SET Norte 2018: eficiência da emissora vem da modernização da tecnologia e atualização profissional

Desafios na gestão, manutenção, operação e modernização de uma emissora de TV foram tema de um debate no SET Norte 2018. Moderado pelo superintendente da SET, Olímpio José Franco, três diretores técnicos de emissoras de TV responderam à pertinentes perguntas do meio da radiodifusão, foram eles: Henrique Camargo, da TV Cultura do Amazonas; Henrique Salazar, da Televisão A Crítica e Eduardo Lopes, da Rede Amazônica.

  • Qual é maior desafio atual da diretoria técnica?

Henrique Camargo – Embora o switch-off das pequenas cidades seja um problema realmente preocupantes, creio que acompanhar a tecnologia das cabeças de rede seja o maior desafio. Não conseguimos fazer teste de conceito e pesquisas, e não podemos errar. Basicamente temos que aguardar o que acontece nos grandes centros para ter uma base do que fazer aqui. O gap ainda é muito grande.

  • Teria plano de transferir parte de suas operações para a nuvem?

Eduardo Lopes: a rede amazônica tem feito testes para migrar e ser 100% virtualizado em uma cloud privada. Nosso sistema de MAM já é 100 % em cloud na IBM e novos testes estão sendo feitos para definir os outros detalhes.

  • Você tem algum plano de migrar a infraestrutura de sua emissora para IP?

Henrique Salazar – acredito que todas as emissoras têm essa preocupação e vão migrar para IP. Mas isso vai impactar na emissora. A ideia é que consigamos aliar o investimento em IP com o que possa agregar ao setor comercial da emissora, e este setor tenha uma nova visão de agregar valor para a empresa. Creio que essas mudanças levarão de 3 a 4 anos.

  • O cronograma de desligamento da TV Analógica, está chegando ao fim (2023), e logo todo o Brasil deverá ter apenas operações de sinais digitais. Qual é o maior desafio em conseguir atender a esse cronograma? O que vem depois?

Henrique Camargo – a tecnologia já está bem resolvida, já conhecemos razoavelmente bem a TV digital, que não era verdade quando as cabeças de rede migraram. Hoje o grande problema, principalmente no Norte é a acústica, aqui o valor geralmente dobra pelo frete de se trazer uma torre, então a infraestrutura é uma parte critica e de extrema importância porque todos temos que fazer a migração, mas vai depender muito se vamos conseguir ou não compartilhar infraestrutura. O lado bom aqui no Amazonas é que todas as localidades atendidas já têm alguma base, então pode ser o indício de um compartilhamento. O desafio depois é manter isso e entregar uma energia e climatização adequada aos equipamentos.

  •  O consumo do video on demand, vem crescendo, assim como a oferta vem aumentando. Como você enxerga o futuro da TV Aberta com esse cenário?

Eduardo Lopes – acredito no processo de conseguir fazer a jornada do consumidor inteira e saber o que ele assiste e direcionar o conteúdo de propaganda para ele mais personalizado possível. Eu sou entusiasta sobre isso porque a televisão ainda consegue atingir grande quantidade de público de maneira gratuita em uma final de campeonato de futebol, por exemplo, oferecendo uma expêriencia que o usuário não vai ter na internet ou no streaming.

  • Como equacionar: investimento x modernização x crise do mercado publicitário?

Henrique Salazar – todo mundo está atrás dessa reposta, mas no meu ponto de vista, acredito que o estudo vem interligar os mercados. A TV aberta hoje vem perdendo uma fatia para a internet, fazendo com que existam várias possibilidades de fazer propaganda. Acredito que a TV tem que entender isso e migrar para todas as plataformas também. Prezando pela qualidade, pela informação. Entendo que temos que investir mais em informação para combater essa crise de mercado. Fazer os investimentos necessários. A modernização vem da consequência de todas essas ações.

  • Como você vê o futuro da TV aberta e seu papel nas vidas das pessoas da geração Z (nativos digitais, nascidos entre anos 90 e 2010) e geração Alpha (nascidos a partir de 2010), tendo em vista particularmente as emissoras regionais/locais ?

Henrique Camargo – isso é um problema, né? Quanto a geração Z, eu não tenho tanto medo porque eles ainda têm um bom relacionamento com a tela grande. Na hora em que começarmos a fazer a convergência do broadcast com o broadband na tela grande e alimentar o OTT, conseguiremos manter o pessoal junto da TV aberta. Já a geração Alpha, não se preocupa com o tamanho de tela e nem consegue assistir à TV linear, eles estão sempre em movimento. Não sei se teremos que migrar para as outras telas para atende-los. Acredito que esse é um desafio e ainda não temos a solução. Por outro lado, a tv aberta ainda tem a credibilidade jornalística e os grandes eventos.

Eduardo Lopes – é a realidade dos meus dois filhos. Eles colocam aquilo que eles escolhem e assistem no celular. Eles realmente acreditam que a tela grande é especifica para jogar video game. Quem tem filho pequeno sabe que eles não tem um apego ao que assistem, esquecem rápido. Então essa característica pode ser um indicador de que eles podem voltar à tv grande para assistir a conteúdos pontuais e de noticias.

  • Como está a capacitação da equipe técnica?

Henrique Salazar – a gente sofre um pouco por estar no norte, temos carência de cursos profissionalizantes e geralmente temos que recorrer ao sul e sudeste. Acredito que geralmente a capacitação vem disseminada por algum membro que passa o conhecimento aos outros colegas. Poucas pessoas têm oportunidade de fazer uma capacitação fora do estado e as vezes a empresa não tem capacidade de trazer o treinamento para a emissora. a migração para o IP é um desafio pela nova tecnologia e suas particularidades. Será necessário investir na capacitação dos funcionários.

  • Como são realizados os trabalhos de capacitação e treinamento?

Eduardo Lopes – a globo em si tem uma universidade corporativa que fornece capacitação aos funcionários. Temos um crescimento muito expressivo de pessoas interessadas em fazer o curso, mas vai muito do profissional. Tem um grupo mais antigo que gosta do que faz e busca conhecimento, sempre se atualiza e não espera que a empresa ofereça. Tem outra geração hoje que quer ficar milionária sem estudar e fica esperando a empresa pagar os cursos para ter o conhecimento. O envolvimento das equipes em trocar informação em si conta muito também. As pessoas precisam estudar para aprender.

  • Quais são as dificuldades de selecionar bons profissionais?

Henrique Camargo – pra começar, Manaus não tem mais curso de telecomunicação. Mesmo que tivesse, a gente que ta fora de grandes centos tem dificuldade em reter talentos fora dessas localidades. Não é uma característica nossa, a indústria também tem isso, como as emissoras não estão passando hoje por uma fase financeira favorável, esta ficando cada vez mais difícil reter esses profissionais aqui. Estamos tentando fazer uma capacitação no campo e levando pessoal do TI para o broadcast, tem dado resultado.

Eduardo Lopes – a pessoa que está se formando quer uma ascensão rápida na carreira e radiodifusão não tem essa tendência. Ou você gosta, ou não. E quem não gosta não cresce.

Henrique Salazar – geralmente a gente acaba vendo quem é um entusiasta da área e acaba investindo nessa capacitação do profissional.

 

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Captação de som e imagem pela Rede Amazônica.

Por Tainara Rebelo em  Manaus (AM), e Fernando Moura em São Paulo (SP)