Fake news apelam e viralizam mais do que notícias reais, mostra estudo

Fonte: ANJ (Associação Nacional de Jornais)

As notícias falsas (fake news)têm 70% mais chances de “viralizar” na internet do que as informações verdadeiras. Quando a falsidade é ligada à política, o alastramento é três vezes mais veloz. Além disso, alcançam um público muito maior. A conclusão está no mais amplo estudo sobre a disseminação de conteúdos mentirosos, realizado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. A pesquisa foi publicada nesta quinta-feira (9) na revista Science.  Na mesma edição, 15 cientistas reforçaram que Twitter, Facebook e Google têm “responsabilidade ética e social que transcende as forças do mercado” e devem ajudar nas pesquisas sobre o tema.

A pesquisa analisou 126 mil postagens no Twitter, feitas entre 2006 e 2017, por cerca de 3 milhões de pessoas e replicadas mais de 4,5 milhões de vezes na rede social, informou O Estado de S.Paulo. Elas foram analisadas por seis agências independentes de checagem. O resultado mostrou que cada postagem verdadeira atinge, em média, mil pessoas. As falsas, porém, podem chegar a 100 mil.

Da natureza humana

Ao contrário do que se pensava, os robôs aceleram a disseminação de informações falsas e verdadeiras nas mesmas taxas. Isso significa que as fake news se espalham mais do que as verdadeiras porque os humanos – e não os robôs – têm mais probabilidade de disseminá-las.

“Esperávamos que as notícias falsas se espalhassem com mais rapidez e de modo mais abrangente. O que nos surpreendeu é que robôs não são determinantes como pensávamos para a divulgação dessas notícias”, disse.

Outra conclusão que contraria o senso comum é sobre o perfil de quem divulga fake news. “É natural imaginar que características como popularidade poderiam explicar por que as mentiras viajam mais rápido que a verdade, mas nossos dados mostram o contrário. Usuários que espalham notícias falsas têm menos seguidores, seguem menos gente, são menos ativos e estão no Twitter há menos tempo, em comparação aos que replicam notícias verdadeiras.”

Avaliando a reação de usuários que replicam informações, o estudo apontou que as mentiras inspiram “medo, revolta e surpresa”. Já a verdade causa “expectativa, tristeza, alegria ou confiança”. Para Aral, o resultado permite levantar a hipótese de que notícias mais inusitadas têm mais chance de serem compartilhadas. “Inspiram respostas que expressam grande surpresa, corroborando o que chamamos de hipótese da novidade. O novo atrai a atenção, e as pessoas compartilham mais informações com novidades.”

“Nosso estudo teve foco nos Estados Unidos, mas as conclusões podem ser extrapoladas para qualquer país, como o Brasil. Detectamos os mesmos padrões de disseminação das informações falsas em diversos países de língua inglesa, e isso se aplica a postagens em outros idiomas”, disse ao Estado o autor principal do estudo, Sinan Aral, pesquisador do MIT.

Pablo Ortellado, professor de Gestão de Políticas Públicas da USP e colunista da Folha de S.Paulo, afirma que o que faz com que notícias falsas se tornem “virais” é o apelo a sentimentos políticos das pessoas em um momento de polarização da sociedade. Contudo, as notícias verdadeiras que apelam para esses mesmos sentimentos também atingem grande desempenho nas redes.

“As notícias falsas são desenhadas para atingir o coração dos sentimentos fortes, de medo, rejeição e surpresa. Mas as notícias verdadeiras disputam com elas, os jornalistas sabem que se tocarem no sentimento das pessoas, vão ter compartilhamento maior”, afirma Ortellado, que realiza pesquisa sobre “fake news”.

Ortellado, que não participou da pesquisa publicada na revista científica Science, faz a ressalva de que é necessário tomar o cuidado ao fazer comparações de desempenho entre notícias falsas e verdadeiras com base no que é checado por organizações que verificam a veracidade de notícias. “Notícias que são marcadas como falsas [por essas organizações] são as que viralizam. São as notícias falsas que deram certo”, diz.

Para o pesquisador, a principal conclusão do estudo publicado na Science “não é que a mentira se espalha mais rápido que a verdade”, mas sim que “coisas que apelam a sentimentos políticos [e outras emoções] se difundem mais rapidamente.”

Mentiras sofisticadas

No artigo publicado por 15 cientistas na edição de ontem da revista Science, além de frisar a responsabilidade das gigantes de tecnologia, eles convocaram a comunidade científica internacional para um esforço interdisciplinar de estudar as forças sociais, psicológicas e tecnológicas por trás das fake news. Para eles, os métodos disseminadores estão sofisticados e é preciso combatê-los.

Segundo Filippo Menczer, professor da Universidade de Indiana (EUA) que assina o artigo, as fake news afetam não só a esfera política, mas também a saúde pública, como nutrição e vacinação, e o mercado de capitais.

Leia mais em:

http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,fake-news-se-espalham-70-mais-rapido-que-as-noticias-verdadeiras-diz-novo-estudo,70002219357

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/03/fake-news-apelam-e-viralizam-mais-do-que-noticias-reais-mostra-estudo.shtml

https://oglobo.globo.com/sociedade/noticias-falsas-voam-mais-rapido-longe-que-as-reais-no-twitter-22471535

 

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