“50 Anos de Mídia”: uma viagem pela memória da comunicação

Memória da Radiodifusão

Uma forma diferente não só de relembrar a história, mas também de dar um presente aos profissionais de mídia e ao seu público.

por Elmo Francfort

No último dia 26 de outubro abriu a exposição “50 Anos de Mídia no Brasil: 1968-2018”, promovida pelo Grupo de Mídia São Paulo (GMSP). A entidade agrega profissionais de mídia, das agências de publicidade e propaganda paulistas, e esse ano comemora seu cinquentenário.
Para a data, ao invés de um livro comemorativo ou festa, o Grupo de Mídia resolveu criar essa exposição. Ideia inicial de Daniel Chalfon, ex-presidente da entidade, que foi aprovada por Paulo Sant’Anna, que coordena atualmente o grupo. É uma forma diferente não só de relembrar sua história, mas também de dar um presente aos profissionais de mídia e ao público em geral.
Sou suspeito para falar da exposição, uma vez que respondo pela pesquisa e textos da mesma. Dei apoio total aos curadores José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) e Thomas Souto Corrêa – dois nomes que personificam a história de nossa mídia. Além deles, tivemos valiosas colaborações de um Conselho Curador, forma do por uma grande equipe de profissionais do Grupo de Mídia, que nos auxiliaram no resgate desse meio século de existência da entidade.
Ainda sobre essa equipe, citando os curadores, tive a orientação precisa de Boni, por exemplo, ao elencar programas que ficaram na memória da televisão (o que não se restringe apenas à Rede Globo, da qual sua trajetória profissional se liga intrinsicamente, mas a todas). Já com a experiência de Thomas Souto Corrêa, vieram toques importantes relacionados ao design dos módulos da exposição. Lembra o layout equilibrado das páginas de revistas, como a Veja, até os portais de internet, expertise de Thomas, que ainda hoje responde pela Editora Abril, como membro de seu Conselho. Já o publicitário Washington Olivetto, da W/MCcann, fez uma importante ponte para que o Grupo de Mídia São Paulo contasse com o apoio desse time de ouro. Foi uma grande responsabilidade apoiar a todos, reunir e filtrar um “mar” de informações. Uma riqueza de conteúdo, de lembranças, de documentos! Muitas foram as reuniões, nos diferentes veículos, para chegarmos ao resultado final. Para mim, um verdadeiro presente que só tenho a agradecer, após mais de 20 anos lutando pela preservação da memória da comunicação brasileira.

Em cada módulo há fotos, como também um aparelho de rádio e um televisor, passando programação alusiva a época

“50 anos de Mídia no Brasil” mostra a evolução dos meios de comunicação. Há comparações com fatos históricos e costumes que mudaram de 1968 até hoje. De forma lúdica o visitante poderá passear pelo tempo, experimentando como era viver em outras épocas. É possível estar numa sala dos anos 1970, num quarto dos anos 2000, tendo apoio de documentos que complementam o resgate. Há janelas virtuais, presentes em cada módulo – esses divididos em espaços de dez anos, por exemplo, de 1968 a 1977, 1978 a 1987 etc. Nessas janelas é possível ver a cidade de cada período, com a mídia exterior invadindo a paisagem urbana: outdoors, painéis eletrônicos, OOH (Out of Home). Em cada módulo há fotos, como também um aparelho de rádio e um televisor, passando programação alusiva a época.
Criamos uma imersão no período descrito nos textos expostos. Nesses fizemos questão de não apenas se restringirem aos dos blacklights, mas também nas legendas de cada um dos mais de 500 itens expostos. Portanto, ao compor o storytelling da exposição foi nossa a preocupação que legendas fossem uma extensão da narrativa, de forma a agregar aos textos principais, contando histórias paralelas e complementares, em época de transmidialidade.
No resgate de outros tempos é possível ver a evolução tecnológica, não apenas na mídia, mas em videogames (do Atari aos mais modernos PlayStations), no mobiliário, nos brinquedos (podendo conhecer Genius, Merlin ou até jogar o fliperama do Pac-Man). É possível ver o pager, a cartela de fichas da Telesp, o aparelho de fax, os primeiros celulares e até peças históricas como o primeiro notebook usado por jornalistas do Estadão, computadores Macintosh antigos (que mostram páginas de internet, como do buscadores “Cadê?”, “Altavista” e o portal Geocities, claro, após você ser conectado por um discador da UOL – veio a sua cabeça o barulhinho da conexão realizada via modem… o som também está lá!).

A exposição mostra a evolução tecnológica, não apenas na mídia, mas em videogames, no mobiliário, nos brinquedos podendo conhecer Genius, Merlin ou até jogar o fliperama do Pac-Man

Exposição conta com um álbum interativo de mídia

Sim, a memória afetiva será acionada pelo visitante a todo momento, o que não foi diferente para nós ao criarmos a exposição. Mexeu com todos. Claro que os mais jovens poderão olhar para muitos itens e se perguntar: “o que é isso?” Esse é o mundo que vivemos e que em tão pouco tempo (percebam, apenas 50 anos!) modificou-se de tal forma, tecnologicamente, na moda e nos costumes, que parece que vivemos em um outro tempo… Futurístico aos olhos daqueles que viviam em 1968! Naquele ano nem mesmo o homem havia chegado a Lua, o que só aconteceu um ano depois, 1969, seguida da conquista do tricampeonato de futebol no México 1970, no ano seguinte – demonstrada em cores, pela televisão, para parte dos brasileiros… Resumo inicial até chegarmos a atualidade na exposição!
As características de cada década permitem ao visitante uma grande viagem – criada pela competente cenografia da Caselúdico, conhecida por exposições de sucesso como “Castelo Rá-tim-bum”, “Tim Burton” e “Silvio Santos Vem Aí” (onde pela primeira vez trabalhamos juntos), tendo como diretor de criação o competente Marcelo Jackow. A Piraporanó, do mídia Paulo Camossa, responde pela coordenação geral do projeto, cujo gerenciamento operacional é da Duo Experience.

Exposição conta com janelas virtuais, presentes em cada módulo que estão divididos em espaços de dez anos

Paulo Sant’Anna, presidente do Grupo de Mídia São Paulo, comentou à Revista da SET que a mostra é “um presente para a cidade. Uma oportunidade de entretenimento para as famílias viajarem juntas por estas décadas tão marcantes na vida dos brasileiros”. Já Bruno Assami, diretor do Unibes Cultural, onde acontece a mostra (ao lado do Metrô Sumaré, Linha Verde), complementou afirmando que a “mídia e comportamento andam lado a lado há 50 anos, então nada mais atual do que uma mostra como essa”.
Ficou curioso? Portanto, dou mais uma colher de chá sobre o conteúdo. Irão encontrar de tudo em cada período. Por exemplo, de 1968 a 1977 falamos sobre a massificação das mídias, do crescimento do rádio e da TV, da televisão em cores, do surgimento da Revista Veja (o primeiro exemplar está lá exposto), de novelas históricas como “Beto Rockfeller” (Tupi) e “O Bem Amado” (Globo), edições censuradas de jornais (após ser criado o Ato Institucional nº 5, em 1968). De 1978 a 1987, temos um Brasil via Embratel, com a formação das redes nacionais, a transmissão das Diretas Já, a expansão das rádios FM, revistas verticais como Bizz e Somtrês e a chegada do videocassete. Em 1988 a 1997, acompanhamos o surgimento da TV paga, a segmentação das revistas, rádios e TVs (como a MTV Brasil), a nova Constituição, novelas como “Vale Tudo” (“Quem matou Odete Roitman?”), e “Pantanal” (da extinta Manchete), novos ídolos (como Senna e Guga Kuerten), o crescimento da Internet e a chegada das redes internacionais de cinema. Depois de 1998 a 2007, o “bug do milênio” (lembram?), a Internet grátis e a banda larga, os comunicadores online como ICQ e MSN Messenger, as rádios web, comunidades como Orkut e Facebook, os reality shows, a revolução na mídia exterior e o surgimento do Google. Por fim, 2008 a 2018, a “Era Digital”, com blogs, sites, redes sociais, plataformas digitais, a segunda tela, a digitalização do people meter (é possível ver um medidor de audiência na mostra, da Kantar Ibope), a criação de seriados inesquecíveis, o rádio (com câmeras nos estúdios), o out of home (com TVs no ônibus, trem, anúncios eletrônicos em relógios e abrigos de ônibus), Netflix, aplicativos, cinema multiuso, a TV Digital… Ufa!

O storytelling da exposição conta com legendas que são uma extensão da narrativa, contando histórias paralelas e complementares, em época de transmidialidade

Venha ver de perto tudo isso e mais um pouco, até o dia 03 de fevereiro de 2019. Há também um álbum de figurinhas gigante (que o visitante pode manipulá-lo), jingles inesquecíveis, uma linha do tempo do Grupo de Mídia e um tecnológico rio da mídia, com imagens surgindo em meio a ondas.
Você, que faz parte desses 30 anos da SET, irá relembrar muitos momentos que marcam esse período, descritos nos avanços tecnológicos, assim como nos reflexos sociais causados por essas transformações.
“50 Anos de Mídia no Brasil: 1968-2018” pode ser visitada no espaço Unibes Cultural (Rua Oscar Freire, 2.500, no bairro paulistano do Sumaré), de terça a domingo, das 10h30 às 18h30 (classificação livre). Fica aqui o convite.

Elmo Francfort Elmo Francfort
Elmo Francfort é radialista, jornalista, professor de Rádio, TV e Internet da Universidade Anhembi Morumbi, como diretor do Memória da Mídia (www.memoriadamidia.com.br). É Mestre e pesquisa comunicação desde os anos 1990. É autor de diversas obras sobre história da mídia, sendo que participa dos eventos da SET desde 1998. Escreva-me: [email protected]