Leilão da faixa de 700 MHz debatido no Futurecom 2014

Nº 147 – Dez/Jan 2015

por Fernando Moura

REPORTAGEM

Realizado em outubro de 2014, o Futurecom 2014 foi o lugar onde o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo e o presidente da Anatel, João Rezende analisaram publicamente os resultados do leilão da faixa que permitirá a inclusão do serviço de 4G no país e tirara dessa faixa os canais de TV analógica no país

Na cerimônia de abertura do evento realizado no Transamérica Expo Center, em São Paulo, o Ministro da Comunicações, Paulo Bernardo, disse acreditar que o maior desafio no futuro do setor será “promover a internacionalidade da Internet.” De acordo com ele, fornecer o acesso à rede mundial é tão importante e necessária atualmente como o acesso à água potável.
No dia seguinte, na abertura dos trabalhos do Congresso, na palestra “VIP Opening Talk Show”, moderada pela jornalista do jornal Valor Econômico, Heloísa Magalhães, Paulo Bernardo e João Rezende se debruçaram sobre os resultados do leilão.
Bernardo afirmou que “o leilão foi um grande sucesso. Muitos têm criticado o valor arrecadado, imputando este como um fator de fracasso para a transferência da faixa, mas este é um assunto para as páginas de economia. Em termos de telecomunicações, estou muito satisfeito” porque para ele, o clima gerado em torno da arrecadação abaixo do esperado “é uma forma de desdenhar o esforço tecnológico que será empregado com a transferência”.
A seguir, João Rezende analisou positivamente o volume da arrecadação e afirmou que se somássemos “o que foi arrecadado na venda com o que será destinado para mitigação [Leia-se a interferência que o sinal de 4G provocará no sinal de TV Digital aberto], temos mais de R$ 9 bilhões, ou seja, é o maior valor já arrecadado em um leilão de faixa de frequência no país. Estamos falando de uma grande soma em dinheiro destinada à compra de algo que as empresas só vão começar a usar em 2017. Ou seja, isso revela que as TelCos confiam em nosso trabalho a ponto de entregar dinheiro agora para receber contrapartida mais tarde”.
Muito se falou no mercado sobre a pressa do governo em leiloar a faixa, houve muitas críticas das entidades do setor e a SET afirmou em várias oportunidades que a utilização da faixa provocaria interferências no sinal de TV Digital. Nesse sentido, Bernado disse no Futurecom 2014 que se bem “todos estão falando que apressamos as coisas, quando na verdade este leilão vem de um planejamento de quatro anos. Claro que ouvimos as Teles reclamarem que estaríamos adiantando as coisas e que isso prejudicaria a oferta em termos de preço, mas para mim isto é parte da estratégia para depreciar o preço do leilão pouco antes do arremate”.

Durante um painel realizado com entes reguladores latino-americanos e TelCos onde se debateu o uso da faixa de 700 MHz, João Rezende da Anatel afirmou que o leilão realizado no Brasil foi positivo e o dinheiro ajudará a “mitigar” as interferências que possam vir a ser provocadas pela inclusão do serviço

Na palestra “Desafios nas Operações de Redes de Telecomunicações na América Latina”, moderada por Jorge Fernando Negrete da MediaTelecom que contou com a presença de Fabian Jaramillo Palacios da Supertel do Equador; Saul Kattan Cohen da ETB Colômbia; Osvaldo Di Campli da Alcatel- Lucent; e Alfonso Gómez Palacio da Telefónica Colômbia; João Rezende afirmou que “o leilão do 700MHz no Brasil foi muito importante para o futuro”. O “fizemos quase sem obrigação nenhuma, inclusive” passamos por “uma batalha razoável para ser aprovado”. Como “órgão regulador não estamos sujeitos a discussões de outros setores do estado. No processo as empresas reclamaram do preço, mas não têm como agradar a todo o mundo, pensando em inclusão de outros setores nesse processo”.
Respeito a faixa de 700 MHz, Fabian Jaramillo Palacios da Superintendência de Telecomunicações do Equador (Ente Regulador desse país) afirmou que “corresponde a cada um dos países tomar decisões.
Tenho claro que não há receitas únicas. Nós não fomos para a privatização, avançamos para um modelo estatal porque o Estado há tomado como política pública a questão e trabalharmos para um mercado equilibrado. Um mercado onde cada um ocupe um lugar.

Ideal Antenas participou pela primeira vez no Futurecom com um estande. O objetivo de Marcelo Zanot, gerente Comercial de Ideal Antenas é chegar ao mercado da Internet por rádio, um mercado muito exigente, mas com um crescimento muito forte. “Este mercado é muito exigente. Para ele desenvolvemos uma antena acorde aos padrões de qualidade do setor e esperamos começar a comercializar o produto”

Cada lugar tem seu aproveitamento dos seus sistemas, das suas tecnologias, não somos iguais, por isso temos de trabalhar as oportunidades e negócios inovadores que permitam a inclusão e novas oportunidades nos nichos que vão aparecendo. Pensamos que como governo não somos aplicadores de receitas, mas sim os responsáveis por aplicar uma receita a medida de cada problema”.
Outro dos temas abordados por Rezende na reunião latino-americana foi o de “compartilhar infraestrutura” para rentabilizar processos de desenvolvimento de infraestrutura com “trocas de infraestrutura, mas temos um problema adicional, o custo tributário para o usuário que em alguns lugares chega a 50%” do valor da fatura. E afirmou, essa autonomia esta gerando problemas de gestão impositivo com os estados “com uma reforma tributaria sobre os produtos de telecomunicações”.

Com respeito a telefonia e uso de internet no país, Rezende afirmou que “nós temos um mercado com mais de 300 milhões de dispositivos moveis ligados entre internet, telefone e TV por Assinatura e precisamos avançar as telecomunicações mais afastadas do Brasil, como a região norte onde não há interesse nessas áreas. Ainda estamos tentando ter compartilhamento de infraestrutura onde os grandes provedores podem fornecer serviços a pequenos provedores locais”.
Rezende foi mais além afirmando que “necessitamos inter-relações, mas sabemos que existe um gargalo entre as OTTs e a ecomimia tradicional, de todas as maneiras sabemos que um sim outro não da certo. Os dois são fundamentais, uma indústria depende da outra porque as duas não são excludentes, uma depende de outra e essa não é uma política local, senão um fenômemo mundial. De fato precisamos repensar o mercado pensando em novas redes”, disse.
Para Rezende, a Anatel não necessita regular o mercado, “o setor quer que nos ordenemos o mercado, mas não partirá do agente regulador medidas para a consolidação do mercado.
Está claro que nós podemos revisar as condições das fusões, entre elas, estamos vendo a compra da Telefónica da GVT [processo que se realizou em outubro passado] ”.

Um dos principais temas do Futurecom 2014 foi a neutralidade na rede associada as informações fornecidas pelo Big Data e como esta pode ajudar a monetizar o negócio

Saul Kattan Cohen, ETB Colômbia afirmou que há espaço para vários players, não só para dois ou três operadores, “há espaços caso se façam as coisas bem, caso se inove. Não é preciso concorrer diretamente contra as grandes, não adianta. Em ETB entramos com 4G na Colômbia. Em um ano montamos uma companhia móvel, o fizemos inovando, logramos alianças para ter uma rede nacional em 4G e assim competir no mercado”.
Osvaldo di Campli de Alcatel-Lucent afirmou que devemos “fomentar o crescimento. No mundo das telecomunicações há muitas redes legadas, muita infraestrutura suportada porque nunca existiu um modelo de negocio que o suporte. A consolidação é a oportunidade de introduzir novas tecnologias como a virtualização das redes. A dinâmica do mercado é a possibilidade de avançar” para novos negócios.
Para Campli as novas gerações dependerão do vídeo nas ligações. “O mercado avança para uma transferência muito maior que a atual de áudio, O futuro será áudio e vídeo.
A consolidação deve ser com investimento em redes” que “suportem essa transferência”.
Alfonso Gomez Palacio, Telefónica Colômbia, afirmou que neste negócio não há receitas prescritas. “Há espaços para os entrantes com regras de jogo claras. Os reguladores devem estar atentos ao mercado, mas não podem proibir a consolidação do mercado porque ela é parte do jogo”.

Rede, banda e Big Data
Em outra das palestras, Eduardo Ricotta Torres da Ericcsson afirmou que nos dias de hoje “o desafio é conectar as pontes, e trabalhar no tráfego.
O que nos fizemos foi um caso piloto na Indonésia, onde o tráfego de dados por acesso ao Facebook é muito grande. Lá o que fizemos foi organizar o trafego dos usuários para que a banda chegue”, disse.
“As experiências do usuário são muito importantes. O principal desafio do Big Data é trabalhar em Real time. E trabalhar junto com o perfil do usuário e com isso aumentar o top line das empresas fornecedoras” Rodrigo Abreu da TIM afirmou que a tecnologia de Big Data “é relativamente nova, há 10 anos nem existia como termo”. De todas as formas, disse ele, “vemos uma avalanche, um tsunami de dados. O desafio das TelCos é excepcional, e se apresenta como uma grande oportunidade. A TIM Brasil gera mais de 4.5 milhões de CDR, isso gera uma grande oportunidade, otimizando nossa própria operação para avançar em outras coisas. Para isso avançamos em três áreas, a primeira é a de liderança de produto para conhecer mais os nossos usuários. Saber o que usuário usa e precisa de forma clara para reagir mais facilmente. Hoje temos necessidade de investimento de rede pelo aumento do crescimento de trafego de dados. O trafego que passa nas redes globais chegara a 700 hexabits. Nosso planejamento esta pensado para investir em Big Data e com ela entender onde é preciso aumentar e investir na rede”.
Fátima Barros da Anacom Portugal (unidade reguladora) afirmou que “o mundo do Big Data” gerou “uma avalanche de informação que todos nós fornecemos o tempo todo. Essa informação é importante e o mais importante e como se fornece essa informação.
Assim, o que precisamos saber é quem compreende o valor estratégico dessa informação” e como está é utilizada.
Como “regulador europeu estamos muito preocupados com a privacidade dos dados porque há um potencial de vigilância que permite que as empresas saibam o que compramos no supermercado, o que consumimos e o que vemos. Primeiro problema é a privacidade e a protecção dos dados. A produção desta informação tem permitido fazer análises e gerar previsões para o futuro. Não podemos deixar que a produção e a utilização da informação possa vir a ser usada para discriminar”. Outro problema é que alguns players estão se transformando em gigantes que “estão tornando cada dia maiores”, como por exemplo, a Google que recolhe informação. “Se os gigantes continuam a crescer o problema é que haverá problemas graves de concorrência” e de “domínio da informação”.
Pela sua parte, Dimitri Diliani da Nokia afirmou que a privacidade é importante, mas “temos de ter claro que os operadores precisam garantir a segurança da rede”, e António Carlos Valente da Telefónica Vivo, afirmou que “teremos muitos desafios pela frente para que as aplicações da internet possam ser trabalhadas em termos de neutralidade da rede.
Para nós a Internet das coisas será o que gere a maior demandas de dados e trafego na rede. Os desafios são claros. O primeiro é a redução dos custos adicionais com base no sistema de atendimento ao cliente.
O segundo e a melhoria das informações agregadas dando melhores ferramentas as empresas. E, por último, é transformar essas grandes soluções ao público consumidor e aí como monetizar essas soluções. Hoje já estamos trabalhando nisso junto a um conjunto de empresas é uma empresa que trabalha com mercados de grandes aglomerações para a qual estamos trabalhando dados”.

iON entra definitivamente no mercado

O Futurecom 2014 foi o palco escolhido pela iON para dar o pontapé inicial a comercialização dos seus serviços inovadores de TV por Assinatura. A comercialização do serviço da Unotel, iniciada formalmente em 1º de outubro, quando operadores regionais de telecom passaram a oferecer pacotes que incluem TV + Internet + Telefonia oferecendo um equipamento digital que faz quatro gravações simultâneas de programas, dois da TV Digital aberta e dois de TV paga.

Para Alexandre Britto o futuro está em serviços com set-top boxes híbridos que permitam que o usuário receba os canais pagos por DTH e os abertos mediante sinal ISDB-T

Como já descrito em exclusiva na edição 131 da Revista da SET, a iON chega ao mercado brasileiro com um set-top-box hibrido desenhado por pesquisadores brasileiros que permite aos seus clientes ter acesso a IPTV ou DTH, e TV Digital através do mesmo dispositivo. O receptor foi criado pensando no Switch-off da TV aberta. Esta plataforma utiliza tecnologia da Media Networks Latin America e da NAGRA que permite o acesso a IP, satélite e TV Digital terrestre (DTV) com proteção do conteúdo pela tecnologia NAGRA MediaAccess. O serviço conta com 180 ORTs participantes e tem aspirações de alcançar os 280 no fim de 2014, afirmou Alexandre Britto, presidente da iON à Revista da SET no estande da marca no Futurecom 2014. “A nova operação de TV é um sonho realizado das ORTs que buscavam uma maneira de fidelizar seu cliente a partir de um amplo conjunto de serviços, mas também é uma alternativa para o assinante de muitas regiões onde os maiores operadores de TV não tinham alcance ou não tinham interesse em chegar.
É na parceria com os ORTs que estamos investindo para esta nova realidade: a inauguração de uma operação de TV por assinatura com ampla capilaridade e com serviços inovadores”, destaca o executivo.
Para Britto, a inclusão do decodificador de TV Digital aberta é “uma das partes mais inteligentes do nosso projeto. Nós não carregaremos no satélite um monte de canal aberto que é o que as outras operadoras fazem. Usaremos o canal aberto que tem uma qualidade fantástica em HD. O set-top box receberá o sinal aberto gratuito e decodificara o sinal que chegará por ar e não por DTH. Nosso sistema é duplamente hibrido. Hibrido pois permite a visualização de canais pagos e abertos; e porque como possui uma porta IP, que pode servir como OTT ou como canal de retorno ou para qualquer necessidade que o usuário tenha do mundo IP”.

Cisco foca em soluções de virtualização para operadoras

O Futurecom não só conta com a parte do congresso, também conta com uma grande área para exposição. Nela, a Cisco aproveitou para montar um ambiente de experimentação de tecnologias e para destacar as tecnologias que poderão ser utilizadas nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016.
Na feira, a Cisco apresentou o Experience Suite, um ambiente de experimentação em tecnologias inovadoras com foco na virtualização para provedores de serviço. Para isso, mostrou seus desenvolvimentos em mobilidade, vídeo, cloud e EPN (arquitetura de redes de última geração). Outro dos temas importantes foi o SDN (Software- defined networking), Intercloud – novo conceito de interligação de “Clouds” que a Cisco está desenvolvendo com seus parceiros, e a Internet de Todas as Coisas.
Na área de vídeo o destaque foi a asolução Cisco Videoscape Multiscreen Cloud DVRque permite aos usuários capturar e gerenciar as gravações na nuvem, reproduzindo- as posteriormente em qualquer dispositivo conectado, além da possibilidade de pausar ou reiniciar programas ao vivo, fazendo facilmente a troca entre conteúdo stream e cloud.
A Revista da SET dialogou com Andre Altieri, gerente de Contas de Mídia & Entretenimento da Cisco sobre o futuro do Broadcast e qual a importância deste no contexto do TI e as telecomunicações que tanto tem evoluído nos últimos tempos e mudado o panorama, não só do broadcast, mas também do trafego de vídeo e com ele, dos conteúdos.
Revista da SET: Quais os principais objetivos da Cisco no Brasil para a área de Broadcast?
Andre Altieri: O mercado broadcast vem passando por transformações muito grandes. O surgimento de novos dispositivos trouxe novas oportunidades de negócios para os produtores, pois tanto a audiência quanto a forma como se acessa esse tipo de conteúdo estão se transformando.
Além disso, o modo de distribuição desse conteúdo também mudou, o que culminou com o uso cada vez maior das redes IP.
A Cisco tem como filosofia ajudar seus clientes a mudarem a forma de trabalhar, otimizando os resultados através de soluções que ajudam a resolver os seus desafios de negócio. E é por isso que nosso objetivo no mercado deBroadcast é suportar as empresas nesse processo de transformação, trazendo tecnologia e know-how que acelerem o desenvolvimento dessas novas formas de levar o conteúdo dos Broadcasters até os seus clientes.
Revista da SET: Qual a importância da área na empresa?
Andre Altieri:
A Cisco é uma das líderes mundiais em Tecnologia da Informação, ajudando empresas a aproveitarem as oportunidades do amanhã ao conectar o que antes estava desconectado. Nesse sentido, a acelerada adoção das redes IP, das soluções de Data Center e Cloud e das plataformas de tratamento e distribuição de conteúdo multimídia por parte dos Broadcasters tem importância e relevância enormes para a companhia.
O mercado de Broadcast, que até então concentrou seus esforços em levar seu conteúdo de maneira tradicional até os televisores, passa agora a contar com inúmeros novos dispositivos que serão conectados através da tecnologia IP. O conteúdo tradicionalmente tratado e armazenado de forma linear passa a ser armazenado e tratado em novos Data centers, alguns deles já operando em Cloud e virtualizados, trazendo flexibilidade, velocidade, segurança e elasticidade para os Broadcasters.