PROPOSTA PARA A INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO

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PROPOSTA PARA A INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO
FAZER USO DA VOCAÇÃO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO PARA CRIAR UMA INDÚSTRIA DE ENTRETENIMENTO É A PROPOSTA DESSE ARTIGO QUE SUGERE CRIAR UM PARQUE TECNOLÓGICO PARA INCREMENTAR E FORTALECER AS EMPRESAS NACIONAIS NO SEGMENTO.
Por Carlos Frederico Barros

Nos dias de hoje, quando o ambiente competitivo é baseado no conhecimento e este aspecto define padrões de consumo, estabelece valores e símbolos que criam uma forma e estilo de vida, necessitamos manter esforços para desenvolver a pesquisa científica e apoiar a existência de uma indústria de entretenimento consistente para proteger a cultura local e a identidade nacional. A proposta deste trabalho é propor a criação de um parque tecnológico orientado para a indústria do entretenimento ou criativa para incrementar e consolidar este setor de serviços intensivo em mão de obra e também fortalecer as empresas nacionais no segmento.
A instalação de um parque tecnológico na área metropolitana do Rio de Janeiro pode gerar empregos de alto conteúdo tecnológico e isso pode despertar o interesse tanto do setor público quanto do privado. A região tem um setor vocacional que se expressa em termos econômicos que é e o da Engenharia do Entretenimento demandado pela Indústria Cultural e Audiovisual de porte já existente. O que é inovador nessa proposta é que, além do pioneirismo, junto ao parque tecnológico teríamos as instalações de atividades de entretenimento como museu, teatro, unidades temáticas de diversão, centro de apoio e estímulo à indústria criativa, centro experimental de radiodifusão e televisão, telemática educativa que teriam três funções sinérgicas: locais de prototipação e experimentação dos desenvolvimentos tecnológicos do pólo, o uso do entretenimento para educação tecnológica e ser parte da fonte de recursos financeiros de manutenção das atividades de pesquisa.

O macro-ambiente de decisão
No atual momento mundial, as informações e as decisões estão cada vez mais centradas em poucas mãos. Esta tendência se evidencia de forma sutil no controle da pesquisa cientifica e dos meios de comunicação de massa. Neste novo contexto, a produção de idéias e conteúdo, patentes, informações, ciência, arte e diversão, pesquisa científica nas universidades e centros tecnológicos, telemática, provedores de conteúdo, centros de televisão, empresas editoriais, cinematográficas, fonográficas e de difusão cultural em geral, museus e equipamentos culturais nas suas variadas formas, assim como as mega estruturas de uso do tempo livre, e todo o conjunto de recursos tangíveis e, principalmente, os intangíveis, com os quais as novas culturas e modelos de comportamento de vida venham a ser produzidos, determinando intrinsecamente os modelos de consumo, passam a ser estratégicos para a sobrevivência econômica e manutenção da identidade nacional.
A expertise em produção cultural e no entretenimento permite a gestão dos valores, símbolos e desejos que fundamentam a nossa cultura local e nossa estrutura de consumo aderente. Atualmente, a indústria televisiva é expressiva, veicula uma produção pensada, realizada e consumida internamente e exportada, de acordo com preceitos da cultura brasileira. Da mesma forma, acontece com a nossa produção musical de valor incontestável, seja no estabelecimento de um estilo próprio, na diversidade dos ritmos, ou na pujança da quantidade produzida. Temos que reconhecer esta competência de criar produtos audiovisuais sofisticados e musicais de qualidade. É preciso ter dimensão da importância desta competência no novo contexto mundial de competição e buscar manter esforços para que este ativo intangível — nossa indústria criativa — de valor econômico, simbólico, cultural e político não se perca.
A proposta da criação deste pólo tecnológico visa consolidar e expandir a indústria de entretenimento/indústria criativa brasileira apoiada na nossa criatividade artística aplicada e nas tecnologias aplicáveis a comunicação de massa e a distribuição de conteúdo, tanto pelo volume financeiro envolvido no negócio assim como pela capacidade de geração de empregos advinda do uso de mão de obra intensivo do setor e, por fim, pela nossa própria afirmação nacional.

Conceituação de um Parque Tecnológico
A definição de parques científicos pela IASP – International Association of Science Parks, observado em Gonçalves e de Paula (2003), estabelece estes empreendimentos como “uma organização administrada por profissionais especializados que têm como objetivo proporcionar para sua comunidade a promoção da cultura da inovação e competitividade de suas empresas e instituições de pesquisa”. Para alcançar estes objetivos um parque deve estimular e gerenciar o fluxo de conhecimento e tecnologia entre as universidades, centros de P & D, empresas e seus mercados, facilitando a criação e consolidação de empresas de base tecnológica. O parque não deve se caracterizar como um “empreendimento meramente imobiliário”, pois é preciso considerar a geração de sinergia entre os envolvidos, identificação das vocações locais e regionais sob os vários ângulos, de tal forma que viabilizem os aspectos econômico e tecnológico. É importante frisar que não é só o espaço físico o fator principal para o sucesso desta empreitada, mas a vontade política e a integração dos órgãos públicos nas várias esferas, a parceria dos agentes econômicos privados e os segmentos da comunidade científica afim ao pólo. Empreendimentos desta natureza são de longa maturação e pedem um formato de sustentabilidade sólido e bem estruturado.
Dentro deste contexto, podemos afirmar que a criação de pólos tecnológicos é uma estratégia importante para fomentar o desenvolvimento cientifico e tecnológico. Os empreendimentos dessa natureza têm por objetivo agregar ações que permitam facilitar e acelerar o surgimento de produtos, processos e serviços onde a tecnologia assume o papel principal. A iniciativa pode partir de qualquer um dos parceiros, assim, observando-se pela ótica das políticas públicas, os pólos podem mudar o perfil sócio-econômico e técnico de uma região. Já para as instituições de ensino e pesquisa, o pólo pode ser um laboratório para fazer a retroalimentação dos programas desenvolvidos na suas diversas áreas de atuação. O setor privado, por outro lado, tem a oportunidade de criar e consolidar novos produtos e negócios. Assim, as vantagens e os benefícios que podem ser conseguidos estão no ganho coletivo, ou seja, a iniciativa permite uma série de ações de forma ordenada e atualizada, trazendo resultados positivos a todos.
Para a criação de um parque tecnológico não se depende apenas de uma decisão política de curto prazo. São necessárias articulações e reflexões entre os parceiros que deverão avaliar as condições de infra-estrutura existente. Além disso, é preciso avaliar a qualidade dos recursos humanos disponíveis e atividade de pesquisa aplicada e voltada para o desenvolvimento de produtos e processos. Também é importante que haja um ambiente empreendedor capaz de propiciar a criação de empresas. Além disso, é fundamental que exista o apoio da comunidade local. Se essas condições existirem, poderemos ter um empreendimento bem sucedido, capaz de proporcionar resultados aos parceiros.
Os resultados para o governo são o estímulo à criação e consolidação de empresas de base tecnológica, novos postos de trabalho, maior arrecadação fiscal, entre outros benefícios. No caso específico do setor de entretenimento, além da contribuição tecnológica clássica, ele também seria um aglutinador dos esforços, desenvolveria formatos de organização produtiva e normatização para o setor e criaria mecanismos de monitoramento técnico, sócio-econômico, informações setoriais e de administração.

Esboço da proposta
A idéia central é ter lado a lado a produção do conhecimento e o seu ambiente de experimentação em um processo contínuo de trocas e prototipação, de tal forma que esta sinergia agilize as soluções adequadas. Neste modelo o parque tecnológico terá dois grandes espaços conceituais: a zona de desenvolvimento tecnológico, onde estará o conjunto de empresas incubadas, centro de pesquisa de desenvolvimento e setor de apoio e administração do complexo e a zona de unidades de diversão e experimentação que o público terá acesso.
Exemplificando parcialmente com megaeventos ou operações de entretenimento, como Rock in Rio, Carnaval, a presença das gravadoras, a rede de teatros, a produção de filmes, entre outros, tornam inegável a vocação da região metropolitana do Rio de Janeiro como localização privilegiada no aspecto do software do entretenimento. Assim, como o conjunto de universidades e centros de pesquisas baseados na região, permite contar com uma disponibilidade variada de expertise tecnológica para o hardware do entretenimento.

Da organização lógica e espacial
A zona de desenvolvimento tecnológico terá três sub áreas:
Tecnologias de Hardware: direcionada para desenvolvimento de soluções de equipamentos usados na Indústria do Entretenimento, comportando empresas de base tecnológica e juniores e centros de pesquisa aplicada, tendo como componentes básicos vislumbrados inicialmente:
· Centro de Desenvolvimento de Tecnologias digitais aplicadas ao Cinema, Televisão e Radiodifusão
· Centro de Desenvolvimento das Mídias Audiovisuais
· Centro de Desenvolvimento de Tecnologias Cenotécnicas
· Centro de Eletrônica Aplicada ao Entretenimento
Tecnologias de Software: direcionada para o desenvolvimento de soluções e aspectos de conteúdo, comportando empresas de base tecnológica e juniores, e centros de pesquisa aplicada tendo como componentes básicos vislumbrados inicialmente:
· Centro de Estudos de Direitos da Propriedade Intelectual
· Centro de Documentação Técnica, Normatização e Informações Estatísticas Setoriais
· Centro de Desenvolvimento de Novos Formatos e Equipamentos Culturais Populares
· Centro de Estudos Econômicos e de Formação de Mão de Obra
· Centro de Desenvolvimento de Edutainment (que aliam educação e entretenimento)
· Centro de Artes Cênicas e Circenses
· Centro de Apoio e Estímulo a Indústria Criativa (moda, design, artes folclóricas etc.)
Unidade de Administração e Apoio:
· Complexo administrativo
· Centro de Convenções e Treinamento
· Centro de Articulação Setorial-sede da Sociedade Brasileira de Gestão do Entretenimento
A zona de unidades de diversão e experimentação terá:
· Estação de Radiodifusão experimental
· Estação de Televisão experimental
· Centro de provedores de Telemática/Internet/Lan House
· Parques temáticos tecnológicos focados em games/audiovisual/indústria criativa
· Museu da tecnologia do hardware da indústria do entretenimento e da indústria criativa
· Museu da Imagem e do Som
· Planetário
· Arena para Circos
· Arena de Esportes
· Complexo de Teatros
· Arena oficina para apresentação/exposição da indústria criativa
· Concha Acústica
· Centro Experimental de Novas Mídias Interativas
· Área para Cidades Cenográficas
· Conjunto de Cinemas Multiplex

Considerações finais
Claro que muitas perguntas precisam ser respondidas na constituição deste parque tecnológico:
· Quem são os principais produtores culturais/entretenimento?
· Quanto há de competição entre eles por diversos fatores de produção?
· Quanto essa indústria é concentrada ou fragmentada nos diversos segmentos?
· Quais são os principais fornecedores de capital (sob a forma de financiamentos, incentivos, patrocínios) para o setor cultural?
· Quais são os principais fornecedores de instalações e equipamentos para essa produção, sobretudo para os produtores independentes menores?
· Quais são os principais fornecedores de trabalho e de formação da mão-de-obra que atua nesse setor?
· Quais são os principais fornecedores de tecnologia e, sobretudo, de conhecimento que permita a esse setor avançar sem deixar de caracterizar e pensar a identidade nacional e se democratizar?
· Quais são os principais distribuidores e divulgadores de produtos da indústria cultural e seus principais agentes de comercialização?
· Como é a relação, o poder de barganha, entre os diversos atores?
· Como se dá o entrelaçamento desses setores com as outras atividades econômicas?
· Qual o verdadeiro impacto econômico direto e indireto desta atividade?
· Qual é a compreensão dos agentes econômicos privados e públicos quanto a real dimensão desta atividade?
· Como exportar nossa indústria cultural/entretenimento para obter mais divisas?
· As renúncias e estímulos fiscais-tributários são adequados ao setor?
· Como configurar e apoiar no contexto geral a indústria criativa?
Na verdade, este artigo procura despertar a comunidade envolvida na indústria do entretenimento e na indústria criativa para a tomada de ações executivas que possibilitem o seu avanço à luz da importância deste setor para a sociedade brasileira.

O autor
Carlos Frederico Barros
é engenheiro de produção pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ e Mestrado em Engenharia de Produção pela Coordenação de Programas de Pós Graduação e Pesquisa em Engenharia-COPPE-UFRJ. Gerente da Fábrica de Cenários e do Acervo Cenográfico-Rede Globo de Televisão. Artigo apresentado no XXIV Encontro Nacional de Engenharia de Produção.
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