Dia da Televisão: 7 décadas de inovação

Passaram-se 70 anos da chegada da TV ao Brasil, e hoje a TV aberta está viva, ganha relevância e avança para sua versão 3.0

Sala dos transmissores da TV Tupi no Edifício Altino Arantes/ Foto: TV Tupi. Uma Linda História de Amor (2008)

Falar de televisão no Brasil e falar um pouco da cultura brasileira, falar de empreendedorismos e inovação. Assis Chateaubriand lançou o projeto da TV aberta no país em setembro de 1950 inaugurando as transmissões regulares de TV, mesmo sem legislação nem um público definido, na cidade de São Paulo com a TV Tupi, que viria a ser o canal 3 paulistano.

Na edição 183 da Revista da SET, na seção “Memoria da Radiodifusão”, o professor Elmo Francfort, diretor do Museu da TV, Rádio & Cinema, afirmava que “Inicialmente a ideia foi de que a primeira emissora fosse montada no Rio de Janeiro, então Capital Federal e local em que muitas das atividades dos Diários Associados eram centralizadas. Por fim, acabou que São Paulo foi a primeira emissora do País, após estudos internos dentro dos Diários Associados.  São Paulo em 18 de setembro de 1950 inaugurou, com equipamentos da RCA, a TV Tupi, canal 3 paulistano. Pouco tempo depois, com equipamentos da GE, foi implantada no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1951, a TV Tupi, canal 6 carioca.”

Francfort narrou nessa matéria que no dia da estreia nem tudo correu como estava previsto, e ensaiado, pois “no início da transmissão uma das câmeras RCA TK-30 apontou um defeito e parou de funcionar” o que determinaria “o cancelamento da estreia da TV Tupi naquela noite. Acontece que o jovem Cassiano Gabus Mendes – com pouco mais de 20 anos, o primeiro operador de switcher do Brasil, e assistente do diretor-geral da emissora Dermival Costa Lima – discordou, e “bateu o pé” em relação à decisão. Disse que o show iria continuar com uma câmera a menos. E foi o que aconteceu. Com garra, criatividade e improviso foi ao ar o show “TV na Taba”, em que numa só noite todos os gêneros foram apresentados, da teledramaturgia ao esporte”. Desde esse dia ficou claro que a TV ia ser feita pela junção de pessoas e tecnologias.

Pandemia

Durante a pandemia, a TV aberta fortaleceu ainda mais o seu papel, explica o presidente do Fórum SBTVD, Luiz Cláudio Costa, e afirma que “seja no dia a dia, ou em grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de Tóquio, a TV aberta tem o poder de conectar o mundo e diminuir distâncias”. Isto foi o que revelou também a pesquisa realizada pela Globo com mais de 1.600 pessoas, de todas as classes sociais e regiões do Brasil, em que 44% dos entrevistados pensavam em fazer alguma melhoria em casa, inclusive, adquirindo um novo televisor (30%) para acompanhar os Jogos Olímpicos.

Fórum SBTVD apresentou o DTV Play no SET Expo 2019 / Foto: SET

Isso mostra disse Costa,  que, desde a chegada da TV digital em 2007, a TV aberta se tornou ainda mais democrática, ao proporcionar um sinal de TV sem chuviscos ou fantasmas e hoje 75% da população já tem o sinal digital disponível e, até 2023, 100% dos brasileiros estarão cobertos pela TV digital, reforçando o seu caráter social de levar informação que, por sua vez, leva a inclusão digital para todos.

A digitalização do sinal de TV aberta permitiu um avanço notável no desenvolvimento tecnológico da TV aberta. Com o uso de novas tecnologias, a televisão levará uma nova experiência ao telespectador, perfeitamente ajustada à realidade atual, na qual o público se habituou ao uso de diferentes plataformas para consumir conteúdo audiovisual.

Para Costa, isso será realidade muito em breve pois, ainda neste ano será lançado no mercado brasileiro o DTV Play, tecnologia desenvolvida pelo Fórum SBTVD que possibilitará que o telespectador assista à programação da TV aberta e conteúdos via internet, com vídeos em UHD, além de permitir a integração dos serviços de TV aberta com internet, o que possibilitará a oferta de inúmeros novos serviços de utilidade pública, além permitir diferentes maneiras de serviços bancários; participação em quizzes de reality shows; interação entre professores e alunos em aulas a distância, entre outros.

Jogos Olímpicos Tóquio 2020 em 8K, uma parceria de Globo, NHK e Intel/ Foto: Reprodução JN/Globo

E, com o DTV Play, a TV aberta começará a oferecer conteúdos com HDR (High Dynamic Range), que reproduz as cores da imagem com muito mais precisão, e áudio imersivo, que leva o telespectador a se sentir “imerso” na cena. Tanto HDR quanto áudio imersivo eram recursos somente disponíveis em serviços de streaming pagos, mas que agora estarão disponíveis para os usuários da TV aberta.

“A TV aberta é incansável: nos próximos anos, os telespectadores poderão contar com a TV 3.0, que além de todos os recursos que serão disponibilizados pelo DTV Play, poderão usufruir de outros recursos como programas e vídeos em 8K, targeted content (conteúdo direcionado) e VOD (video on demand)”, finaliza Costa.

Futuro

No seu livro, “TV aberta no Brasil: que televisão queremos ver?”, o professor Francisco Machado Filho (2021) afirma que a radiodifusão precisa de uma revisão regulatória, mas que “é preciso compreender e aceitar que fazer televisão aberta de qualidade é muito caro. E é, antes de tudo, um negócio, foi com esse posicionamento que a TV foi implantada no país por Assis Chateaubriand. Não se pode, depois de mais de 70 anos de existência de TV privada brasileira, implantar leis ou normas que não levem em conta a historia e o papel social dessas emissoras”.

O professor da Unesp e diretor da TV Unesp finaliza o seu livro dizendo que “a principal modalidade de televisão no país sempre foi e deverá ser a TV privada (…) Citando Arlindo Machado, “a TV é sempre será aquilo que fizermos dela”, pois ele é reflexo da sociedade na qual esta inserida, e o que precisamos entender de fato é que o sistema de radiodifusão é um bem público e não devem faltar esforços em se preservar esse sistema. Certamente, a televisão que queremos ter é aberta, gratuita e verdadeiramente compromissada com a Democracia”.

Por Fernando Moura, em São Paulo