Cinema além da película

Palestra discute todas as formas do processo de digitalização pelo qual o cinema brasileiro está passando e as formas de trabalho através do cinema digital.

A palestra “Cinema digital, distribuição digital, digitalização 100%”, moderada por Celso Araujo (SET) aconteceu no terceiro dia da 26ª edição do Congresso SET, realizado pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).

Discutir a digitalização do cinema perpassa diversos caminhos. Desde a geração de conteúdo, com o fim eminente da película para substituição por gravação digital, até a transmissão deste conteúdo através de meios digitais, como o satélite, sem a necessidade de um transporte físico.

Chin Chye Koh (Nevion), iniciou a discussão a respeito do padrão SMPTE ST 2022-7  que fornece uma estrutura para a criação de serviços de transporte de mídia mais confiável. Segundo ele, “com essa norma você tem dois streamings idênticos que são enviados por dois caminhos diferentes e o sistema vai utilizar o melhor pacote. Além disso, se houver alguma falha de rede em um dos envios, o outro assume”, caracterizando assim, um dispositivo de redundância. Koh também falou sobre as diversas formas de se trabalhar com esse dispositivo.

A EUTELSAT, representada por Christoph Limmer, e a CineLive, representada por Laudson Diniz, seguiram a discussão mostrando a realidade crescente do cinema digital por satélite. “Nós já temos um modelo de negócio fantástico na Europa que funciona bem para os operadores e para o cinema. O cinema digital por satélite pode ser um novo modelo de negócio para essas regiões”, aponta Limmer. Um modelo de negócio que já está sendo implantado no Brasil através da CineLive.

Segundo Diniz, “já existem 250 cinemas prontos a receber conteúdo digital via satélite no Brasil”. Ele apresentou também outras formas de utilização desse recurso além da transmissão de filmes. Já na final da UEFA Champions League de 2012 o recurso foi utilizado. Em 2013, com a transmissão ao vivo em 52 salas de cinema pelo país, o jogo atraiu cerca 9 mil expectadores, ficando entre as 10 maiores bilheterias do final de semana do jogo. “O número parece pequeno, mas mostra a realidade de como o sistema digital pode alterar a forma de se utilizar o cinema”, explica Diniz.

Luiz Fernando Morau, da Quanta DGT,  veio em seguida e levantou um questionamento sobre a outra ponta desse processo de digitalização dos cinemas: os exibidores. Segundo dados da Filme B, de um total de 698 cinemas e complexos cinematográficos no Brasil, 313 são pequenos exibidores, com uma ou duas salas, são quase 45% de todos as salas de cinema do país.

“A conversão digital coloca, tecnologicamente, no mesmo patamar, os pequenos exibidores com os maiores exibidores. Mas somente do ponto de vista tecnologico. Já do ponto de vista comercial, é outra história”, explica Morau.

O Professor Almir Almas (UNESP/SET) e Thiago André, representantes do CineGrid, uma associação sem fins lucrativos para pesquisa, teste e desenvolvimento de soluções para mídias digitais em redes de alta capacidade, trouxeram suas experiências que serão realizadas durante o CineGrid Brasil 2014, evento a ser realizado dias 28 e 29 de agosto de 2014.

A idéia principal das experiências é a distribuição de conteúdos artísticos e acadêmicos, sem compressão, através de redes ópticas (fotônicas) de alta capacidade. “O que queremos é  chegar a um cinema ao vivo que é também montado ao vivo, interativo e uso das redes de alto desempenho, que é a experiência tecnológica em jogo”, explica Almas.

Erick Soares, representante da Sony, e Mario Jannini, representante da ARRI, apresentaram de forma rápida a evolução das tecnologias das câmeras de cada empresa. “Não são só as especificações técnicas que são levadas em consideração na hora da escolha de uma boa câmera. Não é exclusivamente o número de pixels que conta, mas sim a qualidade da imagem, que leva em conta muitos outros aspectos”, explica Jannini.

O Congresso terá 44 sessões e 220 palestrantes distribuídos em 4 auditórios simultâneos, em um fórum que congrega um grupo seleto de mais de 1.600 profissionais que discutem as questões mais relevantes do setor intensamente durante um período de 4 dias.

O evento reúne de 24 a 27 de agosto de 2014 no Pavilhão Azul do Centro de Convenções e Exposições Expo Center Norte em São Paulo, especialistas do Brasil, Estados Unidos, Japão, Europa e América Latina, que discutem os principais aspectos da produção, transmissão e distribuição em TV, além de temas relacionados a vídeo, cinema, rádio e internet. Entre os temas destacados está o switch-off da TV, as interações entre TV e Internet, os desenvolvimentos tecnológicos da Copa do Mundo e muitíssimos outros temas de atualidade da indústria.

* Por Gustavo Zuccherato, aluno da UNESP