NAB reage e dá um show de informação

NAB 2011

Dentro do que cada um procurou no NABShow 2011, todos encontraram algo que lhe agradasse muito – palestras com conteúdos bem focados e estandes com equipamentos que atendiam ao pequeno, médio e grande radiodifusor. Alguns representantes da SET, que estiveram na feira, compartilham de opiniões similares sobre a consolidação de tecnologias e a reação da NAB. Diferentemente do que foram alguns eventos passados, meio depressivos, em função da crise econômica, este ano o NABShow veio com força, animação, otimismo, mostrando que o mercado audiovisual está se recuperando e apostando no futuro crescimento.

Na opinião do presidente do Fórum Nacional SBTVD e do Fórum Internacional ISDB-T, Roberto Franco, a NAB este ano foi um sucesso! “Ao falar com qualquer expositor é possível perceber a satisfação em termos de negócios realizados. Ela trouxe novos produtos de tecnologia já disponibilizada, mas que completam uma linha, por exemplo, de cinema digital, que antes era produzido com equipamentos de televisão. Hoje temos linhas completas para produção de cinema em 4k, high definition. Eu destaco dois pontos na NAB 2011: O primeiro é o otimismo que ele demonstrou e o segundo é a maturidade das tecnologias de high definition, de edição não linear, de interoperabilidade de arquivos e de redes”.

Para o diretor de tecnologia da SET, Raymundo Barros, no tocante aos produtos de captação esta foi uma feira de extremos, com dois grandes alvos. De um lado itens de altíssima qualidade e, de outro, produtos com boa qualidade destinados a empresas de pequeno porte. “O lançamento de produtos estava voltado para televisão de altíssima qualidade com processos de produção de conteúdo que estão tirando proveito da indústria de cinema. Um conjunto de equipamentos e soluções workflow que viabilizam as produções de altíssima qualidade em 4k. No outro extremo tinham fornecedores lançando tecnologia de baixíssimo custo e alta qualidade, possibilitando produtoras e emissoras de TV, que não possuem orçamentos muito robusto, investirem em tecnologia de custo baixo, mas com resultado de qualidade muito alta. Aí entra a proliferação das soluções de captação de vídeo utilizando câmeras fotográficas SLR, com todos os acessórios para produção de TV. São produtos abaixo de $10 mil dólares com resultado de qualidade muito interessante”.

Segundo o vice-presidente da SET, Olimpio Franco, “a feira é sempre um balão de ensaio, lançadora e testadora de tendências e de novas ondas para o mercado. A gama de opções de tecnologia e orçamento é grande e está aumentando cada vez mais, permitindo que cada emissora ou produtora se adapte ao seu mercado, com posicionamento mais adequado para cada situação. Os preços caíram em comparação com o ano passado e este ano, a NAB mostrou que as emissoras que não se adaptarem às novas tendências ficarão fora do mercado em pouco tempo”. “Do ponto de vista tecnológico, a indústria está totalmente alinhada com as expectativas e incertezas de como os radiodifusores devem avançar na integração das multiplataformas existentes hoje, com foco total no conteúdo, que é o maior ativo das empresas de nosso setor. Destaco também o espaço dedicado à indústria de Telecom para se aproximar dos radiodifusores, discutir e apresentar tecnologias que viabilizarão o transporte (físico, através de suas redes) mais rápido de conteúdo 3D através do meio físico em FC.” explica Daniela Sousa, diretora de eventos da SET. Sob o aspecto empresarial, para ela, este foi o melhor NABShow dos últimos anos em termos de oportunidades de novos negócios.

Para Daniela, o movimento que a National Association of Broadcasters (NAB) faz como associação é estar sempre muito ligada a indústria, em todas as suas etapas, desde o desenvolvimento de tecnologia, produção de conteúdo até o desejo do consumidor. E isto pode ser um modelo para nós. Do ponto de vista editorial, por exemplo, a SET pode aproveitar as tendências. Podemos somar a nossa realidade e experiência brasileiras, o que há de mais avançado no mercado de tecnologia, além da realidade que muitos países, principalmente, os Estados Unidos, estão vivendo nos últimos anos, desde o inicio da transição para a TV digital até os atuais desafios ligados a mobilidade, 3D, múltiplos devices com a facilidade de uma excelente infra estrutura de acesso que chega a casa do consumidor, que certamente, quando o Brasil estiver melhor preparado com a malha de rede, a maneira de lidar com o conteúdo definitivamente mudará de forma radical.

Os destaques
“O 3D continua evoluindo, mas ele ainda tem um grande desafio pela frente, que é o uso dos óculos, no dia a dia assistindo TV em casa. O alvo agora é o 3D sem óculos, e já apareceram em outras feiras protótipos de TV 3D sem óculos, mas ainda longe de ter produtos que viabilizem a massificação como experiência adequada. Em minha opinião o 3D terá que superar a exigência do uso dos óculos para ter a massificação. Para o cinema não é um desconforto, porque lá a gente fica totalmente desconectado. Claro que para pessoas míopes é um desconforto, mas eu acredito isso não representa um grande entrave. Por outro lado, em casa, ao mesmo tempo que assistimos TV estamos conectados à internet”, comenta Raymundo.

Apesar de o 3D ser um tema relevante com várias ofertas de produtos, as novas plataformas também foram foco da NAB, com modelos de distribuição de conteúdo audiovisual para outras telas – tablet, TV e celular. A mobilidade também teve seu espaço, com muito foco na redefinição de como a indústria de radiodifusão deve acompanhar a atual evolução do cruzamento em múltiplas plataformas dos conteúdos gerados, as redes sociais, transmedia e broadband. Devido à forte pressão das Telecom’s para tomar a banda de UHF, o tema “A ameaça ao espectro de radiodifusão”, nos Estados Unidos e em outros mercados mundiais também foi abordado com ênfase.

E essa preocupação com o espectro foi tema do discurso de abertura do evento apresentado pelo presidente e Chief Executive Officer (CEO) da National Association of Broadcasting (NAB), Gordon Smith: “Há menos de dois anos, as emissoras deram mais de 25% do espectro de TV e a transição da TV analógica para digital custou U$15 bilhões. Esse era o nosso custo de deixar Howdy Doody (programa infantil da televisão norte americana exibido entre os anos 1947 e 1960) analógico e passar para a alta definição e multi-canal digital. Nós abraçamos este futuro digital para que pudéssemos oferecer programas HD deslumbrantes e multicast, oferecer aos consumidores mais escolhas e distribuir conteúdos em diferentes plataformas, como o envio de vídeo para smartphones, tablets e notebooks. Agora, menos de dois anos depois, empresas de celulares querem outros 40% do espectro de TV”. Diante deste cenário, Gordon afirma que eles estão em batalha para proteger os difusores de serem forçados a desistir do espectro involuntariamente.

Ele chama a atenção de seus governantes. “Senhoras e senhores deputados, não há espectro suficiente no universo para substituir o nosso sistema de transmissão de um para muitos com uma arquitetura de transmissão de um para um. Mesmo as empresas sem fio admitem que precisarão, eventualmente, usar parte de seu espectro, em uma arquitetura do tipo broadcast, especificamente, para o envio em massa de conteúdo de vídeo”. Em meio ao seu discurso, Gordon convida a todos para uma reflexão: “Que sentido faz levar o espectro que está sendo usado de forma eficiente e usá-lo de forma menos eficiente?”. A íntegra do discurso do presidente foi publicado no site do NABShow – www.nabshow.com.

Vantagem brasileira
NABNos últimos anos o Brasil tem sido destaque na feira através da SET com o café da manhã SET e Trinta, o Pavilhão Brasil e seus expositores, o Fórum Nacional SBTVD e a delegação brasileira, que depois dos Estados Unidos, é a maior. Cada vez mais cresce o número de profissionais brasileiros – indústria de receptores, software, academia e estudantes – interessados no NABShow. “É um momento imperdível do setor e devemos estar lá, pois é uma oportunidade única para medir a temperatura da indústria e saber para qual direção ela caminha”, relata Raymundo Barros.

“Mais uma vez deu para percebeu que o mercado europeu está preocupado em conseguir uma solução para distribuir a TV aberta em alta resolução, pois do contrário ela perderia seu valor. E os norte americanos preocupados na implantação de algo que eles conseguiram solucionar tecnicamente no ano passado, a mobilidade e portabilidade da TV aberta. Eles ainda lutam para alcançar a solução de implantação de algo que o sistema brasileiro de TV digital já tem desde o início. Algo que os brasileiros afirmavam desde o princípio que era importante para a TV aberta, a high definition e a mobilidade. Na opinião dos europeus o high definition não era importante e para os norte americanos a mobilidade não interessava. Agora eles estão revendo seus sistemas com dificuldade e reconhecendo que se eles não conseguirem, a TV aberta em seus territórios perderá valor”, avalia Roberto Franco.

Na opinião de Barros, a tecnologia é um bonde que não para. “A nossa decisão que vem do início do século 21 pela escolha do padrão ISDB inspirado no padrão japonês é absolutamente acertada. Mas o mundo caminha para uma convergência entre as experiências broadband e broadcast. Todos os dispositivos que conseguem captar atualmente um sinal de televisão – hoje uma grande parte já é assim, mas no futuro tenho certeza que todos serão – podem receber os sinais de radiodifusão e ao mesmo tempo estar conectados à internet. Falta ao padrão brasileiro uma especificação que harmonize a experiência broadcast com a broadband. Nós estamos limitados a um perfil da interatividade do DTVi que está aquém da demanda do mercado. Estamos com um enorme desafio em avançar nas especificações do padrão brasileiro de TV interativa”.

“Considerando o patamar em que está o sistema brasileiro de TV digital, participar deste evento é muito importante por vários motivos”, declara André Barbosa Filho, assessor especial do ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República. “Primeiro, porque vemos as inovações nas áreas da TV aberta ou a cabo, a implementação na tela de novas soluções, a possibilidade de conexão do 3D, que é uma inovação. Segundo, para garantir que haja avanço, upgrade na própria TV aberta. Terceiro, é a divulgação do nosso produto, da nossa interatividade. Isso já surtiu bastante efeito com a adoção de nosso sistema de transmissão por 12 países. Então, estar no NABShow é vender esta imagem de líder de produtos reais e objetivos para este mercado que surgiu a partir da interatividade”, conclui.

O papel do NABShow
Os diretores também concordam ao falar das expectativas de novidades da feira e do papel que ela desempenha. Para eles a feira não é um lugar só de novidades, é um ponto de encontro, discussão, respostas, aperfeiçoamento de tecnologias e soluções. Segundo a diretora editorial da SET, Valderez Donzelli, “a feira não apresentou novidades tecnológicas e sim consolidação e implementação de produtos. No tocante às palestras, os profissionais tiveram uma gama de assuntos que atendia a todos, mas com alguns em evidência, por exemplo, cloud computing, telepresença, apresentação de conteúdo em todas as mídias, 3D, tecnologia de informação aplicada a radiodifusão, avaliação de critérios de análise de sinal em campo, operação e workflow e recepção”.

“Há algum tempo o NABShow não apresenta nada de revolucionário, mas a cada ano, há uma evolução nas tecnologias e ferramentas de controle, gestão de conteúdo digital, integração aos diversos devices, mobilidade, evidentemente o avanço do 3D e o olhar para o ambiente de cloud. Apesar de acontecer todos os anos, não acredito que ela seja totalmente previsível. Todo ano, em maior ou menor grau, volto com a sensação que precisamos “correr”, pois a tecnologia a cada dia vem se transformando. Menos ênfase no hard e mais foco no soft. Menos ênfase no site local e mais foco em ambientes compartilhados em clouds, e assim por diante” opina Daniela.

“Durante o ano, nós temos notícias de maneiras muito pontuais, interagindo com os fornecedores, provedores de solução e com outras emissoras. No NABShow é um momento em que todos se reúnem em um só lugar e a troca de experiência, discussão, demonstração e os painéis do congresso nos mostram para onde a indústria caminha e servem de termômetro que mostra o quão saudável está a indústria”, completa Raymundo. Durante a feira, que aconteceu entre os dias 09 e 14 de abril, no Las Vegas Convention Center, os organizadores divulgaram números preliminares do evento. Foram cerca de 1500 expositores e 92.708 visitantes registrados. Destes 25.691 compõem o público pertencente às delegações internacionais, estimadas em 151 países. Com relação à edição de 2010, houve um crescimento de 5,3% no aumento de visitantes.

Mini Seminário ISDB-T Internacional
Com o objetivo de trocar informações com os países, que adotaram o padrão ISDB-T, e com aqueles que, atualmente, analisam a possibilidade de adotá-lo, a SET, juntamente com o Fórum Nacional SBTVD, promoveu o Mini Seminário ISDB-T Internacional, no dia 12 de abril, na Sala SET Brasil. Na abertura do evento, o presidente do Fórum, Roberto Franco, falou sobre o status da TV digital na América Latina. A presidente da SET e coordenadora do Módulo de Promoção do Fórum SBTVD, Liliana Nakonechnyj, também fez uma apresentação e falou sobre o dividendo digital.

Os problemas e inquietudes da radiodifusão na relação com as Telecom’s, principalmente no uso de espectros e a internacionalização de uma postura em defesa da radiodifusão também foram temas do Mini Seminário. André Barbosa Filho, assessor especial do ministro chefe da Casa Civil da Presidência da República, em sua apresentação falou sobre o futuro da TV, sobre um modelo gratuito num mundo convergente através das ofertas de transportes por Telecom. “O representante da NHK falou sobre o sistema de alerta de emergências (EWS) através do ISDB-T. Também participaram representantes do Chile, Argentina e da rede de emissoras Albavision – com emissoras em toda a América Latina, Caribe e América Central -, falando das implantações em seus respectivos países”, lembra Olímpio Franco, vice-presidente da SET e coordenador de promoção internacional do Módulo de Promoção do Fórum SBTVD.

O evento teve a participação de cerca de 50 profissionais da área, entre os quais representantes da Argentina, do Peru, do Chile, da Guatemala e do México. “Espero que no próximo ano a gente possa estar na NAB, fazer algo semelhante e divulgar melhor para que as pessoas possam se interessar, inclusive, escolhendo temas de interesse de sua região”, conclui Barbosa.

 

 

Gilmara é editora da Revista da SET. E-mail: [email protected]