“A televisão unificou o país”, afirma presidente da Abratel

Hoje, 18 de setembro de 2020, a TV brasileira completa 70 anos de vida repleta de momentos que marcaram a vida de milhões de brasileiros.

Uma das entidades responsáveis por preservar estas memórias e garantir a continuidade sustentável da televisão é a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel).

O presidente da Abratel, Márcio Novaes (foto), concedeu entrevista à SET para falar desde momento tão importante na história do Brasil.

SET: Na sua opinião, qual foi o maior impacto que a televisão causou na sociedade?

Márcio Novaes: Acredito que a televisão impacta todos os dias por levar informação, entretenimento e cultura para um público que tem muito mais o hábito de assistir e ver uma tela do que o hábito da leitura.

Creio que o grande papel da televisão brasileira tenha sido conseguir, durante os 70 anos de vida, se renovar a cada dia e se manter popular mesmo com todo a tecnologia, todo o conteúdo, toda a arte e todo o profissionalismo dos grandes veículos que hoje são tidos como muito mais modernos que a televisão.

A televisão unificou o país, o único da América do sul que fala português. Ela conseguiu manter e ajudou a construir um país falando a sua língua, a sua cultura e os seus sotaques. Tudo isso, sem atrapalhar, mudar ou descontruir, fazendo cada brasileiro ter orgulho de suas raízes e de suas origens. Talvez seja esse o grande impacto da TV.

SET: Nesses 70 anos de televisão no Brasil, em algum momento houve um ápice a respeito de sua importância na vida das pessoas?

MN: Se nós pensarmos em televisão como veículo de informação, ela está todos os dias construindo algo na história. A televisão colocou e tirou presidentes do cargo, nomeou ministros, governadores, ajudou a construir culturas e vertentes políticas e, até mesmo, ideologias. O papel da televisão é heterogêneo com períodos e marcos históricos do Brasil.

É um caso à parte comparado com outros países, principalmente, porque a TV aberta no Brasil é um fenômeno que não se repete em nenhum outro país do mundo. Já faz parte da paixão e do hábito de cada brasileiro chegar em casa e ligar o aparelho de televisão. A tevê une a família brasileira em torno de si na sala de casa ao longo dessas sete décadas.

SET: O senhor acredita que também pode ser um marco essa questão da evolução de consumo e propagação de notícias do rádio para a televisão?

MN: O rádio e a televisão acabaram não tomando o lugar do outro, foi complementar. O rádio continua levando a informação sonora e a televisão, a imagem e o som. A diferença é que a tevê soube materializar, por meio da arte, a imaginação de milhões de brasileiros. Esse é o grande legado da televisão nos seus 70 anos: a expertise que ela teve de utilizar a imagem e o som e fazer a arte acontecer na sala da casa das pessoas, unindo a família em torno da cultura, do entretenimento e da informação.

SET: Quais os principais desafios para manter a credibilidade, qualidade e sustentabilidade da TV no Brasil?

MN: Sobre a credibilidade, a tevê continua fazendo o que ela faz: produção com responsabilidade. A televisão brasileira tem cada vez mais emissoras e grandes redes nacionais dedicando maior tempo ao jornalismo. Sempre mantendo a responsabilidade e o compromisso com a verdade, sem perder a regra sagrada da imparcialidade. Porque o bom jornalismo é imparcial. Se o jornalismo tende a algum viés, seja ele ideológico, partidário ou de interesses, ele corre o risco de perder a sua credibilidade. E jornalismo sem credibilidade, para mim, não é jornalismo.

Em relação a qualidade e sustentabilidade, eu complementaria dizendo que o grande desafio é acompanhar e ficar atento às tecnologias e levar o seu conteúdo a esses novos tipos de mídia. É permitir que as pessoas, independente do meio de propagação, continuem a receber o sinal da tevê. Até porque, é importante destacarmos que a televisão da radiodifusão brasileira é, há 70 anos, gratuita e livre. Ninguém paga nada para acessá-la. Basta o indivíduo comprar um receptor, um aparelho de televisão, instalar na sua casa e acessar conteúdos de cultura, entretenimento e informação de altíssima qualidade. Ou seja, está explicado o sucesso da televisão no Brasil: a gratuidade com um produto de grande qualidade.

SET: E daqui para a frente?

MN: Pensando no futuro, nosso grande desafio é fazer com que este produto continue a chegar na casa das pessoas, sem barreiras, sem restrições, e sem favorecimentos injustos. E que tenhamos, acima de tudo, o cumprimento de princípios fundamentais que não pertencem só da Constituição Brasileira, mas de qualquer constituição de um país democrático, que é o respeito às regras, à competitividade e, principalmente, à isonomia.

O grande problema que enfrentamos é a assimetria regulatória e tributária. Este tratamento desigual torna completamente injusta nossa concorrência com as grandes plataformas digitais, que não têm, sobre si, a mesma carga regulatória, tributária e legal que nós temos. Por isso, é importante que a radiodifusão brasileira, falando de quem cuida e quem faz, se mobilize para que as autoridades reconheçam tal assimetria e atuem para minimizá-la a fim de preservar uma radiodifusão livre e gratuita para todos os brasileiros.

SET: Como o senhor imagina a televisão nos próximos 70 anos?

MN: Eu imagino a televisão brasileira – pelo fato de ser livre, aberta e gratuita, fazendo seu centenário, seu bicentenário e assim vai. Óbvio que existirão outros meios de acesso a essa televisão, mas ela vai continuar gratuita e de altíssima qualidade. Isto eu não tenho dúvida. O mercado e o consumo sempre irão existir e as pessoas sempre irão procurar o maior alcance e com valor social agregado. Por isso, acredito a televisão tem uma vida longa pela frente.

SET: Qual o momento/memória mais marcante que o senhor tem envolvendo a televisão?

MN: Dois momentos da televisão marcaram a minha vida. O primeiro, foi o homem chegar à lua em 19 de julho de 1969. Foi emocionante e significativo assistir esse feito na televisão em preto e branco. A antena precisava ter 20 metros de altura e ficava do lado de fora da casa, pois o sinal era ruim. O outro momento foi a Copa do Mundo de 1970, onde o Brasil ganhou o tricampeonato, no México. Foi a primeira Copa transmitida ao vivo, sendo um marco para a televisão brasileira e, também, um marco na minha vida. Embora fosse uma criança, eu e mais 90 milhões de brasileiros nos reunimos com as nossas famílias na sala para acompanhar o torneio mundial.

Ratifico que a televisão une a família e esse é um grande papel que o veículo não pode perder. O de manter a família unida em torno de si. Lembrando que essa não deve ser a única forma de reunir os familiares, até porque a melhor maneira é como Jesus nos ensinou: na comunhão em uma mesa, onde dividimos o alimento. Mas, sempre depois do jantar, as pessoas têm alguma coisa para ver na televisão. Espero que continue essa comunhão em torno da TV e, acima de tudo, que os veículos saibam respeitar isso. E eles tem sabido. E espero que continuem a saber.