Congresso SET 2015 analisa o futuro da TV aberta no Brasil e no mundo

FEIRAS E EXPOSIÇÕES – Congresso SET – Parte I

 Nº 154 – Set/Out 2015

por Fernando Moura, Francisco Machado Filho e Equipe ProEx*, em São Paulo

Durante 5 dias, cerca de 300 palestras e 2000 congressistas debateram em São Paulo a situação atual da radiodifusão, que passa por um momento de transição e está lutando por manter o espectro que assegura seu futuro como um sinal aberto e gratuito. Ainda tiveram destaque na edição 2015 temas importantes como: a migração para IP; da rádio AM para FM, UHDTV, 8K, transmissões satelitais, conteúdos multiplataformas, novas mídias, estruturas de transmissão, antenas, sinais ISDB-T; Ginga, workflows; sistemas de captação, entre muitíssimos outros. A seguir a primeira parte da reportagem exclusiva sobre o evento

27ª edição do Congresso SET que se realizou de 23 até 27 de agosto de 2015 mostrou mais uma vez a força da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) trazendo ao Expo Center Norte cientistas, profissionais, CEOs, CTOs, pesquisadores, analistas e consultores dos 5 continentes para debater o presente e o futuro da televisão desde diversos prismas, opções e línguas.
Mais uma vez a Torre de Babel construída pela diretoria da SET para trazer conhecimento aos seus associados e conferencistas, reuniu o que há de melhor nas diversas áreas do conhecimento, de entidades e funcionários governamentais europeus, asiáticos, norte-americanos, latino-americanos e brasileiros, reafirmando a importância e qualidade do evento a nível mundial.
Um dos principais temas debatidos pelos mais de 300 palestrantes e quase 2000 congressistas foi o futuro da TV aberta, tanto pelo desligamento analógico, como pela implantação de novas formas de captação e produção que passam pela tecnologia 4K e 8K. O primeiro, talvez seja o tema mais importante na história recente da TV brasileira porque será, claramente, um divisor de águas, não só na qualidade de emissão e recepção, como no compartilhamento do espectro até agora radiofônico com as operadoras de telecomunicações. O segundo porque ditará o futuro em termo de captação, produção e exibição nos próximos anos.

Reiko Kondo do MC japonês mostrou as funcionalidades do sistema ISDB-T implementado no Japão

Desligamento Analógico
Já na cerimônia de abertura da 27ª edição do Congresso SET ficou claro que o desligamento analógico, o passo definitivo para o padrão ISDB-T e o compartilhamento do espectro irão proporcionar consequências a indústria. Assim, o Congresso SET 2015 dedicou uma parte importante a esta questão e a como será reorganizado o espectro radiofônico, já que no mundo inteiro, as faixas de frequência ocupadas pela TV aberta são as mais cobiçadas.
Nesse marco, uma nova rodada crucial de discussão sobre o futuro desse espectro ocorrerá em Genebra, no final deste ano. Estará a TV terrestre fadada a morrer? Se perguntaram os especialistas mediados por Liliana Nakonechnyj durante a Hot Session “O futuro do espectro”. O painel analisou o desejo voraz das operadoras de telecomunicações para obter mais espectro para oferecer aos seus usuários de banda larga móvel.
Reiko Kondo, diretora do Escritório de Informações sobre Tecnologias de Exibição Digitais e Comunicações do Ministério das Comunicações e Relações Internas do Japão afirmou que o switch-off analógico permitiu que uma série de serviços públicos que eram inviáveis com uma transmissão analógica, sejam oferecidos aos cidadãos japoneses, deles, o mais importante, o alarme de prevenção de catástrofes naturais utilizado no Tsunami de 2012.
Ainda explicou como foi reutilizada a banda para a utilização de rádios comunitárias FM e as rádios AMs que são muito importantes para prevenir desastres, “as AMs servem para mitigar as diferenças de recepção das FMs”.
Outro serviço que foi incorporado no Japão é o V-Low Multimedia Broadcasting que tem serviço territorial de rádio digital, mediante um sistema exclusivo para serviços públicos que já está operando. Reiko, ainda mostrou os serviços de V-High Multimedia Broadcasting (ISDB-Tmm), um serviço exclusivo para serviços móveis que trabalha entre os 207.5 e os 222MHz, e permite emitir sinais de TV para dispositivos móveis.
Para finalizar, a funcionária governamental explicou o trabalho feito para prevenção de desastres naturais no país e como os sistemas públicos de radiodifusão podem ser importantes para transmitir “alertas” mediante diferentes suportes, que vão desde alertas que chegam aos aparelhos de TV, rádios e dispositivos móveis.
Na sessão David Wood (EBU) se perguntou na palestra, “Can Broadcast Spectrum be saved?” e afirmou que existe uma pressão enorme para transferir cada dia mais espectro para os serviços de banda larga. “Nós não achamos que tenha de ser prejudicado o serviço de TV em troca do avanço do broadband. Somos tendenciosos porque acreditamos que o serviço de TV é fundamental, tanto que o serviço público de TV não pode deixar de existir”.

David Wood (EBU) disse em São Paulo que a TV Digital Terrestre (TDT) é a principal plataforma europeia de TV chegando a mais de 95% da população pelo que é fundamental discutir o futuro da banda de UHF

Ele disse que a TV Digital Terrestre (TDT) é a principal plataforma europeia de TV chegando a mais de 95% da população pelo que é fundamental discutir o futuro da banda de UHF, e alertar que as principais discussões da indústria e dos governos devem ter o uso do espectro e como ele será gerenciado.
Wood ainda se referiu as interferências da banda de 700 MHz que tem a ver com interferências cumulativa e não individuais, por isso, temos claro que “a discussão passa por definir que a interferência no sinal de TV Digital deve ser pensada segundo a quantidade de dispositivos móveis, e não de forma individual”.
O executivo e pesquisador europeu disse no Congresso da SET que os próximos tempos serão fundamentais para a radiodifusão porque se os serviços de broadband avançarem para a faixa de 490694 MHz, a vida da TV aberta corre sérios riscos. “A situação é seria, mas vale a pena salvar os serviços de radiodifusão em detrimento dos serviços de broadband”.
Jerald Fritz (One Media) trouxe a visão norte-americana do espectro. Ele que participou ativamente do processo de modernização dos serviços broadcast nos Estados Unidos na FCC (Federal Communications Commission), disse que estamos em uma etapa de mudanças no espectro. Há 20 anos a indústria do broadband “não existia, hoje parece um adolescente voraz que ataca todos os espaços que existem como necessário. Todos os novos usos do espectro acontecem se as solicitações SETdeste são autorizadas pelo Estado, por este motivo é fundamental que os Estados planejem devidamente o espectro e tenham noção do futuro”.

Cada ano a comitiva japonesa que se faz presente no Congresso SET é maior. Em 2015 foi liderada pelo Vice-ministro de Assuntos Internos e Comunicações do Japão, Yasuo Sakamoto

Fritz afirmou que o desafio da radiodifusão é fazer que os governos definam que serviço é mais valioso. “Ninguém pode definir isso, só o governo. Este tem de entender que a televisão é um serviço de radiodifusão gratuito para muitos é mais ou menos importante que um serviço interativo broadband individual. A decisão deve ser governamental e de longo prazo”.
Ele finalizou a sua palestra afirmando que “as emissoras do mundo precisam manter os espaços que hoje tem e se bem é importante compartilhar o espaço com o broadband, “é necessário ficar ligado porque o desejo voraz sobre o espectro é grande”.

Ana Eliza Faria e Silva (SET/TV Globo) se monstrou preocupada com o futuro da TV aberta no Brasil e no mundo pela voracidade das Telcoms em utilizar o espectro radiofônico

Ana Eliza Faria e Silva (SET/TV Globo) na sua palestra “O futuro do espectro de radiodifusão” foi clara e contundente. Ela alertou aos presentes afirmando que “o processo de desligamento analógico coloca em xeque a radiodifusão, porque não estamos só passando do analógico ao digital, senão também remanejando os canais para dar espaço ao serviço de 4G no país”.
“Nós aqui no Brasil defendemos a radiodifusão, ao contrário de outros países da região como Estados Unidos, Canada, México e Colômbia, estão a favor de espectro total para a banda larga móvel. Assim, em novembro se discutirá o futuro da radiodifusão na região em um contexto marcado pelos problemas de espaço para a transmissão por UHF, porque de alguma forma o espectro esta subutilizado, porque a demanda é superestimada, sobre valorização dos benefícios, incerteza regulatória que reduz investimentos na TV; interferência”.
Ana Eliza se mostrou preocupada com o futuro do espectro na região destacando que tudo será definido até o final do ano quando será discutido o que “ficará para espectro e o que passará a ser utilizado para banda larga móvel. Hoje não esta definido o que acontecerá e qual será o futuro da TV porque nós acreditamos que faixa não pode ser compartilhada e de esta forma obrigar as pessoas a escolher entre a banda larga móvel e o serviço de radiodifusão aberta”.
Assim, a executiva da TV Globo disse que se mudarem as regras do jogo, a radiodifusão brasileira corre riscos, como por exemplo as emissoras alocadas em regiões fronteiriças que haverá um “possível impacto externo na forma de interferência” pelo que “precisamos de uma agenda forte e propositiva sobre a evolução tecnológica da TV, porque o futuro do espectro e o futuro da TV se confundem”.

Sala cheia para ouvir Jovino Pereira (MiniCom) explicar as regras do desligamento analógico

Apagão Analógico: As suas regras
O apagão do sinal analógico de rádio e televisão no Brasil está previsto para começar em 25 de novembro de 2015 e terminar em 25 de novembro de 2018. No Congresso da SET foram discutidas as Regras para o desligamento do sinal analógico no país. Jovino Pereira (Ministério das Comunicações), Vitor Elisio de Oliveira (ANATEL) e Geraldo Cardoso de Melo (SET) apontaram as ações necessárias e as dificuldades para que haja cobertura de TV digital em todo o Brasil após o desligamento. Tereza Mondino (TM Consultoria) moderou a sessão e, de início, propôs uma reflexão a respeito das consequências do switch off para a radiodifusão do país: “ela será preservada?”.
Jovino Pereira, diretor de outorgas de serviços de comunicação eletrônica da Secretaria de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações (MC), destacou que “o Estado abriu mão de recursos para financiar a transição porque acredita que a TV aberta de qualidade, no Brasil, é uma prioridade. Sabemos que é um processo complexo e que demanda esforços de todos os atores envolvidos, com debate e participação, uma vez que estamos construindo o nosso próprio modelo de transição com as peculiaridades da TV aberta, gratuita e livre”.
O representante do governo lembrou, também, que “apesar de as palavras marco regulatório e regulação causarem frison, o Ministério tem o papel de regular o setor, porque a legislação, da década de 1960 [precisamente, o Código Brasileiro de Telecomunicações, de 1962], contém artigos remendados e que não dialogam”.
Sobre a portaria das RTVs, Pereira afirmou: “é uma portaria de transição até o desligamento. Cerca de 4.000 RTVs secundárias virarão primárias de acordo com o cronograma e as condições operacionais do MC e da ANATEL. Outras RTVs secundárias ainda serão objeto de análise dentro do prazo de três anos. A portaria que diz isso está ‘no forno’, pronta para a publicação, e foi feita com a participação direta e ativa da radiodifusão. A gente não vai fechar os olhos para as radiodifusoras na digitalização. Vamos resolver tudo, dentro do possível. Os problemas do ambiente analógico devem ser ‘desligados’ no switch-off ”, disse.
“Considerando-se o alto custo do projeto de implantação, percebeu-se a importância de acelerar a política do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e utilizar os dividendos oriundos da disponibilização da faixa de 700MHz para financiar os custos da política de desligamento. O Estado decidiu usar parte dos recursos do leilão para financiar a digitalização. Essa decisão beneficiou direta e indiretamente as emissoras de radiodifusão”, destacou o representante do Ministério. Ele ressaltou, ainda, que “pela Portaria 14 do MC, a ANATEL recebeu a incumbência de verificar a viabilidade da destinação da faixa de 700 MHZ para tecnologias de banda larga móvel de quarta geração; e garantir a proteção do serviço de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão contra eventuais interferências advindas pela nova destinação da faixa”.

Sessão analisa, entre muitos pontos, se “ao final de todo o processo, a radiodifusão estará preservada?

Pereira concluiu afirmando que “a implantação TV Digital não é um processo simples e demanda esforços de todos os atores envolvidos. Estamos construindo o nosso próprio modelo de transição, com as peculiaridades da TV aberta e gratuita no Brasil e queremos que os benefícios sejam aproveitados pela sociedade brasileira, incluindo também os radiodifusores, a indústria e o próprio governo. Os desafios serão superados quanto mais integrados estejamos. Os avanços experimentados, não só de ordem tecnológica, mas também de ordem econômica, política e social também só serão partilhados se houver sinergia”, disse.

ANATEL exalta ‘sinergia’ – radiodifusores apontam problemas
Vitor Elisio de Oliveira, superintendente de outorgas e recursos à prestação da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), ressaltou que a ANATEL e o Ministério das Comunicações “têm caminhado em uma sinergia muito grande”.

“Estamos trabalhando para atender aos interesses de todos, ouvindo o máximo de conselhos e pedidos. O desafio é esse. Na semana passada tivemos, inclusive, uma reunião com o Governo do Estado de São Paulo para discutir a questão do switch off. Eles fizeram ótimas ponderações que, certamente, vão nos auxiliar bastante nas decisões que tomaremos daqui para a frente”, contou.

Uma das sessões como maior interação do público foi “Regras para o desligamento do sinal analógico” moderada por Tereza Mondino (SET/TM Consultoria)

 professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC/MG) e vice diretor regional SET sudeste, agradeceu a forma com que o Ministério das Comunicações e a ANATEL estão recebendo as emissoras de radiodifusão brasileiras para levarem as suas reivindicações, mas, fez ponderações a fim de “preservar o serviço”.
“O que os radiodifusores têm pleiteado é que as normas criadas surtam efeitos no ponto final, após o switch-off. É preciso assegurar um período adequado para as empresas realizarem a transição tecnológica; é preciso que o sinal digital cubra toda a população coberta com o sinal analógico; e, sobretudo, é preciso permitir a expansão da cobertura no futuro. A transição precisa acompanhar o crescimento das cidades, atender a população ainda não servida, e garantir que o espectro radioelétrico não seja entregue às operadoras de 4G. Nós temos uma ansiedade de ver alguns desses problemas, que se arrastam por muitos anos, resolvidos, processos que estão aguardando desfecho na ANATEL e no Ministério. Diante da atualização das normas, nós continuaremos batendo na porta deles”, ponderou.

Quase 2 mil congressistas participaram do Congresso SET 2015

Sobre o período de simulcasting, Melo destacou: “é importante para que o usuário possa adequar o seu receptor à nova tecnologia de transmissão. A sociedade tem uma inércia natural e precisa de estímulo e tempo para aderir às novas tendências tecnológicas. Existe uma expectativa de oferta dos produtos com preços mais atrativos, quando ocorrer a massificação total do acesso a essa nova tecnologia. A transição é um ônus para os radiodifusores”, disse. Em relação à Portaria 932, que dispensa as emissoras de processo seletivo no reuso do canal, o representante das emissoras afirmou que “é necessário que os órgãos reconheçam a cobertura de áreas ainda não regularizadas, porque isso vai proporcionar uma otimização do uso do espectro e vai simplificar o tempo de tramitação dos processos. Existem pedidos nossos referentes à RTVs analógicas que ainda estão sem resposta na ANATEL e no Ministério. E se essas outorgas não saírem até a transição?” questionou.
Para que o replanejamento dos canais de TV Digital ocorra “sem percalços”, o palestrante afirmou no Congresso SET 2015 que é necessário “liberar a consignação do canal digital ainda não efetivada; estudar a possibilidade técnica de entrada de estação diretamente no canal digital do replanejamento; efetivar a adaptação para caráter primário, com a respectiva consignação dos canais, das estações de RTV secundárias pareados nos trabalhos de replanejamento do PBTVD; e é necessário que haja uma retomada das reuniões de replanejamento para pareamento dos canais ainda não pareados. Além disso, é preciso que a transferência da outorga seja feita ao cedente da programação nos casos de reuso do canal; é preciso atualizar a base de dados do SRD e é preciso flexibilizar a indicação das coordenadas geográficas da estação. Enfim, é preciso corrigir os erros existentes no PBTVD e nos atos de efetivação das alterações relativas ao Replanejamento”.
Na sua ótica, “está havendo um rigor desnecessário na análise de projetos de estações analógicas, por parte do Ministério das Comunicações e da Anatel. Isso gera muitas exigências, considerando-se que essas estações terão as suas operações encerradas em breve. Precisa estabelecer uma agenda de encontros diretos com a ANATEL e o MiniCom”.
A coordenadora da sessão, Tereza Mondino, da TM Consultoria, destacou a necessidade de a ANATEL revisar o plano PBTVD: “Ele está com inúmeras incorreções e precisa ser acertado, de preferência, na ordem cronológica do desligamento. Essa é uma responsabilidade grande da ANATEL, porque as emissoras dependem do plano para se organizar neste período de transição”, disse.
Sobre o plano básico, o advogado da Agência Reguladora, Vitor Elisio de Oliveira respondeu: “Hoje, nós não conseguimos fazer uma outorga em 15 minutos, uma análise de viabilidade técnica em 5 dias. Com o pessoal que a ANATEL tem, eu não consigo. E não vou ser leviano, se dizer que conseguiremos antes do início do switch-off. Mas, quero ressaltar que vamos fazer de tudo para que isso seja possível nos próximos um ano e meio ou dois anos. A ANATEL fica de portas abertas para tentar resolver os problemas das emissoras que aparecerem”, finalizou.

O desligamento das Prefeituras

Marco Antonio Martins, gerente de Engenharia de Telecomunicações da RPC TV, trouxe a São Paulo as experiências do estado do Paraná

Outro tema que preocupa aos radiodifusores brasileiros é o que acontecerá nas mais de 5 mil Prefeituras do país após o apagão analógico, por isso a sessão: “Switch-off analógico: como ficam as prefeituras?,” que teve a moderação de Ivan Miranda, diretor de Engenharia da GRPCOM / RPCTV (Afiliada Rede Globo no Paraná) e Diretor da Região Sul da SET tentou vislumbrar se será possível que “todos tenham um processo switch-off assertivo”.

Thiago Soares, Coordenador na Gerência de Espectro, Órbita e Radiodifusão da ANATEL abriu o debate abordando o “pareamento de canais de prefeituras”. Ele mostrou as fases de inclusão de canais digitais primários e explicou que “atualmente não há pendências de pareamento de canais primários de prefeituras. Agora a questão chave é a inclusão de canais para RTV secundárias, que não foram incluídos do PBTVD”.
Entretanto, Tiago Facchin, gerente Executivo de Engenharia de Projetos e Sistemas de Transmissão do Grupo Bandeirantes, apontou os “desafios para que o desligamento aconteça sem o risco do apagão”. Ele dividiu as dificuldades em questões de legalização – principalmente de consignação, e investimentos necessários para digitalização das estações, já que existem muitas “infraestruturas precárias e inadequadas para o Digital, com necessidade de novos equipamentos”.
Facchin disse que “se as redes não assumirem o switch-off junto as detentoras de outorga, esse processo não vai acontecer porque as prefeituras não tem corpo técnico capacitado e não são familiarizados com a burocracia necessária”. Além disso, ele disse que “as prefeituras têm pouco interesse em arcar com os custos da digitalização, salvo algumas exceções”.

Vanessa Lima e Oliveira da ProTelevision, apresentou a palestra Retransmissão de TV Digital, onde abordou redes MFN e SFN

Para ele, o apagão ou não, vai depender de medidas como: “desburocratização dos processos legais, transferência de outorga para as cedentes de programação, sistemas compartilhados entre as redes, incentivos fiscais para aquisição de novos equipamentos e novas soluções tecnológicas para redução de custos”. Ele concluiu sua apresentação com mais uma questão: “será que estamos realmente prontos para o switch-off analógico?”
Marco Antonio Martins, gerente de Engenharia de Telecomunicações da RPC TV, trouxe as experiências do estado do Paraná, que já cobre quase 70% da população com sinal digital da afiliada da Rede Globo. Ele acredita que “há bastante a fazer para todas as outras emissoras” e que nesse momento, não deve existir competividade entre elas.
Martins apresentou três cenários envolvendo a questão do switch-off nas prefeituras paranaenses: favorável, neutro ou contra, sendo que o último ocorre por “receios administrativos ou políticos”. A medida que a RPC tomou foi enviar kits de divulgação com informações mínimas a respeito do processo. No entanto, “quando o assunto é investimento o cenário é único: ninguém tem dinheiro”, relatou.
Nesta sessão, o diretor de Outorgas de Serviços de Comunicação Eletrônica da Secretaria de Comunicação Eletrônica do Ministério de Comunicações (MiniCom), Jovino Pereira disse que o Ministério “iniciou em 2013 o desenvolvimento de ações voltadas para garantir recursos suficientes para a digitalização dos transmissores da atual área de cobertura analógica e assegurar o acesso de toda a população a tecnologia digital de TV”.

Cada ano, o Congresso da SET e o SET Expo criam maior expectativa na mídia brasileira e internacional com jornalistas chegados dos Estados Unidos, México, Argentina, Colômbia, Uruguai, entre outros. Na foto Olímpio Franco em entrevista com a Rádio Jovem Pan

Ele mostrou como as prefeituras devem requerer a consignação do canal de acordo com a portaria MC número 652/2006. Acerca das dificuldades encontradas, ele afirmou que o Ministério “está fazendo as alterações necessárias para driblá-las”.
Pereira também pontuou que o Ministério das Comunicações prioriza o desligamento de acordo com o cronograma, e reafirmou que “o desligamento só ocorrerá se 93% dos domicílios que acessam a TV analógica terrestre, em cada município, estiverem aptos a receber a TV Digital Terrestre”.
O moderador Ivan Miranda declarou em entrevista à Revista da SET que a discussão foi bastante produtiva. “Precisamos mostrar a urgência da questão, não só para a plateia, mas inclusive para a ANATEL e para o Ministério das Comunicações. As prefeituras correspondem a uma parcela significativa de cobertura de TV aberta do país, talvez chegando a casa de 30% dos canais existentes, mas que na discussão da digitalização estão um pouco fora do nosso alvo. Se falamos em desligamento em 2018, já teríamos que ter recursos disponíveis para as Prefeituras em 2016 para que todas as emissoras pudessem conduzir o processo de digitalização”, concluiu.

MER e retransmissão digital
Outro dos temas derivados do desligamento analógico são as soluções em transmissão e retransmissão do sinal de TV aberta; por isso no Congresso SET 2015, palestrantes apresentaram um tutorial para MER e Gap Filler.
A sessão MER. Retransmissão digital – Tutorial, mostrou como as emissoras de televisão brasileiras vivem a substituição dos sistemas de transmissão do sinal de TV aberta e como as retransmissoras de TV Digital precisam ser instaladas em número considerável de municípios.
Newton Martins Stori, engenheiro da RPC TV, comparou a utilização do sinal digital em 64 QAM à utilização do sinal digital em 16 QAM e destacou que “ruídos e distorções não lineares fazem com que o sinal não seja ideal. Porém, o sinal perfeito nunca vai existir. Quando há muitos ruídos, o sinal em 16 QAM é o mais adequado”, destacou.
As modulações digitais ASK, FSK, PSK e QAM podem alterar a transmissão do sinal digital de televisão, assegurou. “O MER é a medida que melhor representa o sinal digital. Quando o sinal é construído e tem uma boa qualidade de recepção, não faz diferença utilizar o sinal digital em 16 QAM ou em 64 QAM. Mas, se o 16 QAM gera menos ruídos, o utilizo sempre? Não. É preciso se atentar para a relação que se coloca entre a modulação e a taxa útil,” frisou.
O EVM (Error Vector Magnitude) é o vetor de erro, o qual deve ser considerado na instalação de retransmissoras digitais. “Quanto maior o EVM, pior é a qualidade do sinal. E como relacionar isso a MER. A MER é obtida matematicamente, quando se realiza a divisão do vetor principal pelo vetor de erro. Quanto maior a MER, melhor a qualidade do sinal”.

Os intervalos das sessões são um excelente momento networking entre os engenheiros, profissionais e intelectuais presentes no Congresso SET

Além disso, Stori lembrou que “existem dois pontos importantes de análise da MER, a MER transmitida e a MER recebida. Qual realmente importa? O que cada uma delas representa? A MER transmitida representa a qualidade do equipamento. Se a MER for muito elevada, a eficiência do sinal é prejudicada, o consumo energético aumenta, e o custo operacional de energia (pago às concessionárias) também aumenta, assim como o custo de transmissão e o espaço físico necessário para a utilização do retransmissor. Ou seja, a infraestrutura, de uma forma geral, vai ser mais cara. Se a MER de transmissão for muito reduzida, o back-off dos PA’s será menor, e a facilidade de captação e de recepção do sinal será afetada”.
“A MER recebida representa a qualidade do sinal que chega ao receptor. Para determinadas áreas de cobertura, MERRX é a que importa para um sinal digital de qualidade”, destacou o palestrante. Por isso, o foco, de acordo com ele, devem ser os níveis mais baixo de MER. Newton sugere que “valores entre 31 e 33 dB na MER transmitida são suficientes para manter a facilidade e a capacidade do sinal demodulado e decodificado em uma determinada área de cobertura. É válido ressaltar que esses valores são referentes a pontos de transmissão. Caso seja necessário o uso de reforçadores de sinal, o valor deverá ser considerado após o Gap Filler”, ponderou.

A SET montou um estúdio de TV e realizou uma série de entrevistas com alguns dos principais palestrantes do Congresso SET. Pode conferir em https://www.youtube.com/channel/ UCFOw-xbAA8dOxTHJtpS3dVw

Após a fala de Newton Martins Stori, o coordenador da sessão, José Frederico Rehme, destacou: “o que interessa, no fim das contas, é a dona Maria e o seu João assistirem a uma imagem de qualidade. Isso tem a ver com a taxa de erro de Ibit (BER) e a taxa de erro de bit tem a ver com a MER. E a MER tem a ver com a BER. Quando a BER (taxa de erro de bit) está ruim, não há o que fazer. Agora, quando a MER está ruim, dá para contornar”, exclamou o moderador.
O moderador ressaltou ainda que, nem sempre, uma MER de transmissão alta é garantia de um boa MER de recepção: “18 dB de MER na casa da Dona Maria dá uma imagem show de bola! O que adianta ter um transmissor de 38dB, se na casa da Dona Maria só chegam 15dB? Se vamos à casa de outra pessoa e ela está com a recepção boa, a imagem vai chegar em 27,8 dB. É claro que a MER do transmissor influencia a MER recebida. Para a pessoa que mora perto, quanto pior a MER do transmissor, pior a MER de recepção.
Por isso, de acordo com Rehme, é preciso conhecer a MER de recepção antes de adquirir um transmissor: “Não coloque muito dinheiro em transmissor, caso você não conheça a MER de recepção. O número ideal apontado pelo Newton, de 30 a 33 dB, também é apontado por outros estudos.
Vanessa Lima e Oliveira da ProTelevision, apresentou a palestra Retransmissão de TV Digital, onde abordou redes MFN (Multiple Frequency Network) e redes SFN (Single Frequency Network, com ou sem Gap Filler). “O ideal, em termos de praticidade, seria o uso de MFN. Porém, a escassez de retransmissores faz com que o conceito de SFN seja mais interessante, porque, hoje, o receptor está sujeito a um canal dispersivo no tempo. É preciso, então, fazer uma análise dos múltiplos percursos do sinal. Em ambientes rurais, por exemplo, há poucos obstáculos e o eco tende a ser menor”, afirmou.
Ela explicou que “a SFN, ou em português Rede de Frequência Única, nada mais é do que o multipercurso inserido intencionalmente e de forma controlada. Do ponto de vista do receptor, não importa se ele receba em SFN ou em MFN”. Por isso, Vanessa defende que se utilizem duas fontes de transmissão simultâneas: “Assim, modelar uma rede SFN é estudar o comportamento do receptor entre as duas fontes de transmissão. As áreas de sobreposição são o ‘x’ da questão”, complementou. “Deve haver, então, um ajuste de delay que varie de acordo com o espaçamento entre as duas torres de transmissão. Os sinais deverão se somar, considerando-se o espaçamento. Se o sinal mais forte e o mais fraco entrarem ao mesmo tempo no receptor, pode haver auto-interferência. Por isso, deve se ter cuidado com o espaçamento”, destacou.
A palestrante mostrou, ainda, que há duas formas de se implantar uma rede SFN: “a SFN Distribuída, em que há apenas uma fonte de BTS in RF out, ou a SFN por Repetição (batizada de Gap Filler), na qual se tem uma estação principal e só esta estação principal recebe o sinal BTS; as demais estações recebem o sinal da transmissora principal”.
“A rede distribuída tem uma confiabilidade maior, pois os transmissores SFN trabalham de forma independente, não tem limitação de potência, não há degradação do sinal e há zero de delay possível. A desvantagem é precisar do link estúdio transmissor (STL). A rede de repetição não precisa do STL, desde que seja possível receber o sinal do transmissor principal no ponto de repetição, com qualidade mínima aceitável. As desvantagens da rede de repetição são que, se o transmissor principal falhar, todos os gap fillers param de operar; além disso, há limitação de potência, devido ao acoplamento de feedback, há degradação do sinal e há possibilidade de delay mínimo (ou delay de trânsito)”, explicou.
É importante, também, de acordo com Vanessa, “considerar a utilização do Insersor de Atraso no dimensionamento de uma rede SFN. Há duas formas de se fazer o ajuste: a dinâmica e a estática. O inconveniente da estática é ajustar o atraso de forma equivocada, quando há erro nos cálculos ou quando falta um PPF”, destacou.
O planejamento de uma rede SFN começa pela escolha dos dois pontos de instalação dos transmissores, segundo a palestrante. “Feito isso, deve-se pegar as coordenadas geográficas e colocar em um software de predição, para que seja feita a escolha das potências e para que se tenha o conhecimento das áreas de sobreposição de sinais. Após isso, encontram-se os pontos onde haja sobreposição e ajusta-se o tempo de transmissão. A área de sobreposição é a região em que a diferença de potência entre os dois transmissores é igual ou menor a menos 30”.
Após a conversão do Intervalo de Guarda (IG) para a Distância Temporal Máxima, elabora-se uma tabela. “Na zona de intersecção, o ideal é ter os sinais alinhados. Não podemos deixar que a zona de intersecção tenha dois sinais com potências próximas e muito desalinhados. Um transmissor passa a interferir no outro se os sinais que chegam ao receptor violam a distância máxima permitida pelo IG. A área de sobreposição não pode ser maior que IG x Velocidade de Propagação (KM). Por isso, projetar uma rede SFN é, também, dimensionar as potências dos transmissores de acordo com a distância entre eles”, ressaltou.


Cerimônia de abertura mostra que no meio da crise o SET Expo cresceu mais de 20%

“Juntos somos mais fortes”, disse o presidente da SET às várias centenas de convidados especiais presentes na inauguração do maior evento de Broadcast e Novas Mídias da América Latina

O presidente da SET, Olímpio Franco afirmou na cerimônia de abertura que no segundo ano que a “Feira” do SET EXPO é realizada e organizada pela própria SET, crescemos 20% em área efetiva de exposição em relação a 2014. Mais de 190 expositores representando algumas centenas de marcas apresentam seus lançamentos a um público qualificado proveniente de toda a América Latina e de diversos outros países do mundo

A Cerimônia de abertura do SET Expo 2015, 27ª edição do Congresso SET, 2º Fórum Latino-americano de Negócios de Radiodifusão, 1º Workshop Pro-AV e o Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre contou com a presença do presidente da SET, Olímpio Franco; do secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Luiz Azevedo; do Vice-ministro de assuntos internos e comunicações do Japão, Yasuo Sakamoto; do presidente da Anatel, João Batista Rezende; do presidente da AIR (Associação Internacional de Radiodifusão), Alexandre Jobim; do presidente da AESP, Paulo Machado de Carvalho Neto; do conselheiro da ABRATEL, André Felipe Trindade; entre muitos outros.

Olímpio Franco afirmou na cerimônia de abertura que estava muito feliz por chegar a 27º edição do evento.
“A SET desde 1988 atua incansavelmente para a difusão, expansão e aperfeiçoamento dos conhecimentos técnicos, operacionais e científicos relacionados a produção e distribuição de conteúdo audiovisual para Televisão, Rádio, Cinema, Novas Mídias e a Internet. Contribuímos ativamente para o fomento de nosso mercado propiciando diversos fórums de debates e cooperando com o Governo no estabelecimento de normas e padrões que norteiam esta indústria”.
Franco reafirmou a importância da SET e os seus grupos de estudo na contribuição com “o governo para aperfeiçoamento de normas e regulamentos que afetam o setor que atuamos. Nosso Congresso tem um papel fundamental para os mercados de broadcast e novas mídias com contínuo progresso em conteúdo e em público”.
O presidente da SET disse que “o SET EXPO é o maior evento anual de “Broadcast and New Media Technology” na América Latina e, estamos trabalhando intensamente para que possamos propiciar mais e mais conteúdo na língua espanhola, bem como discussões focadas na realidade local de nossos vizinhos.”

Franco encerrou o seu pronunciamento deixando as datas do próximo SET Expo, que será realizado de “29 de agosto até 1º de Setembro de 2016, pois queremos nos encontrar com todos vocês novamente aqui no Expo Center Norte”.

Governo Brasileiro está otimista com o processo de desligamento analógico. Para o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Luiz Azevedo os testes em Rio Verde (GO) que começam em novembro são essenciais

A abertura teve a presença de delegações da Botswana, Chile, China, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Japão, Paraguai, Peru, Venezuela que participam do Fórum ISDB Internacional, além de personalidades da Argentina, Uruguai, África do Sul, Reino Unido, Suíça, Estados Unidos, Alemanha, El Salvador, e outros.

O Japão quer continuar estando ao lado dos radiodifusores latino-americanos
Uma das presenças mais destacadas na cerimômia de abertura foi a do vice-ministro de Assuntos Internos e Comunicações do Japão, Yasuo Sakamoto. Ele disse aos presentes que há 10 anos quando o primeiro ministro do Japão afirmou que era necessário unir três conceitos aproximarem o Japão da América Latina.
A ideia era “progredir em conjunto” e “inspirar juntos o desenvolvimento tecnológico dos que trabalham em radiodifusão e telecomunicações, acredito firmemente que a adoção do padrão nipo-brasileiro de radiodifusão terrestre em 2006, é fruto de um esforço colaborativo entre as nossas duas nações. E que o Brasil é fundamental para difundir o padrão em toda a América Latina”.

O Presidente do Fórum SDBTV, Roberto Franco afirmou que a SET é fundamental no desenvolvimento da engenheira de televisão no país e no mundo

O olhar do governo brasileiro sobre a radiodifusão
O presidente da Anatel, João Rezende disse que é uma satisfação ver que os países da América Latina estão presentes em São Paulo para contribuir para o debate, e nesse sentido a Anatel espera garantir uma relação transparente com a radiodifusão, com o GIRED, como exemplo claro dessa transparência, que é um modelo de interação entre o setor de Telecom e de radiodifusão será importantíssimo para o avanço da indústria.
No fim da cerimônia, o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Luiz Azevedo afirmou que o desafio do desligamento analógico é o principal objetivo do governo, e que este tipo de congresso é muito importante nesse contexto, tanto que ele espera convidar alguns dos palestrantes do Congresso SET para debater com o Ministério, levando a Brasília as opiniões e considerações técnicas da indústria.
“Temos como meta que 100% das residências tenham acesso ao sinal digital, e sabemos que o desafio é grande, porque na primeira pesquisa feita em Rio Verde (GO) mostra que só o 46% recebe o sinal. Precisamos fazer campanhas, precisamos ter medidas mais fortes, ações de impacto para que as pessoas percebam e entendam que ficaram sem a possibilidade de assistir TV aberta. A nossa jornada é muito árdua”, finalizou. Azevedo disse que “o governo tem como principal objetivo que exista a RTV primária, porque para nós é fundamental que o radiodifusor tenha garantias com respeito a outorga. Precisamos remodelar os processos, fazer uma profunda desburocratização”.

Alexandre Jobim , presidente da AIR, se manifestou muito satisfeito pela realização conjunta do 2º Fórum Latino-americano de Negócios de Radiodifusão e o SET Expo 2015

Outras vozes, as entidades do setor
Roberto Franco afirmou na cerimônia de abertura do SET Expo 2015 que estamos em um momento de reflexão, “vivemos em um momento de crise econômica mundial, mas no país temos ainda uma crise política. Precisamos ter pautas positivas, precisamos de pautas que contenham projetos, nesse caso, a SET é uma entidade que sempre teve como propósito lutar pelo bem do país, a SET busca o conhecimento, mas também, princípios éticos não só para o país, mas também para o mundo. Este congresso e esta feira são uma das maiores a nível mundial. Em relevância para o nosso país é uma das maiores do mundo. Alimentem-se dos conteúdos, bebam o que aqui há e bebam da fonte, porque por aqui passam as pessoas que fazem e fizeram parte da história da TV brasileira e do mundo.”
André Felipe Trindade, da Abratel, propôs uma reflexão sobre o momento do país, e da indústria e disse que “esta será o último SET Expo antes do desligamento analógico, por isso é muito importante que nos juntemos com o governo para sanar todas das dúvidas que temos. Este é o último SET Expo antes que se realize 2015, reunião da União Internacional de Telecomunicações (UIT) que trará importantes decisões sobre a harmonização do uso do espectro. É muito importante que o radiodifusor brasileiro e dos demais países que adotaram o padrão nipo-brasileiro, defendam, junto a UIT, que a faixa de 470-698 MHz continue sendo utilizada pela televisão digital”.
Trindade afirmou que é urgente que os radiodifusores dialoguem com o Ministério das Comunicações para garantir a faixa e demos continuidade aos serviços de radiodifusão que “nos permitam continuar a prestar um serviço livre, e gratuito com referência mundial.”
Alexandre Jobim (AIR) saudou a SET e aos seus associados por serem “tão importantes na defesa do espectro da radiodifusão brasileira e mundial. Este evento não é o maior do mundo, mas já é o maior evento de América Latina. Ele já é um ícone que nos permitiu criar o Fórum Latino-americano de Negócios de Radiodifusão para discutir questões políticas, econômicas e técnicas que são importantes na defesa do espectro e com isso da radiodifusão”.

Internet das Coisas debatida com humor e precisão científica

A televisão como central de comutação dos diversos dispositivos

“O mundo pensado no passado está se concretizando,” afirmou Tom Jones (Tecsys/SET) no iniciou sua apresentação lembrando à plateia que muitos dispositivos pensados no passado estão se tornando realidade em nosso dia a dia e cada vez mais, a escala de dispositivos conectados à internet se multiplica em todo mundo. Tom Jones foi o primeiro palestrante da sessão: a usabilidade da internet das coisas (IOT – Internet of Things).

Tom Jones (Tecsys/SET) afirmou que o nosso mundo gira em torno de uma plataforma revolucionária – a Internet – em que as pessoas falam umas com as outras, mandam recados, compram itens essenciais, trocam experiências de vida social tudo isso de forma online e interativa

Estes dispositivos conectados em uma mesma rede podem trocar informações e facilitar ainda mais a vida dos cidadãos. Contudo, fazer estes dispositivos conversarem entre si, requer uma interoperabilidade que ainda não está estandardizada pela indústria o que dificulta esta conexão e possibilidades que a IOT oferece. Jones afirma que esta interoperabilidade só poderá acontecer em ambientes abertos de desenvolvimento.
José Janone Junior (Abranet), afirmou que a consolidação da IOT no Brasil depende da melhoria da infraestrutura de rede, backbone e datacenters. Além dos investimentos na indústria de equipamentos e investimento e esforços para implementação do Ipv6. Além é claro, de uma legislação atual para o setor. Com estes desafios solucionados, Janone demonstrou que algumas tendências serão possíveis de se concretizar, como casas inteligentes, TV por IP e diversos outros serviços.
Max Leite (Intel) abordou o lado das empresas que provêm o acesso a IOT. Responsável pelo setor de inovação da empresa, Leite apontou as iniciativas desenvolvidas no Brasil pela Intel. Dentre elas, aplicações para minimizar o furto de carros por meio da IOT e aplicações para personalizar o atendimento em postos de gasolina (ainda em conceito) da bandeira Petrobrás que é capaz de reconhecer o usuário e oferecer serviços personalizados para cada cliente. A forma como a empresa vem se dedicando a IOT, é a oferta de produtos cada vez mais baratos e eficientes que permitem que a conexão com a internet seja implantada em cada vez mais dispositivos.
André Campus Felipe (Iprospect), representante da empresa que faz a mensuração das atividades individuais na internet para publicidade, abordou a questão econômica e as possibilidades de monetização das ações das empresas dentro da IOT. Atualmente, os brasileiros passam 5 horas conectados à rede, destas, 4 horas conectados no celular. O Brasil já é o terceiro país mais conectado à web por celular no mundo. Estes dados demonstrar o enorme potencial de negócios relacionados a IOT. Felipe focou também na questão do conteúdo. Que tipo de conteúdo poderá fazer parte do nosso dia a dia? São pequenas atividades que farão que o usuário não consiga distinguir momentos no uso da internet das coisas e o consumo de produtos. Esta interação poderá ser aferida e monetizada, na opinião de Felipe, o que irá gerar um grande retorno para as empresas.
Carlos Watanabe (Adobe) trouxe para o congresso a solução da empresa para integração de áudio e vídeo para a IOT. A primeira fase desta integração diz respeito a oferta de monitores e telas com maior resolução e pixels. A proposta da empresa é melhorar ainda mais a experiência visual das pessoas com imagens com maior definição de cor e contraste. Os monitores HDR no futuro serão popularizados e disponíveis para aqueles que procuram uma definição ainda maior. Esta experiência que se aproxima de uma realidade, porém virtual, irá permitir que as pessoas sintam-se motivadas a interagir e demandar conteúdos ligados a IOT.
Por fim, Daniela Souza (AD Digital) abordou a questão da sessão pelo ponto de vista da empresa como integradora de sistemas e que enxerga o momento atual como um momento em transição e de adaptação de todos os setores que fazem parte do ecossistema da IOT. Souza entende que o momento Broadcast vem sendo desafiado mais pela mudança do hábito de consumo das pessoas em relação às mídias físicas, principalmente na capacidade de adoção a novos hábitos da geração mais jovens, os chamados Mileniais. Focando na indústria de mídia e entretenimento, Daniela afirmou que as empresas ainda não têm maturidade nenhuma para oferecer a IOT e reconheceu que este é um caminho sem volta, mas ainda é muito cedo para se apontar caminhos, ainda mais para ser trilhado.


Acessibilidade na televisão em foco

Em sessão de fácil compreensão, palestrantes exaltaram a necessidade de recursos de acessibilidade na TV brasileira. SET realiza palestra com closed caption e linguagem de libras

“Os serviços de acessibilidades são complementares e ajudam o desenvolvimento dos telespectadores brasileiros” afirmou Edson Moura (SET/TV Globo) moderador da sessão “Acessibilidade”

Tendo como moderador Edson Moura, a sessão “TVD – Acessibilidade” procurou promover um debate sobre as melhorias para os acessos existentes e formas de abordar os problemas organizacionais, técnicos e legais para acessibilidade na televisão, e colocou à disposição da platéia, pela primeira vez em um Congresso SET um telão com closed caption ao vivo e colocando no palco um profissional em linguagem de libras, o que para Moura é uma forma de trazer para dentro do Congresso uma necessidade social, a de dar acessibilidade aos conteúdos para os diferentes públicos.
Para começar, José Ednilson, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ressaltou que a linguagem de libras é outra língua, e não uma codificação da língua portuguesa, e sim uma língua paralela. E levantou questões de como tornar a linguagem de libras uniforme, coerente e correta para o uso de todos os necessitados.

Olímpio Franco, presidente da SET afirmou que a entidade tem responsabilidade social, e por isso, é importante trabalhar nesse projeto e revisar os documentos aprovados para avançar para um projeto que viabilize da melhor maneira a inclusão

Eliana Abdallah (Steno do Brasil), desenvolveu sua fala na área de legendas. Relatou a importância da uniformidade e falta de subjetividade nas construções da mesma, demonstrou exemplos de erros e acertos em legendas.
Em seguida, a palavra ficou com Flávia Machado (TV Aparecida). Ela falou sobre o potencial da audiodescrição (AD) na TV brasileira, deu ênfase no closed caption, fez uma pequena demonstração de audiodescrição da TV Aparecida, explicou o processo de construção do roteiro deste recurso em programas gravados e ao vivo. Terminou sua fala mostrando o panorama de AD no mundo.
Oscar Simões, presidente da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) afirmou que “temos um mercado segmentado, quem é responsável pela distribuição não pode programar. No Brasil, o detentor do conteúdo não permite que o operador interfira nos seus conteúdos. Isso porque os programadores são os detentores dos conteúdos”. Nesse ponto, Simões disse que “a cadeia de valor do audiovisual precisa entender a importância da inclusão, e a ideia da ABTA é avançar para projetos que permitam maior inclusão”.

A sessão contou com a presença do presidente da ABTA, Oscar Simões, que afirmou que “a cadeia de valor do audiovisual precisa entender a importância da inclusão”

Olímpio José Franco, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), focou seu discurso na portaria da lei de acessibilidade. Iniciou sua participação dando um pequeno histórico sobre o tema, falou da criação do Grupo SET de Boas Práticas para Acessibilidade em radiodifusão, e explicou os principais propósitos do grupo. Terminou sua fala mostrando as normas da ANATEL para AD na televisão nacional.
2015Por último, quem palestrou foi Guido Lemos, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que falou sobre o trabalho feito em suporte a libras. Destacou as motivações para esse trabalho, relatou o objetivo da pesquisa, e expôs as características da solução proposta. E por fim mostrou alternativas para o uso de libras na TV.

Sala conta com closed caption e linguagem de librass

Após a seção, Olímpio José Franco destacou o quão importante esse painel é para a SET, para as emissoras e para quem lida com a questão da acessibilidade. O presidente da SET ressaltou o quanto esse tema afeta muita gente. Ele afirma que “o que estamos discutindo nesse grupo, nesse painel foi o que nós vamos aperfeiçoar agora ao longo dos próximos meses”.

A produção e recepção de conteúdo na TV Digital

Professores de diferentes universidades e áreas das Ciências da Comunicação discutiram as diferentes tendências na área de TV Digital sob o olhar da comunicação

Almir Almas ( ECA/USP) trabalhou a construção da sensação de imersão e de realidade no audiovisual a partir dos avanços do paradigma tecnológico de imagem e som, em especial, no futuro uso da Super Hi-Vision 8K

No último dia de congresso, (27/8), a sala 19 do Expo Center Norte em São Paulo, recebeu o painel: “Produção e recepção de conteúdo na TV digital: O olhar da comunicação” teve como objetivo mostrar em um Congresso de Engenharia como a academia trabalha os temas relativos à TV e as suas novas formas de produção e distribuição.

Nesta sessão, professores de importantes universidades do Brasil e Europa tiveram a oportunidade de apresentar seus estudos sobre conteúdo e comportamento da audiência frente às inovações da engenharia de televisão na TV Digital Terrestre. Uma oportunidade única para que pesquisadores da comunicação social troquem experiências com aqueles que dão suportes e ferramentas para produção e distribuição de conteúdo.

A sessão é um dos resultados do Convênio ProEx, Tecnologia em Televisão assinado no início de 2015 entre a SET e a UNESP, ela teve como palestrantes a Ana Silvia Médola (UNESP/TV Unesp), Fernanda Castilho (CIMJ/OBITEL/ECA-USP), Cosette Castro (OLAICD), Almir Almas (ECA-USP/) e Paulo Faustino (IMMAA/CIMJ), com apresentação de Francisco Machado Filho (Unesp) e moderação de Fernando C. Moura (CIMJ/Revista SET).Ana Silvia Médola falou sobre convergência e modos de recepção da era da ubiquidade televisiva. Realizou uma reflexão sobre o modo se ver TV e focou na questão “o que é televisão?”.
Destacou a temporalidade como fator mais importante para trabalhar com interatividade, comentou a fragmentação (consequência da pós-modernidade, segundo ela) e a híper-segmentação, que é a questão dos nichos. Ressaltou que “já não é adequado pensar na televisão de forma isolada”, e encerrou afirmando que “na verdade, o que nós assistimos é uma luta entre diferentes mídias” e caberá à televisão voltar a ser cada vez mais televisão.

Professores de universidades brasileiras e portuguesas analisam junto com a Revista da SET, a produção e recepção de conteúdo na TV Digital

Fernanda Castilho teve sua palestra centrada em transmídia, recepção de TV no Brasil e em Portugal. Apresentou o OBITEL e introduziu o assunto relatando a diferença da cultura televisiva entre os dois países citando que a indústria nacional tem penetrado em Portugal. Expôs um estudo de caso de quatro narrativas transmídia em Portugal, comentando os resultados e tendências. Citou também o cenário dessas narrativas no Brasil.
Cosette Castro levantou a questão: “Para quem a gente fala quando falamos sobre interatividade?”. Com esse questionamento lembrou que nem todos têm acesso à internet e nem as novas tecnologias da televisão. Destacou a TV Digital aberta como espaço para produção do conhecimento e comentou sobre o que é preciso para produzir conteúdos interativos. Apresentou o projeto Brasil 4D, que atualmente se encontra na Etapa Brasília, e citou a necessidade de políticas públicas para TVDi ressaltando que “a interatividade na TV pública é esquecida”.Almir Almas palestrou sobre a televisão em Super Hi-Vision 8K e a construção de semioses de sensação de imersão e de realidade. Explicou as diferenças da experiência do telespectador em cinema e televisão, explicou também a linguagem de uso e linguagem de produção. Entrou nas questões dos paradigmas da tecnologia, com isso comentou algumas especificações técnicas para 8K, destacando que tais especificações contribuem para a sensação de imersão do telespectador. Concluiu destacando “qual o lugar do telespectador do futuro? Vejo resposta na arte e tecnologia”.

Paulo Faustino (Universidade do Porto/CIMJ) deu alguns dados da estrutura do mercado televisivo português e brasileiro, bem como o papel e impacto das políticas públicas e da regulação do setor televisivo

Paulo Faustino abordou as estratégias, gerenciamento e tendências de modelos de negócios de operadores de televisão. Falou do mercado da informação e interesse público, comentou o financiamento do FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) em Portugal e citou os possíveis modelos de financiamento.
O pesquisador português afirmou que “é necessário identificar formas de gerar lucro a partir de novas plataformas, porque a mídia se torna um negócio a partir de múltiplas delas”. Comparou os antigos e novos modelos, levantou questões sobre os mesmos e apresentou uma projeção para o futuro da indústria de TV e audiovisual.
Ao final das exposições, perguntas foram realizadas perguntas tanto pelo moderador, como houve opiniões dos palestrantes em torno do assunto. Ana Silvia destacou que “é preciso desenvolver políticas públicas para que vários sujeitos desse meio possam realizar a produção e disseminação de conteúdo transmídia”. Cosette falou do desafio de fazer transmídia dentro do conteúdo televisivo e não só em dispositivos de Segunda Tela. E Almas, afirmou ainda que “não há falta de conteúdo, há falta de plataformas para tais conteúdos”.

Reportagem produzida em conjunto com os alunos Isaac Toledo, Jéssica Dourado, Júlia Gonçalves e Nathane Agostini do curso de Jornalismo da Unesp/Bauru como atividade do acordo de cooperação entre a Revista da SET e o Projeto de Extensão Tecnologia em Televisão sob orientação do prof. Dr. Francisco Machado Filho