Sinal digital prioridade é transmitir

As emissoras de TV espalhadas pelo Brasil continuam colocando o sinal digital no ar. Mas nem todas estão com a totalidade de seus equipamentos digitalizados, até mesmo porque a troca completa do sistema, desde a captação, passando pelo processamento e distribuição, requer investimentos pesados e, sobretudo, uma análise profunda e criteriosa de como montar essa nova estrutura. Como já abordamos em coberturas anteriores, o que se vê é uma preocupação maior, neste primeiro momento, em digitalizar a transmissão, porque garante a retransmissão da programação digital das cabeças de rede. Porém, algumas emissoras já vêm adquirindo equipamentos de produção digital e estruturando estúdios a fim de estar aptas a produzir sua própria programação digital.

Globo de Brasília projeta nova torre
Na capital federal, a Globo de Brasília colocou no ar em abril seu sinal digital. A emissora revela que todos os novos investimentos – estúdio, transmissão, workflow de jornalismo, infraestrutura entre outros – exigiram profundas ações e processos de capacitação das equipes técnicas e operacionais. No projeto original está prevista a construção de uma nova torre, para abrigar a antena digital da Globo e, no futuro, também de outras emissoras.
“Por todas as dificuldades e complexidade de um projeto desta envergadura (projeto da torre única de Brasília), houve atraso. Então a nossa opção foi fazer uma instalação na estrutura já existente. Depois, transferiremos a antena para esta torre, que abrigará sistemas de TV digital de todas as emissoras locais”, informa a emissora, ao ressaltar que a maior dificuldade vivida na implementação do sinal digital foi exatamente conseguir um local para a nova antena. “O modelo de compra de terrenos e o plano diretor do município, muito restritivo, tornou difícil a preparação”.

Cobertura em cinco cidades
O projeto seguiu a experiência e os conceitos da cabeça de rede, os treinamentos específicos para as equipes foram realizados por profissionais da própria TV Globo e por empresas fornecedoras de equipamentos. Na Globo de Brasília, os transmissores são da NEC, as antenas de UHF são da Trans-tel, e os monitores são da Sony. Os controles mestre e os switchers são da Nvision, enquanto a Harris forneceu os servidores de programas e comerciais.
A cobertura, até o momento, está dentro do esperado. Dos cinco municípios cobertos pelo sinal, três deles – Ceilândia, Brasília e Taguatinga – foram alvo de testes de qualidade. Uma unidade móvel com dois engenheiros foi a uma centena de pontos para verificar a recepção dos sinais em SD e one-seg.

TV Sorocaba iniciou processo em 2002
A TV Sorocaba, afiliada do SBT na região de Sorocaba e Jundiaí, por sua vez, deu início à digitalização em 2002, quando a produção interna da emissora foi submetida ao projeto de sinal digital, passando a utilizar equipamentos não lineares com sinal SD. O gerente técnico Educides Moreira, que esteve à frente do projeto, relata que pelo cronograma traçado “primeiramente, houve a digitalização da produção interna em SD, posteriormente houve a instalação de novos controles mestres, SD, HD, e depois a instalação do transmissor e antena digital”.
A TV Sorocaba adquiriu switcher master e routers de última geração para a distribuição dos sinais dentro da emissora, onde se concentra toda operação digital e analógica, além de ilhas de edição não lineares para produção de conteúdo digital em SD, e câmeras também digitais SD que já estavam instaladas, conversores de altíssima performance para conversão do sinal digital SD em HD. “Por enquanto, não temos a grade de programação totalmente HD da nossa geradora que é o SBT”, acentua.

Câmeras HD para melhorar produção
O gerente técnico também conta que a TV Sorocaba precisa adquirir as câmeras HD para melhorar sua produção. “Estamos testando várias marcas para escolher a de melhor qualidade e que melhor se adapta a nossas necessidades”. Até o momento, o investimento está em US$ 1,1 milhão e a previsão é atingir U$ 2,5 milhões ao término do projeto.
A exemplo da grande maioria das emissoras, a preparação e treinamento da equipe para atuar com os novos equipamentos foi feita pelas próprias empresas fornecedoras. “Não foi necessária a contratação de funcionários, pois nosso pessoal já está habilitado a trabalhar no ambiente digital”. Mesmo assim, a TV Sorocaba não se viu livre dos problemas corriqueiros do dia-a-dia que normalmente ocorrem numa transição desse porte, como atrasos de entrega de equipamentos ou intempéries. “Mesmo assim, colocamos o sinal digital no ar sem muitos dos problemas enfrentados por outras emissoras que entraram no ar antes de nós”, conta o gerente técnico.

TV Liberal inaugurou canal 21
A TV Liberal, afiliada à Rede Globo no Estado do Pará, inaugurou o sinal digital 33 anos após a primeira transmissão analógica da emissora. Os estudos para ingressar na era digital têm sido feitos desde 2007, com o objetivo de atualizar o parque técnico e preparar a TV Liberal à plena transmissão digital. A princípio, foi realizado um levantamento geral dos aparelhos disponíveis durante a etapa de planejamento, como explica o engenheiro Denis Brandão.
“Analisamos as condições dos equipamentos, para atendermos as demandas de acordo com a área: transmissão, exibição, produção e jornalismo. Depois dividimos o projeto em três fases de execução, conforme as principais prioridades em função do alto investimento necessário”. Simultaneamente, a equipe da TV Liberal avaliou o sistema irradiante para a torre, e os reforços a serem realizados na estrutura e nas fundações.
Operando tradicionalmente pelo canal 7, a TV Liberal inaugurou o canal 21 para transmissão digital. Para isso, foram utilizados dois transmissores digitais da NEC de 5 kW cada, que funcionam em paralelo e fornecem 10 kW através de dupla alimentação do sistema irradiante da RFS, composto por dois níveis de painéis com polarização elíptica, com total redundância de transmissor, linha de transmissão e antena.

Controle de jornalismo em 2010
O sistema de exibição conta com serviços da Grass-Valley, por meio de dois servidores K2 HD que operam em configuração redundante, com distribuição dos sinais HD-SDI através de matrizes Trinix e Concerto. Os controles mestres SD e HD utilizam mesa maestro com dois canais de saída cada, para alimentar a programação para o sinal analógico do canal 7.
O engenheiro enumera os equipamentos adquiridos para a captação no estúdio e externa. “Seis camcorders Infinity da Grass- Valley e incluímos nesta fase um núcleo de edição HD composto por quatro ilhas Aurora/ Edius”. Brandão também faz projeções sobre o controle de jornalismo em HD, que deve ser implantado em 2010.
Um dos maiores desafios enfrentados pela TV Liberal na digitalização foi o reforço da torre, assim como o trabalho de içar as novas antenas. “Foi uma operação muito delicada, pois a localização fica em uma área central da cidade. Várias empresas terceirizadas estiveram envolvidas”. O engenheiro da TV Liberal explica que foi um procedimento crítico e lento, uma vez que toda transmissão era realizada pela mesma torre, o que obrigava constantes remanejamentos nos sistemas irradiantes para manter a emissora sempre no ar.

TV Sergipe acaba de entrar
Outra afiliada da Rede Globo, a TV Sergipe, colocou a capital Aracaju no rol da digitalização no mês passado, embora ainda em caráter experimental, quando deu início às transmissões digitais, colocando em prática um projeto que teve início em 2006. “Iniciamos uma reforma na estrutura técnica e civil do prédio para atender as novas demandas dos equipamentos digitais, como infraestrutura elétrica, ar condicionado e novos ambientes operacionais”, explica Washington Gasparotto, engenheiro responsável da emissora.
O planejamento foi dividido em quatro etapas. Primeiro foi desenvolvido o escopo do projeto, fase muito importante para que a emissora pudesse definir os investimentos em função do orçamento, assim como estabelecer os fornecedores e definir o cronograma de investimentos. A segunda etapa consistiu em traçar o projeto e iniciar a importação dos equipamentos. “A terceira etapa, na qual estamos hoje, é a instalação, aceite e testes dos equipamentos”, conta Gasparotto.
A quarta etapa, ainda em andamento, é o treinamento da equipe técnica e operacional da emissora. “Fechamos uma parceria com o Inatel para realizarmos esse treinamento aqui em Aracaju com um curso de 48 horas, sendo dois módulos de 24 horas cada. O primeiro foi feito no início deste mês e o próximo módulo irá ocorrer em dezembro”.
Para aperfeiçoar a parte elétrica, a equipe da TV Sergipe fez aquisição de gerador de 450 kVA (Stemac) e dois no-breaks (120 + 120 kVA) da Eaton. Para o conjunto de transmissor e equipamentos de estúdio, a emissora optou por NEC, Transmissor de 5 kW (2,5 + 2,5) e as cadeias de MUX e Encoders totalmente redundante.

Estúdios e controle de produção
Para o sistema irradiante, foi feita a compra de dois slots de polarização elíptica da Dieletric. Para os equipamentos da Central Técnica e Controle Mestre, optou-se por equipamentos Harris (um Routing Platinum; duas mesas Icon – SD e HD -, processadores de sinais, equipamentos de testes, vídeo servidores Nexio, para exibição em SD e HD, Time Delay HD, automação e multiviewer). “Iniciaremos no próximo ano a digitalização dos Estúdios, Controle de Produção, assim como nas retransmissoras das principais cidades do interior”.
A TV Sergipe aplicou até o momento R$ 8 milhões na compra de equipamentos e o engenheiro estima ser necessário investir ainda a mesma quantia durante os próximos três anos, para que a geradora se torne integralmente digital e a emissora avance na digitalização do interior.
A TV Sergipe promoveu uma reestruturação do departamento de engenharia. Criou o departamento de RF, e designou o engenheiro João Roberto como responsável. Para o departamento de Manutenção de TV, a emissora contratou Paulo Amaral, que hoje é supervisor e responsável pelos projetos da Central Técnica HD, Controle Mestre, e Estúdios da emissora.
Foi criado também o departamento de Operações Técnicas, chefiado por Edigenia Santos, que faz a interface entre engenharia e jornalismo, bem como toda a operação de eventos e de sistema da emissora. “Para os três departamentos fizemos contratação de técnicos e auxiliares. Temos investido muito em treinamento da equipe, em participação em eventos, treinamento online, cursos indoor de inglês para toda a equipe de técnicos e operadores, além da parceria com Inatel”, conta.

* Pedro é jornalista e colaborador da Revista da SET – [email protected] Raphael é repórter da Revista da Set – raphael@ embrasec.com.br

Revista da SET – ANO XXI – N.111 – DEZ 2009