PayTV Fórum: Mercado de TV paga precisa mudar o modelo de negócio para sobreviver

Encontro de operadores, telcos, distribuidoras de conteúdo e entidades governamentais mostrou que a tendência é que o mercado de TV paga tradicional continue perdendo audiência e que a mudança para o streaming, que já começou, se torne definitiva. Crônica do fim do modelo tradicional de TV por Assinatura no Brasil.

O PayTV Fórum 2023, evento de dois dias (22 e 23 de agosto), organizado pela Teletime/TelaViva em São Paulo, mostraram que o modelo de TV paga tradicional deixou de ser rentável, perdeu mais de 2 milhões de assinantes no ano e continuará a diminuir a sua base de clientes e que as principais operadoras não estão dispostas a continuar a alavancar o negócio tradicional e que aos poucos tem migrado para uma solução de streaming. Primeiro foi hibrida – set-top-boxs e plataformas de streamings -, e muito provavelmente, no futuro, seja apenas por streaming. Pelo menos foi os presidentes das duas principais operadoras de TV paga brasileiras explicaram no PayTV Fórum 2023.

Jurandir Pitsch, VP de vendas da SES, disse que o satélite continua sendo importante para a distribuição de vídeo representando para a empresa uma receita de 1 bilhão de euros

José Felix, presidente da Claro, disse que a Claro perdeu nos últimos anos “a metade da base” e isso, que, desde a sua óptica, os números divulgados pela Anatel nem sempre coincidem com a realidade. Para Felix, no mercado “todo o mundo esconde números. A numerologia é estratégica, porque de algum modo interfere na dinâmica de mercado, de fato acontece, que temos de ver: qual é o papel de cada um? Qual o papel da Claro nesse Business? e qual o papel do produtor de conteúdo?. Quando falamos de PayTV estamos falando de redes específicas feitas para o negócio. Hoje boa parte do negócio de distribuição de conteúdo não é mais feito sobre essas redes”. Isto, claro, referindo-se as plataformas de streaming dos produtores de conteúdo, e as Big Techs.

Para Felix a dinâmica do mercado tem de ser entendida, e ela mudou, quando os produtores de conteúdo começaram a distribuir os seus próprios conteúdos por streaming e as Big Techs entraram no negócio. “Todo o mundo se atirou no streaming seguindo a Netflix, um mundo diferente ao da PayTV que vivia em equilíbrio”, o problema, explicou, é que isso mudou as regras do jogo, tanto, que “Hoje até os donos de direitos esportivos se lançam a vender diretamente”.

Novo modelo

Sabemos que o modelo de PayTV foi enterrado pelos provedores de conteúdo, que tiveram a visão de um futuro maravilhoso, e a vontade de não ter intermediários”, disse Felix, e isso, tornou o negócio tradicional inviável, motivo pelo qual, “precisamos achar novos modelos” que estejam focados em custo. “Nossa obsessão tem de ser reduzir os custos”.

Gustavo Fonseca, presidente de SKY Brasil, concordou e disse que os principais inimigos da indústria são a pirataria e as Big Techs. Fonseca disse que não há limite para o apetite das Big Techs, elas já  “demonstraram no Brasil que não estão dispostas a deixar passar leis. Na América Latina estão fazendo o mesmo. Elas não têm limites, elas vão se transformar no gorila da sala”.

Gustavo Fonseca, presidente da Sky

Em termos de modelo de negócio, a pressão das Bigs Techs fará, segundo Fonseca, que “se acelere o modelo digital. O que está acontecendo é que agora a melhor da programação, o conteúdo nasce muito rápido no streaming, com o valor do streaming desviado. Estamos estimulando o negócio das bigs techs, e não o da TV paga”.

Ambos executivos concordam que a Lei do SeAC que caduca em setembro de 2023 deve ser reformulada e, a nova lei, deve incluir as Big Techs e plataformas de streaming no sistema regulatório para gerar simetria regulatória. Pensamento compartido por diversos atores de indústria, que afirmaram a necessidade de ter um marco regulatório adaptado ao momento e sem assimetrias como o atual, que “é obsoleto”, disse  Mauro Garcia, presidente da Brasil Audiovisual Independente (BRAVI). Para Garcia a lei deve ser repensada e escrita como “Lei do audiovisual, que reflita qual é a política do audiovisual brasileiro, um marco legal independente da forma de distribuição e de plataformas”.

Veja a cobertura completa do PayTV Fórum 2023 na próxima edição da Revista da SET, a edição 211!