O futuro da TV no Brasil e no Mundo debatido no SET e Trinta 2015

Nº 151 – Junho 2015

por Fernando Moura, em Las Vegas

FEIRAS E EXPOSIÇÕES

Várias centenas de broadcasters participaram do SET e Trinta 2015, e, para isso, cada um passou pelo credenciamento instalado a porta da sala principal do evento no Las Vegas Convention Center

A edição 2015 teve palestrantes de peso que discutiram o futuro da TV nos formatos 4K e 8K, analisando a cadeia de produção e emissão dos conteúdos criados nestas resoluções. Estruturas IP e soluções baseadas na nuvem dominaram o seminário. Nesta primeira parte da cobertura, colocamos ao seu dispor os melhores momentos de um encontro internacional com enorme interesse para os broadcasters brasileiros.

Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) realizou novamente em Las Vegas o SET e Trinta, um seminário exclusivo da SET que reuniu lideres de opinião tanto brasileiros como internacionais, profissionais e empresas que discutiram, durante três movimentadas manhãs, as principais novidades em tecnologia de broadcasting e novas mídias da indústria audiovisual.

Este ano, o evento decorreu de 13 a 15 de abril, nas salas N116, N117 e N118 do pavilhão de exposições do Las Vegas Convention Center durante o NABShow, em Las Vegas, Estados Unidos. Como tem acontecido nas últimas edições, as atividades começaram sempre às 7h e se estenderam até as 9h, quando a feira americana abria as suas portas para visitação.
“O SET e Trinta é um tradicional ponto de encontro entre os brasileiros que estão visitando o NABShow e uma excelente oportunidade para troca de experiências, conhecimentos, contatos e negócios. Cada ano avançamos mais e fazemos do nosso encontro um ponto de referência, não só para os radiodifusores brasileiros como latino-americanos e europeus que nos visitam, com palestras de altíssimo nível que mostram a força da SET”, afirmou Olímpio José Franco, presidente da SET.

O SET e Trinta mais uma vez mostrou a força do broadcast brasileiro com mais de 400 participantes

Estruturas e soluções IP

O tradicional café da manhã do SET e Trinta, importante ponto de networking para os broadcasters brasileiros

Várias centenas de broadcasters brasileiros acordaram muito cedo e compareceram à primeira sessão do SET e Trinta 2015. Numa manhã muito agradável, o encontro dos associados da SET tratou temas relacionados às infraestruturas IP e às diferentes soluções que podem ser adotadas pelos radiodifusores.
A primeira palestra esteve a cargo de Cláudio Frugis (ADVANTECH WIRELESS), que explicou como é possível realizar trabalhos de externa e como fazer com que o transporte seja eficiente e tenha uma boa performance.

A palestra “Nova geração de soluções móveis para aplicações de transmissão” brindada por Frugis mostrou as principais novidades e produtos da empresa e como estes podem ser utilizados para transportar sinais de áudio e vídeo. Ele explicou que a tecnologia caminha para soluções de streaming que permitam às emissoras transportar seus conteúdos. “Hoje trabalhamos com modens que têm de transportar sinais que podem alcançar distâncias de mais de 200/300 quilômetros.
Estamos trabalhando com equipamentos da segunda geração de GaN que permitem alcançar sinais de banda KU 30% superiores ao 1.2 KW anterior”.

Como acontece há mais de duas décadas, os associados da SET se reúnem primeiro em uma sala para tomar seu café da manhã e, mais tarde, seguem para o seminário

Ainda explicou as diferentes antenas da companhia, com destaque para as Flyaway e as ManPack, uma “antena de 21 quilos que pode ser operada por uma única pessoa”, e as SATCOM, antenas de KU que podem ser utilizadas em carros e ser transportadas de um lugar ao outro.

A migração das emissoras para estruturas baseadas em redes IP é um tema que tira o sono de muitos radiodifusores brasileiros. Por este motivo, John Mailhot (IMAGINE COMMUNAB NICATIONS) trouxe ao SET e Trinta um tema muito discutido nesta edição da NAB, o “Gerenciando Instalações de banda base híbrida e IP”. Ele explicou que um dos pontos que mais se trabalha na atualidade é a transferência de dados e as suas taxas, e por isso é preciso pensar não só em “equipamentos para broadcast”, mas sim em “ecossistemas”.
“Estamos em um período de transição, por isso temos que ver o que é melhor escolher”, mas temos claro que “a transição para estruturas de IP é inevitável. Nesse sentido, a pergunta é se o IP substituirá o cabo coaxial? Porque cada dia temos mais vídeo para ser transportado”, afirmou Mailhot.Mailhot explicou que os broadcasters precisam ver os custos, ter claro que tipos de switchers de Ethernet serão utilizados, e, com isso, pensar que a tecnologia baseada em software já é uma realidade. “O SDN (Software- Defined Networking) é a forma mais simples de transportar e gerenciar vídeo”.

Roberto Franco (SBT); Rodrigo Zerbone (Gired/Anatel) e Fernando Ferreira (TV Bandeirantes) discutiram questões relacionadas com o apagão analógico na visita do representante do governo ao SET e trinta 2015

Mais tarde, Mo Goyal (EVERTZ/ PHASE ENG) na palestra “Realidade de uma instalação 100% IP” mostrou aos presentes como o mundo está cada dia mais virado para as estruturas IP, e como o avanço da qualidade de vídeo torna necessária, e inevitável, esta migração.
Ele explicou as diferentes soluções para network via IP destacando que na atualidade já é possível trabalhar com estruturas 10G/100G que estejam interligadas com outros sistemas que, por sua vez, estão interligados entre si. Para isso, ele apresentou a solução SDVN (Software Defined Video Networking) que é a diferença de uma rede SDN (uma rede de gerenciamento que trabalha com um router determinístico) trabalhando por cima e unificando todo o sistema de “Networking”, a infraestrutura, o transporte, o tally, os paneis de controle, o rourting, os multiviewers. Goyal afirmou que “isto não é uma solução, é uma filosofia, uma mudança de comportamento”, um conceito “que muda a forma de olhar para a engenharia de TV e os seus sistemas”.

“Na Evertz temos uma série de produtos e soluções para avançar nesta filosofia”, disse ele. Silvino Almeida (TEKTRONIX) foi mais categórico afirmando que “a migração para o IP é impreterível”, e que uma das principais perguntas que deve fazer o radiodifusor na hora de migrar para estruturas IP é saber como transportar o sinal e de que forma. Isso porque a demanda por conteúdo multiplataforma em formatos maiores e melhores, o avanço da tecnologia IP e a necessidade de redução de custos, estabelecem novos desafios aos produtores e distribuidores de conteúdo. Almeida disse aos participantes do SET e Trinta que fazer certo e ser eficiente, operando redes complexas é um desafio hercúleo. “Hoje precisamos melhorar a qualidade de áudio e vídeo e, por isso, é imperativo migrar para formatos de alta resolução de vídeo. Para isso, a única forma que temos é a de migrar para redes IP.”

John Mailhot (Imagine Communications) afirmou que o switchers Ethernet serão fundamentais na infraestrutura híbrida de conexão de áudio/vídeo para as instalações de TV, permitindo uma transição conveniente dos equipamentos SDI existentes para os do futuro com base em IP

Na palestra “O desafio da garantia da qualidade nos novos worflows tapeless, IP e 4K”, Almeida afirmou que o IP é uma tecnologia bem dominada, o que permite trabalhar bem com as ferramentas para tráfico de vídeo. “Por isso já podemos brindar soluções diferentes segundo as necessidades. Na atualidade, com a migração dos conteúdos para arquivos, não temos como não usar estruturas IP, e com a inclusão de tecnologias como o 4K com codificação HEVC precisamos pensar em plataformas completas que possam não só transportar e gerenciar, mas também controlar o vídeo e o áudio”.

“A migração do SDI para o IP é mandatória para enfrentar os novos desafios da radiodifusão, como o Ultra HD e a distribuição para múltiplas plataformas”, Mo Goyal (Evertz)

Nuvem e plataformas virtuais
Outro dos temas que dominaram as palestras do SET e Trinta 2015 foram as plataformas virtualizadas na nuvem. André Altieri (CISCO) afirmou que “todos os recursos estão migrando para a nuvem, para que os recursos trabalhem e realizem o trabalho para o qual foram criados”.
Na palestra “Como os broadcasters poderão tornar sua operação elástica e flexível com a utilização da Infraestrutura IP”, disse que a oferta de novos conteúdos, em diferentes formatos e para uma gama muito maior de dispositivos “irá solicitar do broadcaster uma agilidade ainda maior no provisionamento de Novas Mídias.

Olímpio Franco, presidente da SET, afirmou no SET e Trinta que o evento cada ano gera maior interesse nos broadcasters brasileiros, mas também nos latino-americanos, e por isso é muito importante avançar com sinergias com os grandes grupos de mídia da região

Novos conteúdos deverão ser provisionados em horas e a infraestrutura de Datacenter de Mídia deverá ser orquestrada de maneira elástica para que todos os recursos necessários possam estar disponíveis”.
Ele explicou que os Datacenters de Mídia também irão contar com as vantagens da utilização de Clouds operando agora no conceito de Intercloud, onde recursos podem ser orquestrados entre diferentes Clouds que se conectam e trocam recursos entre si, garantindo a oferta dos novos serviços, em diferentes formatos e para uma gama muito maior de dispositivos.
Esta oferta irá solicitar do radiodifusor “uma agilidade ainda maior no provisionamento de novas mídias.

Precisamos da virtualização do processamento do vídeo e, com ele, orquestrar os seus múltiplos workflows para que façam o trabalho e gerenciamento dos conteúdos nas diferentes plataformas. Cada dia mais precisamos pensar em infraestrutura, plataformas e aplicações para subir os conteúdos na nuvem”, afirmou Altieri.

Roberto Franco (SBT) e Daniel Slaviero (Abert) ouvem atentamente a alocução de Rodrigo Zerbone (Gired) no SET e Trinta 2015

Áudio sobre IP
As estruturas IP não se limitam a trafego de vídeo, o áudio também é contemplado e, em alguns casos, a reformulação chegou antes. Por isso, Ken Tankel (LINEAR ACOUSTIC) afirmou na palestra “Áudio sobre IP e as novas possibilidades nos projetos de instalações de Broadcast” que “o AoIP (Audio-over-IP) é uma realidade”.
“O áudio sobre IP proporcionará novas oportunidades para aumentar a funcionalidade e reduzir os custos em instalações de transmissão.
As instalações tradicionais de transmissão são construídas usando uma série de unidades individuais de hardware totalmente independentes, que são conectadas uma seguindo a outra, em uma cadeia. Cada uma das unidades da rede realiza uma tarefa altamente especializada e emite os sinais de transmissão para a próxima unidade. É necessário um grande número de dispositivos de distribuição de sinal, e um número impressionante de protocolos, cabos e vários tipos de conectores.

Silvino Almeida (TEKTRONIX) explorou os desafios da adoção da tecnologia IP e 4K para a produção de vídeo e áudio no SET e Trinta

A instalação não é intuitiva e exige recursos significativos de múltiplos fornecedores localizados em diferentes fusos horários”, afirmou.
Tankel explicou que o AoIP tem benefícios nos custos, é flexível devido à sua capacidade de se adaptar aos processos e às interfaces que permite desenvolver. Para o executivo é preciso avaliar o futuro, e pensar que o áudio por IP permite obter várias opções de redundância e uma consolidação do áudio e seu gerenciamento.
“Para que uma emissora trabalhe com áudio digital, não há outra maneira senão a de trabalhar em redes de AoIP e com elas avançar para soluções complexas onde se possa otimizar o áudio e sua qualidade”.

Por sua parte, Felix Kruckels (LAWO/Line Up) afirmou que o IP mudou a produção de áudio” porque nos últimos tempos essa produção teve uma série de complicações e diferenciais que a tornaram mais complexa. Na palestra “Como o IP muda a produção de áudio”, o executivo afirmou que a “distribuição de conteúdo é o mais importante em um mundo que trabalha com modelos lineares, mas que é consumido, entre outras situações, por consumidores não lineares”.

“As normas do áudio sobre IP (AoIP), como Livewire e AES67 constituem a espinha dorsal de um novo modelo de processamento e controle de áudio”, afirmou Ken Tankel (LINEAR ACOUSTIC)

Para ele, o mercado de transmissão exige soluções cada vez mais abrangentes e integradas. “Áudio e vídeo fundem-se cada vez mais e as redes em IP serão utilizadas para a distribuição de sinais, trazendo benefícios indiscutíveis para o mercado. A Lawo já está usando a tecnologia de rede baseada em IP RAVENNA em seus produtos e por isso participar destes desenvolvimentos e tecnologias é um desafio estimulante”.
Por isso, disse ele, “o que antes era enviado para uma única plataforma, agora é enviado para múltiplas plataformas.

Precisamos ter opções e infraestruturas para esse transporte porque o SDI já não é uma solução, agora precisamos utilizar roteadores de vídeo escaláveis porque mudou a escala de transporte”.
Para Kruckels, o futuro aponta para migração a infraestruturas IP que possam ser orquestradas e gerenciadas com um único sistema, de forma que esta plataforma controle todo o workflow da emissora que tem como principal objetivo “chegar ao switcher e, desde aí, poder ser enviado às diferentes plataformas que a emissora escolha”.


Fórum SET: O progresso do broadcast no mundo

O SET e Trinta trouxe aos associados da SET e aos presentes na sala o que há de melhor e mais moderno em desenvolvimento de tecnologia de TV e padrões de áudio e vídeo. A sessão contou com a presença de executivos do IABM, IBC, SMPTE e Ministério das Comunicações do Japão

Peter Owen (IBC), Fernando Bittencourt (SET), Peter Bruce (IABM), Peter White (IABM), Olímpio Franco (SET), Reiko Kondo (MIC Japão), e Peter Symes (SMPTE) no fim do Fórum SET 2015

O Fórum SET debateu este ano as tendências da TV mundial e quais as principais decisões que devem ser tomadas nos próximos tempos. A conferência intitulada “O progresso do Broadcast no mundo”, moderada pelo vice- presidente da SET, Fernando Bittencourt, contou com a participação de Peter White, presidente da International Association of Broadcast Manufacturers (IABM); Peter Owen, presidente do Conselho da International Broadcasting Convention (IBC); Peter Symes, diretor de Engenharia e Regulações da Society of Motion Pictures and Television Engineering (SMPTE); Reiko Kondo, diretora do Escritório de Informações sobre Tecnologias de Exibição Digitais e Comunicações do Ministério das Comunicações e Relações Internas do Japão, e Peter Bruce, diretor da IABM.

A mesa formada por Fernando Bittencourt mostrou mais uma vez a importância da SET no contexto internacional e como as entidades e até as principais entidades governamentais do mundo se colocam à disposição da entidade brasileira para discutir não só o futuro da radiodifusão, mas também fazer um balanço do setor.
O primeiro a expor foi Peter White, presidente da International Association of Broadcast Manufacturers (IABM), que na palestra “Qual é o futuro para a tecnologia de broadcasting?” explicou os avanços da indústria e quais as principais decisões que devem ser tomadas em prol do desenvolvimento da tecnologia de TV. White disse que a inclusão do software na indústria tem mudado algumas coisas e gerado oportunidades e mudanças no mercado. Ele mostrou as tendências de crescimento do mercado afirmando que o mercado global de TV deve ultrapassar os 45 bilhões de dólares em 2015, mas que a indústria não cresceu no biênio 2012-2014 e teve uma leve diminuição, mas existe uma tendência a aumentar até 2018 em aproximadamente 3%.

O presidente da SET, Olímpio Franco, ouve atentamente a apresentação de Reiko Kondo, do Ministério das Comunicações e Relações Internas do Japão

Ele afirmou que o valor no broadcast hardware está desaparecendo rapidamente. “Os fornecedores estão tendo que considerar seriamente assumir software e serviços orientados por modelos de negócios devido ao hardware tradicional tornar-se uma comodity”. White afirmou que as grandes empresas de fornecimento de tecnologia se estão reestruturando rapidamente. “Mas, efetivamente afastar-se do hardware leva muito tempo e muitas vezes as empresas não têm tempo para isso.
A questão é preparar-se para a nova era que já chegou.”
Peter Bruce, diretor da IABM – APAC, afirmou que nos próximos 5 anos o cloud terá uma cota de mercado de 27% e que as redes IP alcançarão 37% do mercado global, o que representa que 64% do mercado trabalhará ou estará imerso em rede IP, gerando uma verdadeira mudança no paradigma das empresas de broadcast com inclusão “muito forte do TI dentro delas”.

Ele disse que estamos “frente a grandes mudanças que geram grandes oportunidades” já que se produzirá uma mudança de infraestrutura com 23% do market place. A tendência, para ele, é o software e, com ele, os serviços de aluguel. “E se dará, então, o confronto entre a propriedade de equipamento e hardware e soluções de softwares e serviços alugados, gerando verdadeiras transformações no mercado broadcast”.

Peter Bruce (IABM) afirmou no Fórum SET que estamos “frente a grandes mudanças que geram grandes oportunidades”

Outros dos pontos destacados por Bruce é o crescimento das OTT e como elas mudam o paradigma já que estão baseadas em serviços de TI.
O presidente do Conselho da International Broadcasting Convention (IBC), Peter Owem, trouxe a visão europeia da TV com a palestra: “Broadcasting na Europa – 50 anos de inovação”. Numa interessantíssima apresentação, Owen mostrou a evolução da tecnologia e seu percurso pela Europa, e como os grandes eventos esportivos foram marcando o mercado e as suas inovações.

Peter Owen (IBC) afirmou que é fundamental avançar para soluções de colaboração e trabalhar intensamente no desenvolvimento da TV híbrida

O Chairman do IBC disse que nos anos 1960 se “introduziu a tecnologia que mudou a natureza da radiodifusão. A norma PAL a cores, as comunicações via satélite, segundos canais, rádio estéreo, dispositivos digitais, todos nasceram na década de 1960. Os fabricantes de tecnologia necessitaram de exposições e conferências, IBC, Montreux e Inter- BEE nasceram, e estes mercados cresceram global e rapidamente.
O ritmo da mudança continuou desde o início da digitalização dos anos 70 para o digital na década de 90. Mas agora, o broadcasting digital tem um novo significado, uma nova audiência e novos modelos de negócios”.
Owen mostrou, ainda, as potencialidades do sistema DVB adotado na Europa e qual é a situação atual das emissoras da região explicando que elas passam por um período de acomodação com o aparecimento de sistemas OTT.

Para ele é importante avançar para soluções de colaboração e trabalhar intensamente no desenvolvimento da TV híbrida e que, se bem há mudanças, a TV continua a ser na Grã-Bretanha o meio mais utilizado para assistir conteúdos audiovisuais.

“A questão principal para os broadcasters é preparar-se para a nova era que já chegou”, afirmou, no SET e Trinta, Peter White (IABM)

Mais tarde, Peter Symes, diretor de Engenharia e Regulações da Society of Motion Pictures and Television Engineering (SMPTE), explicou, entre outras coisas, o “Color Black” que está baseado na IEEE 1588 e as interfases SDI 6 GHz & 12 GHz, e fez um relato pormenorizado das atividades da sociedade no último ano, explicando aos presentes que a SMPTE completará, em 2016, “os seus primeiros 100 anos de existência”.
Na palestra “Recentes desenvolvimentos nos padrões SMPTE”, Symes realizou um overview da situação atual do mercado explicando que os padrões SMPTE abrangem os mundos do cinema, televisão e cinema digital, e que as principais publicações do ano passado foram relativas a UHDTV, High Dynamic Range, interfaces de alta velocidade e de normas para arquivamento e dispositivo de controle que terão várias aplicações em diversas áreas.
“Neste momento a SMPTE trabalha na formulação de novas normas, entre elas a SMPTE 2022 series, e JTNM que está explorando infraestruturas para desenvolvimentos de TV Híbrida”, afirmou. Outro dos temas desenvolvidos pelo executivo da SMTPE foi o Interoperable Mastering Format (IMF), um conceito similar ao da D-Cinema que trabalha com um “One Set” e possui Play List (CPL) com arquivos XML, e é “uma boa solução para plataformas OTT”.
“Um tema muito, muito importante é o desenvolvimento do Archive eXchange Format (AXF), o SMPTE ST 2034-1, uma forma de arquivamento independente com storage médio, sistema operativo e diversas aplicações”, concluiu.
A última a discursar no Fórum SET foi Reiko Kondo, diretora do Escritório de Informações sobre Tecnologias de Exibição Digitais e Comunicações do Ministério das Comunicações e Relações Internas do Japão.
Reiko falou das diferenças entre as frequências de broadcast e broadband que são utilizadas no Japão pelos meios de comunicação explicando os novos serviços e frequências através do sinal de FM analógico, mediante o qual se realiza a prevenção de desastres naturais. O V-Low Multimedia Broadcasting, um sistema broadcasting territorial móvel. Ainda descreveu a V-High Multimedia Broadcasting (ISDB-Tmm) e as suas aplicações.
Outro dos temas tratados foi a implantação do 4K e 8K e os seus efeitos econômicos no Japão, reforçando que as Olimpíadas de Tóquio 2020 serão realizadas em 8K e que em 2016 começam os testes de canais em 8K via net e satélite no país.
No fim das palestras, ante as perguntas de Fernando Bittencourt, Peter Symes disse que o IP já está padronizado e é “um caminho inevitável para transportar cada vez maior quantidade de dados”. Pelo seu lado, Peter Owen disse que o 4K pode ser uma alternativa para transmissões via satélite ou IP, mas por “enquanto não em TV aberta (on -air) porque não há espectro para isso”.

SET e Trinta: “O governo aposta na cooperação intersetorial e no diálogo sobre o futuro do setor”

Rodrigo Zerbone, titular do GIRED, esteve no SET e Trinta e afirmou que o processo de desligamento analógico só será possível com o trabalho conjunto do governo e dos radiodifusores

O ponto alto da manhã da segunda-feira (13/04) foi a participação de Rodrigo Zerbone, presidente do Grupo de Implantação do Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV (Gired), da Anatel.
O responsável do GIRED afirmou aos mais de 300 broadcasters presentes no Las Vegas Convention Center que “o governo aposta na cooperação intersetorial” e que o desligamento só será possível se os setores “trabalharem juntos”.

Ante um público atento, Zerbone afirmou: “Começamos com decisões importantes, entre elas, qual será a especificação do set-top box que será destinado ao programa bolsa família”, e outros temas importantes, “porque já estamos na contagem regressiva para desligar Rio Verde (GO) em novembro de 2015”. Outro dos temas que o responsável do GIRED destacou foi que para que ocorra o fim das transmissões analógicas é preciso que 93% dos domicílios da região estejam aptos à recepção em formato digital, o que será aferido por meio de pesquisa. “Temos que decidir como será medido esse percentual porque nossa ideia é que as pessoas continuem usufruindo do sinal de TV aberta” e, para isso, entre muitas coisas, “estamos num processo com foco em persuadir a população brasileira a fazer a transição para equipamentos para que possam ter o sinal digital em casa”.

GIRED
O GIRED é formado por representantes do governo federal, das teles e dos radiodifusores. É o responsável pela criação da Entidade Administradora da Digitalização (EAD) para cuidar da parte operacional da digitalização. Assim, desde abril de 2015, o telespectador vai passar a contar com um site específico com informações sobre o processo de desligamento da TV analógica. Além disso, será criado um call center para tirar dúvidas da população gratuitamente.
A EAD deverá fazer uma ampla campanha de conscientização da população para estar apta a receber o sinal digital. Os aparelhos de TV mais recentes já conseguem receber, o sinal digital. Os demais vão precisar utilizar um conversor. O governo vai distribuir conversores para as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. A previsão é de que sejam repassados entre 13 milhões e 14 milhões de conversores digitais.

Ultra HD via satélite – Tendências de hoje e evolução de amanhã

Uma das palestras mais interessantes da última edição do SET e Trinta 2015, realizado em Las Vegas, resultou no seguinte artigo, solicitado pela Revista da SET ao autor, para explicar ao pormenor o futuro das transmissões satelitais na América do Sul

por Christoph Limmer

Ultra HD é o próximo estado da arte em termos de tecnologias para vídeo. Seu salto em termos de qualidade e experiência imersiva é comparável à transição do preto e branco para cores, analógico para digital e digital para alta definição. Os especialistas prevêem que mais de 800 canais Ultra HD estarão em transmissão dentro dos próximos 10 anos, com o crescimento amplamente impulsionado pela recepção do satélite direto nos lares (DTH) e o mercado latino-americano que é responsável por 13% dos canais.
Ultra HD é um termo genérico, abrangendo imagens de TV em 4K e 8K, significando imagens fotografadas e distribuídas em uma definição de 3840 x 2160 pixels para 4K, e de 7680 x 4320 pixels para 8K. São chamadas também, às vezes, de UHD-1 e UHD-2. Hoje, quando falamos de Ultra HD estamos nos referindo realmente a imagens de TV de 3840 x 2160 de 4k, que correspondem à resolução mais frequentemente disponível no mercado.
Embora em um estágio inicial sob a perspectiva comercial, o ecossistema de Ultra HD tomou forma rapidamente.
As câmeras 4K estão disponíveis em modelos profissionais, semiprofissionais e de consumo. O equipamento de produção 4K está cada vez mais disponível, preparando o ambiente para o volume de conteúdo filmado em 4K nativo (e além).
Os aparelhos de TV Ultra HD 4K que são vendidos no varejo por menos de US$1.000 são produzidos agora por quase todos os principais fabricantes de eletrônicos de consumo e os primeiros conversores 4K (STBs) também estão chegando ao mercado. A GfK diz que mais de 12 milhões de aparelhos de TV foram distribuídos mundialmente. São naturalmente retrocompatíveis, o que significa que podem ainda exibir sinais SD e HD, que são convertidos de forma ascendente para 4K internamente no aparelho de TV. Os vendedores de equipamento de consumo indicam frequentemente que as telas 4K, mesmo quando não alimentadas por imagens 4K nativas, em qualquer caso mostram uma qualidade de imagem melhorada em relação ao HD.

Christoph Limmer (EUTELSAT) disse na palestra “Transmissão via satélite 4K – As tendências atuais e as futuras evoluções”, proferida no SET e Trinta 2015, que “2014 pode ser considerado como o primeiro ano da ERA 4K”

Mesmo sem programas e conteúdos 4K regulares, as vendas de telas 4K continuam progredindo, porque o desejo por telas novas é um processo não relacionado simplesmente à disponibilidade de conteúdo. Quando as telas planas e as telas de HD ficaram com preço acessível, elas substituíram rapidamente os aparelhos de TV CRT, apesar da falta inicial de conteúdo HD e programação HD. As telas Full HD substituíram progressivamente também as telas HD-Ready e é provável que esta tendência seja repetida com as telas 4K que substituirão as telas Full HD, assim que as telas 4K forem tão econômicas de produzir como as telas Full HD.
Entretanto, a resolução 8K é, neste momento, limitada a alguns equipamentos profissionais (por exemplo, a câmera Sony F65). Não há atualmente nenhuma tela Ultra HD 8K disponível no mercado de consumo.
Há dez anos, a Alta Definição começou realmente a acelerar com a chegada da codificação MPEG-4. O Ultra HD deve também progredir com a chegada de outro padrão de codificação: HEVC (Codificação de Vídeo de Alta Eficiência) do qual se espera ser de 30 à 40% mais eficiente que o MPEG-4. Os conversores existentes (DVB-S / MPEG-2 / SD e DVB-S2 / MPEG-4 / HD) serão substituídos progressivamente por televisores de DVB-S2 / HEVC / Ultra HD.
Os satélites serão as plataformas principais para entrega de Ultra HD. A Eutelsat já está transmitindo dois canais 4K de demonstração na Europa com compressão HEVC, com 50 quadros por segundo e com profundidade de cores de 10 bits. Uma vez que os codificadores HEVC se tornarem e beneficiaram-se de “sintonia fina”, dentro dos próximos dois anos, espera-se que a taxa de bits exigida para transmitir um canal 4K Ultra HD comprimido em HEVC esteja na escala de 15/20 Mbps (vs. 8/12 Mbps hoje para um canal de vídeo HD comprimido em MPEG4 AVC).
A produção de conteúdo, um fator de sucesso importante, está também em ascensão, conduzida por empresas como Netflix, que estão filmando séries importantes como House of Cards em 4K. Alguns eventos principais, incluindo três partidas da FIFA 2014, foram produzidos em 4K Ultra HD e transmitidas via satélite como demonstrações e/ou experimentações públicas. Nove partidas da FIFA 2014 foram filmadas também em 8K Super Hi-Vision. Elas representaram oportunidades valiosas para técnicos e equipes testarem e comprovarem a nova tecnologia e fornecerem o feedback essencial para fabricantes e vendedores que lhes ajudarão a corrigir e melhorar seus produtos atuais.
Há um foco crescente na produção e distribuição de TV 4K. No Japão, país dos “inventores” do Ultra HD, foram feitos anúncios de transmissão 8K experimental em 2018 e serviços 4K e 8K em 2020 para coincidir com os Jogos Olímpicos de Tóquio.
A expectativa da Eutelsat é que as plataformas de TV paga serão as primeiras a propor canais de televisão 4K aos seus assinantes. Seguindo o mesmo caminho da Alta Definição, espera-se que o 4K surja em países caracterizados pelo alto poder de compra, com um mercado de vídeo competitivo, como os Estados Unidos, o Japão, a Coreia, a Europa Ocidental e partes da América Latina.
Espera-se que o Ultra HD seja guiado pelo mesmo conteúdo em relação à Alta Definição quando ela apareceu primeiro, ou seja, por esportes e cinema. A DirecTV, gigante do mundo satelital, está mostrando o caminho, com conteúdo 4K produzido em novembro 2014, com a disponibilização de 19 filmes 4K da Paramount Pictures e K2 Communications. A empresa, também, se uniu à Samsung como sua sócia exclusiva para o lançamento da CE 4K UHD. A operadora de TV por satélite japonesa, Sky Perfect JSAT Corporation, lançou dois canais UHD 4K no dia 1° de março de 2015. Os canais dedicados a 4K exibirão as partidas de futebol da J-League, junto com outros eventos esportivos, filmes e concertos ao vivo.
Nós acreditamos que é questionável se OTT será um meio eficaz para entregar transmissão 4K ao vivo para milhões de usuários. A transmissão contínua de 4K requer que a conexão da Internet que serve a cada usuário seja capaz de sustentar a taxa de transferência muito alta para suportar a taxa mais elevada exigida pela transmissão contínua 4k. A Netflix recomenda pelo menos 25 Mbps, que limita de fato seu uso aos clientes conectados através de FTTH, isto é, uma pequena minoria de usuários. Além disso, o tráfego e os custos CDN representam um importante custo recorrente que os operadores OTT terão de enfrentar para entregar 4K. Os fornecedores OTT pagam hoje cerca US$ 0,03 (três centavos de dólar) pela entrega de uma hora de vídeo SD para um único usuário, enquanto eles deverão pagar até seis vezes mais pelo conteúdo 4k por um único usuário devido à taxa de transferência mais elevada. Os custos de CDN aumentam também linearmente com o número de usuários atendidos, significando que a entrega de algumas horas de conteúdo 4k para milhões de usuários OTT gerará rapidamente custos de seis dígitos aos fornecedores de OTT.
Os satélites, ao contrário, são significativamente mais eficientes em custo, entregando eficientemente alta taxa de transmissão para milhões de usuários, com baixos custos de largura de banda. O valor agregado principal da transmissão 4K é sua qualidade superior. Nós antevemos que quando os radiodifusores lançarem a primeira oferta de canais, eles ficarão atentos em definir a taxa de transferência exigida a fim de manter a alta qualidade em toda a cadeia de entrega até as telas do usuário. E nesse estaremos ao seu lado para nos associarmos a eles nesta nova aventura com os satélites projetados para cada região, em especial o satélite EUTELSAT 65 West A para a América Latina.

Christoph Limmer, Vice Presidente Global Sales and Commercial Development Video de Eutelsat.