos possibilitou que o automobilismo se desenvolvesse no país, oferecendo um circuito de classe mundial para as novas categorias que surgiram.

Em 1980, o Grande Prêmio do Brasil mudou-se para o Rio de Janeiro, em busca de melhores condições e houve rumores de que Interlagos seria transformado em um projeto habitacional.

No entanto, em 1989, esta situação mudou. Com as eleições municipais, a recém-eleita prefeita Luiza Erundina convenceu o presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) na época, o piloto Piero Gancia, a fazer lobby pelo retorno da corrida a São Paulo.

Seus esforços valeram a pena e depois de uma modernização necessária das instalações, que incluiu a redução do comprimento do circuito para aproximadamente 4.300 metros, o Grande Prêmio do Brasil retornou a Interlagos em 1990.

O impacto econômico deste importante evento esportivo sobre as finanças da cidade é considerável. Aproximadamente US $ 150 milhões em impostos adicionais fluem para o tesouro da cidade durante as semanas das festividades e o fim de semana da corrida.

Interlagos tem uma história gloriosa e a lista de nomes dos grandes pilotos que competiram aqui é impressionante. O lendário argentino Juan Manoel Fangio correu duas vezes nos anos 50. Jackie Stewart dirigiu uma vez em 1973. A lista continua com os nomes de Ayrton Senna, Nelson Piquet, Emerson e Wilson Fittipaldi, Alain Prost, Ronnie Peterson, Jacky Ickx, Niki Lauda, ​​Clay Regazzoni, James Hunt, Graham Hill, seu filho Damon, Peter Revson, Alan Jones, Jody Schekter, Keke Rosberg e agora seu filho Nico, Riccardo Patrese, Nigel Mansell, Jacques Laffite, René Arnoux, Mika Hakkinen, Carlos Reutemann, François Cevert, Michael Schumacher … a lista continua com os nomes que todos os fãs de corridas conhecem.

Não é de admirar que os jovens condutores sintam uma emoção especial quando aceleram um carro de corrida pela primeira vez até a curva do “S”, cuja disposição foi sugerida por Ayrton Senna na última modificação importante do circuito.

Em 2014, um grande projeto de renovação, começando pelo asfalto, começou em Interlagos. A área do Paddock Club foi estendida acima de toda a extensão das garagens e a antiga sala de imprensa foi demolida. Em 2016, uma nova torre de operações foi inaugurada. Novas melhorias devem ser incorporadas ao projeto nos próximos anos.

Com subidas, descidas, curvas e um layout anti-horário, o Autódromo José Carlos Pace, seu nome oficial, é um dos desafios mais peculiares no calendário de Fórmula 1, que exige dos pilotos, além de talento ao volante, muita energia e muita concentração.

Agradecimentos: Utkash Gosain, Lee South, Kersti Klami (Tata Communications) e Hélio Fernandes (TV Globo).

Fontes: TV Globo, Tata Communications, SPTurisFIA, Fórmula 1, Autoweek

Reportagem: Carla Dórea Bartz

A SET foi ao autódromo de Interlagos a convite da Tata Communications.