Reinventando a Televisão

 

Testes da SET revelam

Série de palestras realizadas durante o Campus Party 7, em São Paulo, colocaram na agenda temas importantíssimos como a reinvenção da Televisão, o futuro do sinal aberto de TV, a TV por assinatura, os novos formatos e conteúdos audiovisuais e fundamentalmente como a indústria vai ter de se reformular até o fim da segunda década do século XXI. Nesta reportagem abordamos ainda algumas invenções nacionais apresentadas no evento

Nº 140 – Fev/Mar 2014

Por Fernando Moura

Reportagem

sétima edição do mais importante evento de tecnologia, inovação e cultura digital da A mérica Latina, o Campus Party 7 (CPBR7), ocorreu entre os dias 27 de janeiro e 2 de fevereiro, no A nhembi Parque, na capital paulista, e atraiu cerca de 130 mil visitantes à A rena e à Open Campus (área gratuita). Oito mil campuseiros brasileiros e de outros 17 países, como Eslovênia, R ússia e Suécia, se abrigaram em cinco mil barracas. Esses jovens, na maioria homens (75%) com idades entre 18 e 29 anos (74%), acompanharam as 500 horas de conteúdo promovido pelos mais de 700 palestrantes, três workshops e outros espaços de interação dos participantes.
Os 64 mil m² de área de evento receberam internet de 40 GB, capacidade que poderia abastecer uma cidade de 4,5 milhões de pessoas. 18KWA de energia foram consumidas, 150 mil litros de água potável distribuídos, e 62 mil quilos de alimentos foram produzidos. Durante o evento se realizaram inúmeras palestras que se estenderam por mais de 500 horas dividas em diferentes palcos instalados no centro de convenções. Também houve diversos workshops e demonstrações de inovação tecnológica para quase todos os gostos. Um dos temas abordados nas palestras foi “a nova televisão e os seus desafios” que para Salustiano Fagundes, C EO da HXD Smart Solutions e membro da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), são fundamentais no nosso tempo.
“A televisão, os telespectadores e o ecossistema da televisão está mudando rapidamente “, afirmou em entrevista à Revista da SET. “A TV tradicional vai continuar existindo porque ela tem uma vantagem competitiva muito importante sobre os demais suportes que é a sua história. Enquanto os novos players de tecnologia estão apreendendo a fazer, a TV aberta o faz e muito bem há meio século. Mas seja como for, precisam mudar e repensar sua forma de fazer”, disse Fagundes.

A sétima edição do mais importante evento de tecnologia, inovação e cultura digital da A mérica Latina, o Campus Party 7 teve mais de 130 mil visitantes.

Fagundes abriu a série de palestras sobre televisão com o tema, “O impacto do digital nos novos formatos de conteúdos audiovisuais: Quais os desafios e as oportunidades para os produtores brasileiros?”, realizada no palco principal do evento. Dela participaram Vera Zaverucha, diretora da A ncine; Diego Higgins, YouTube Platform Partnership Manager – LATAM; Luis Bianchi, gerente de marketing digital da Philips/TP Vision; e C osette C astro, professora do mestrado em C omunicação na Universidade Católica de Brasília (UCB).
Para Fagundes, mediador da discussão, “os usuários têm hoje ao seu dispor tecnologias que permitem produzir os seus próprios conteúdos em diversos formatos e transmiti-los pela internet. Por outro lado, os canais tradicionais de televisão em todo o mundo estão experimentando novos formatos utilizando cada vez mais o digital e aproximando a TV da Web. Por aqui as iniciativas para fomentar criação e negócios com conteúdos digitais ainda são embrionárias, mas já demonstram o grande potencial que temos devido à nossa ampla diversidade cultural”.
O executivo de Youtube, Diego Higgins, disse à Revista da SET que é preciso “reinventar a TV” e pensar nela como um sistema “digital” com “multi-telas” capaz de ser reproduzido em todos os lados e sem fronteiras, por isso, ele conta que a empresa está fechando parcerias com firmas aeronáuticas e com montadoras de carros.

A professora Cosette C
astro (
UCB) defendeu a
TV Digital pública e
gratuita como uma forma de desenvolvimento social.

A professora Cosette Castro ( UCB) defendeu a TV Digital pública e gratuita como uma forma de desenvolvimento social.

Para Higgins, dependendo da plataforma que se utilize é preciso estabelecer formas de ver e produzir TV.
“A pessoa que está em um avião acessa o Youtube para ver os mesmos conteúdos que assistiria na sua casa ou celular. O que precisamos é disponibilizar o mesmo conteúdo em diferentes plataformas, mas sabendo que não necessariamente o mesmo conteúdo será assistido em todos os lugares. Esse é o nosso desafio, estabelecer parâmetros e procurar oferecer diferentes formatos para cada opção”.
Ante a pergunta da Revista da SET sobre se o Youtube pretende ser uma espécie de plataforma de TV Everywhere, Higgins foi claro: “Com certeza, essa é a nossa ideia. Distribuir conteúdos, democratizar o conteúdo sem desvalorizar a qualidade técnica dele”.

TV 3.0
Luis Bianchi, da Philips, vai mais longe. Ele afirmou que em 2014 serão vendidos no Brasil mais de 7 milhões de smart TVs e que a implantação da TV Digital e o switch-off estão alavancando as vendas e o acesso dos usuários às plataformas que as empresas produtoras de smart TVs estão criando.
Ele afirma que o futuro da TV é a TV 3.0. “Acreditamos que a TV linear OTT irá explodir junto com o sucesso do VoD, liderados por Netflix. Para nós, a tendência é que tudo se arquive na nuvem e se assista através das plataformas que estão incluídas nas novas TVs.” De fato, para Bianchi o futuro são as “Smart Home”, ou seja, casas conectadas onde existam diversas opções de visualização ligadas através de banda larga de internet. “Teremos uma distribuição de sinal mais democrática. Todos os usuários poderão aceder a todo tipo de conteúdos sem grelhas de programação e restrições.”
“Em muito pouco tempo essas casas terão como ponto chave uma conexão de banda larga sem fios desde onde poderão controlar vários devices e multi-telas assistindo conteúdos armazenados na nuvem livres ou on-demand e nas plataformas das TVs”, afirma Bianchi. Para ele, no futuro já não haverá necessidade de ter um sistema de TV por assinatura ou antena para receber o sinal de TV aberta. “Nas plataformas das TVs os usuários poderão aceder a todos os conteúdos.”
A professora Cosette Castro fez, no Campus Party 7, um apelo importante ao aumento do investimento da TV aberta na interatividade e no projeto Brasil 4D (noticiado nesta Revista em edições anteriores) afirmando que a internet é um meio de campo para que as novas plataformas possam trabalhar, mas que a TV Digital pode ser outra forma de levar interação aos telespectadores. Para ela, o processo da TV Digital no Brasil superou o debate puramente tecnológico e passou a envolver mais intensamente a discussão sobre conteúdo. “No caso do Brasil 4D, desenvolvedores de software e profissionais da comunicação, do audiovisual, da arte, do design, da engenharia e da informática estão trabalhando em conjunto”.

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No Campus Party 7 foi discutido o futuro da TV no Brasil e no mundo

No Campus Party 7 foi discutido o futuro da TV no Brasil e no mundo.Cosette disse à Revista da SET que pode haver muitas plataformas, mas a linguagem de todas elas é televisiva. “Independentemente da plataforma tecnológica, todas usam linguagem audiovisual televisiva”, e não só, “eles utilizam isso para produzir conteúdos, por isso continuamos a defender a TV Digital aberta no Brasil” e com ela, os “benefícios da progressão do aumento da distribuição no País”.
A palestra “A televisão e os novos desafios tecnológicos” travou uma interessante discussão sobre o futuro da TV, o modelo de negócio e os avanços tecnológicos que aconteceram nos últimos 10 anos e mudaram drasticamente a forma de produzir, captar e emitir produções audiovisuais no Brasil e no mundo.
Realizada no palco Pitágoras, se discutiu nela a evolução da tecnologia que culminou na convergência da televisão e da internet. Para o mediador e curador desta série de discussões, Salustiano Fagundes, “com um número cada vez maior de usuários de dispositivos conectados, a transmissão televisiva vem exigindo o uso de novas tecnologias para o gerenciamento, de forma integrada e escalável, de conteúdos digitais”. Assim, segundo ele, “o painel apresentou conceitos, demonstrou cases e explicou como soluções de cloud computing e big data podem ajudar a construir a nova televisão”. Discutiram este tema Cezar Taurion, chief evangelist da IBM Brasil; Marcello A zambuja, diretor da área de Webmedia na Globo.com; José Papo, tech evangelist da A mazon Web Services para a América Latina; e André Altieri, responsável pelo mercado de mídia e entretenimento na Cisco do Brasil.
Nela, Marcello Azambuja, da R ede Globo, afirmou que é preciso “agregar valor ao consumo de TV tradicional” e a “proposta de negócio tem de estar embasada em um modelo que banque a tecnologia”. A Globo já esta mudando algumas coisas abrindo conteúdos da TV na internet, disse A zambuja. “Estamos agregando valor a assinatura de TV com a possibilidade do telespectador poder assistir conteúdos na internet, como por exemplo com os canais Telecine, cujos conteúdos o assinante pode assistir em qualquer momento”.
Para o diretor da área de Webmedia da Rede Globo esta é a resposta da TV tradicional “à evolução tecnológica e de consumo. Se agregamos mais valor ao consumo que o usuário já tem, alimentamos a cadeia de valor dos assinantes com uma nova oferta nessa nova mídia que é a internet”.
Essa mudança é inevitável, segundo Azambuja, e as estatísticas mostram isso. O Executivo da Rede Globo disse no Campus Party 7 que o portal www.globo.com tem uma média de 20 milhões de usuários únicos por mês e 460 milhões de vídeos assistidos por esses visitantes com um potencial de crescimento muito grande. Para ele, a mudança está chegando, por isso é necessário que as empresas de mídia se preparem para isso. “Temos de ver como as empresas de vídeo vão responder para um cenário onde as pessoas assistam mais vídeos na internet que na TV”.

Salustiano Fagundes, CEO de HXD Smart Solutions e curador das palestras afirma que a TV tradicional terá de mudar para continuar existindo.Cezar Taurion, chief evangelist da IBM Brasil, foi mais além. Segundo ele, a internet está mudando gradualmente o modelo de negócio da TV tradicional e com essa mudança vai acabar o modelo atual.
“A grande transformação vai se dar no modelo de grade e horário nobre com uma percentual de faturamento muito alto nesse espaço e uma grade fixa. No mundo da internet ficar preso ao horário não faz parte do modelo. A cessamos aos conteúdos na hora que queremos sem sermos obrigados a assistir ao horário que a emissora quer. A í está a grande incompatibilidade do modelo”, disse Taurion.
Para ele, a medida que a televisão se for “entranhando na internet, o modelo passa da grade para o programa e isso muda a maneira de fazer dinheiro porque acaba o horário nobre”, por isso “a TV tradicional não vai desaparecer porque vivemos em um país desigual, mas sim vai mudar, se transformar em termos de modelo de negócio. Vamos ver as emissoras saindo de um modelo meio nudista com grade para um modelo mais eficiente que junte a TV e a internet”.

Para Cezar Taurion as emissoras devem iniciar a flexibilização da grade para 2020, usando a internet como parceira

Taurion afirma que hoje a internet é a plataforma e nela a “grade passa a ser muito mais flexível, a exceção de algumas coisas que não vão mudar. As emissoras têm de ser mais receptivas às mudanças e ver a internet como uma parceira e não mais como uma concorrente”.
José Papo, tech evangelist da Amazon Web Services para a A mérica Latina, afirmou no CP7 que é preciso “pensar em modelos disruptivos, romper com o que existe até hoje” e analisar como “a indústria interage entre si”. Para ele é fundamental que os produtores de conteúdo saibam que tem uma força muito grande no sistema atual e que sem ela não há TV.
“Antes produzíamos só para TV, agora podemos fazer para diversas plataformas, por isso esses produtores, essas empresas que só faziam streaming, ou seja, estavam comprando os direitos de reprodução dos vídeos e os passando, agora também estão criando. Por isso, a A mazom esta investindo na criação de conteúdos, porque o conteúdo neste momento é o rei”, disse Papo.

Finalmente, André Altieri, responsável pelo mercado de mídia e entretenimento na Cisco do Brasil, disse aos presentes que o futuro das emissoras está em ter fluxos completos de produção em datacenters de mídia “migrando os recursos de tráfego tradicional de dados para um tráfego diferente na nuvem que alivie a rede e, desta forma, deixe o trafego mais simples e automático”.
Altieri acredita que é preciso quebrar sistemas e transformar os fluxos de trabalho em sistemas “transparentes de forma que funcionem automaticamente permitindo a virtualização dos processos”.


Câmera de registro noturno

A empresa mineira Cotelek lançou, na Campus Party 7, a câmera Full HD 303 C 3 Tech. Um equipamento com registro noturno, suporte, conexão USB, tela LCD de 2,4 polegadas giratória de 270 graus, com lente C MOS WXGA HD.
Não é uma câmera broadcast, mas sim um equipamento que pode ser utilizado para registro e gravação em set de gravação, ou como câmera de suporte. Essa câmera foi desenhada e desenvolvida por engenheiros brasileiros em Varginha/MG.

Segundo Alexandre Oliveira, analista de produto de C otelek, a câmera pode gravar vídeo com infravermelho (6 LED) em formato de vídeo A VI com resoluções de 1280×720, 720×480, 640×480 pixels @30fps. O microfone e altofalante estão embutidos. “Não queremos concorrer com outros produtos do mercado, por exemplo, com a GoPro. Nossa câmera é uma solução simples de registro. O que interessa é que é um produto nacional”, disse Oliveira à Revista da SET no estande da marca.
A câmera possui bateria de lítio removível, gravação de vídeo em cartão SD (1-32GB), interface USB 2.0 (480Mbps), e alimentação através de carregador veicular ou bateria.
Cotelek é fabricante e distribuidor de periféricos de informática no Brasil, gera mais de 500 empregos diretos e indiretos, com uma área 110.000 m2, localizada em Varginha/MG, contando com o sistema de logística para distribuição de seus aparelhos no território nacional, com filiais em São Paulo\SP e São Bento do Sul\SC.


Inovação brasileira

Campus Party 7 trouxe milhares de jovens de diversos pontos do país e exterior a São Paulo com as mais diversas ideias e inovações tecnológicas. Escolher alguma não foi tarefa fácil, mas a R evista da SET decidiu ficar com o “servo Motor,” de Hugo Demiglio, “developer e formaweb” de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, pela simplicidade do sistema e a utilidade que poderia ter em uma pequena emissora de TV brasileira.

Sistema simples, mas operacional. O Servo Motor permite o movimento da câmera que foi mostrando via streaming o que se passava no Campus Party 7.

“Peguei um tripé comum, removi o suporte que segura a câmera e prendi nele um servo motor, que agora fica entre os pés do tripé e o suporte da câmera. C om isso eu posso movimentar a câmera usando o servo motor, que tem um angulo de rotação de 180º”, explicou na sua mesa de trabalho.
“Para controlar o motor, uso um A rduino nano girando a câmera de forma aleatória. Mas há diversas aplicações possíveis com este hardware, como controle da direção da câmera remotamente, direcionar a câmera para onde tem movimento usando sensores ou até mesmo seguir uma pessoa usando processamento digital de imagens em conjunto com sensores de movimento”, afirma o jovem.
O A rduino Nano é uma versão A rduino em SMD e possui um conector para cabos Mini-USB para gravação. Esta plataforma de prototipagem eletrônica de hardware livre, que, segundo Demiglio, é “projetada com um microcontrolador A tmel A VR de placa única, com suporte de entrada/saída embutido, e uma linguagem de programação padrão que é essencialmente C /C++”. O equipamento é um servo motor de 5 volts, 180º de rotação, engrenagens em metal, dimensões 2.17 in x 1.73 in x 0.75 in, modelo MG995. “Nada especial, mas com ele posso captar imagens o tempo todo e colocar na internet através de streaming e mostrar ao mundo o que se esta acontecendo aqui”, justifica.
“Estou utilizando um serviço da LiveStream, uma empresa que fornece o serviço de vídeo streaming gratuitamente. Para o vídeo, o codec é o H.264 e para o áudio é o AAC . O que importa é mostrar o que se esta passando aqui dentro,” finaliza.