As tendências em broadcast. A indústria evoluindo para IP e 4K

Nº 142 – Junho 2014

Por João Martins em Las Vegas

ANÁLISE

Nesta segunda parte da análise da NAB 2014, realizada em primeira pessoa, apresentaremos as principais novidades enquanto sobre redes IP, arquivos, camêras, switchers, aquisições de grandes empresas, tendências do mercado e evolução tecnológica

Épreciso não esquecer que o futuro desta indústria (de conteúdos e distribuição/emissão) passa atualmente pelos formatos de arquivo, tanto como pelos sinais de vídeo. Embora na NAB 2014 se tenha falado muito menos disso do aconteceu no IBC 2013, a verdade é que a indústria tem que aprender a lidar melhor com a nova realidade dos formatos de dados, mais do que com os sinais de banda base.

Nessa área, apesar da importância que têm os computadores e as redes, parece que as coisas estão evoluindo demasiado lentamente – sendo uma das razões porque a indústria de televisão está longe de atingir um consenso em relação às aplicações das redes para distribuição de vídeo sobre IP. A proposta Audio Video Bridging (AVB) atualmente é a única que se antevê como um padrão semi-aberto (por causa de obrigar a usar roteadores dedicados), enquanto outras propostas se limitam a usar o layer física das redes Ethernet e WAN para distribuir pacotes de dados de acordo com protocolos proprietários e chegando a exigir implementações dedicadas ao nível do hardware. Por outro lado, a evolução da tecnologia de streaming se está fazendo de forma paralela e independente aos processos de trabalho que são implementados na indústria de televisão, criando incompatibilidades complicadas entre aquilo que é o mundo dos processos baseados em arquivos e o das redes.

Louis Hernandez Jr. anunciou na NAB 2014 é que a Avid embarcou na implementação da sua visão Avid Everywhere.

Basta aliás ver que, tantos anos passados, as lições do MXF ainda não estão completamente assimiladas. Esse foi, aliás, o motivo que levou a que tenha sido anunciado na NAB 2014 a criação de mais uma Task Force, patrocinada por múltiplas associações – NABA, AMWA, SMPTE, IABM, 4As, ANA e EBU – para acelerar o trabalho necessário no âmbito dos formatos de arquivo e da interoperacionalidade. Algo que, dado o estado da indústria, não será fácil. Estas associações que representam fabricantes, estações de televisão, agências de publicidade e todas as organizações de normalização e regulação da indústria, para além de associações de comércio propõem-se iniciar algo que vá mais longe do que aquilo que foi conseguido com o MXF, transportando as necessidades de interoperacionalidade também para o âmbito da própria eficiência de distribuição em rede, com especificações normalizadas e uma estrutura de metadados comum, para a indústria de produção profissional. Quanto mais não for, essa task force pretende reunir e associar o trabalho que está sendo feito por entidades separadas no âmbito da transcodificação, análise e controle de qualidade e mecanismos UML, XML, API etc. Esperemos que com resultados práticos…

Avid está mudando

A mensagem de que a indústria está mudando não é nova. O que é novo é a forma como as empresas estão mudando e transformando a própria indústria, antecipando- se a própria dinâmica de mercado. Na NAB do ano passado já tínhamos ficado com a sensação de que muitas das empresas – sobretudo as grandes – estavam vivendo momentos críticos, acelerados por aquisição, separações e fusões.
Este ano, ficou evidente que essa evolução/mudança se tornou na prioridade para os novos CEOs.
Tal como ficou patente na mensagem transmitida pela Avid – que aliás foi para Las Vegas ainda antes de começar o NAB 2014 e teve honras de abertura no que diz respeito a conferências de imprensa. Tal como prometido, embora sem a dimensão que se havia promovido no ano passado, o encontro Avid Connect que pretendia servir de reflexão entre clientes da marca sobre o futuro da indústria – e da empresa, diga-se – reuniu mais de 1000 pessoas provenientes de 43 países.
Promovido pela nova Avid Customer Association (ACA) como uma iniciativa da indústria para “fornecer a colaboração e liderança estratégica de que a indústria de mídia precisa”, aprofundando a relação entre a Avid e os seus clientes, o programa impulsionado pelo novo presidente e CEO da Avid, Louis Hernandez Jr., pode ter sido um momento decisivo na vida da empresa, não se podendo descortinar para já consequências visíveis.
Aquilo que Louis Hernandez Jr. anunciou para já na NAB 2014 é que a empresa embarcou na implementação da sua visão Avid Everywhere, servindo este encontro da ACA para alcançar consensos em relação aos méritos desta visão que passa por alterar fundamentalmente a forma de trabalhar no âmbito das organizações de mídia, tendo naturalmente as soluções de software e as infraestruturas hardware em rede da Avid no seu núcleo.
Em que consiste a visão Avid Anywhere? Bem, daquilo que se viu na NAB 2014, consiste numa integração total das ferramentas e soluções conhecidas, em novas suites integradas. Ou seja, à volta dos produtos mais conhecidos da Avid, tal como o Media Composer, iNews ou o Pro Tools, foram criadas configurações específicas para grupos de trabalho, grandes ou pequenos, que permitem criar conteúdos para múltiplas plataformas de forma – supostamente – mais eficiente.
Ao mesmo tempo, essa integração se traduz na introdução de novos módulos de ingestão, catalogação e, sobretudo, distribuição multiplataforma, conjugando formatos tradicionais de produção com novos mídia, como streaming direto para internet e Cloud, e redes sociais.
São basicamente três novos módulos Avid Media Suite, orientados por aplicação, que combinam as novas ferramentas e soluções, algumas das quais desaparecem totalmente como produtos autónomos e passam a ser tecnologias totalmente integradas, como é o caso de tudo o que é Interplay. Há que ver uma demonstração funcional para perceber o conceito. Nós vimos a demonstração e ficámos impressionados e acreditamos que os visitantes da NAB 2014 que assistiram também ficaram impressionados. Mais complicado é entender e descodificar a linguagem da Avid para entender precisamos comprar e quanto é que vai custar.
Percebemos, por exemplo, que o Pro Tools (que continua a ser o PT11) terá mais ferramentas de colaboração através de plataformas Cloud com as restantes soluções Avid, ao mesmo tempo que existem novas soluções de storage para todos os sistemas.
E a Avid está consciente que a estratégia Avid Everywhere não vai acontecer simplesmente com os seus próprios produtos. A lista de empresas que se associaram já à iniciativa da plataforma Avid Everywhere inclui a Aspera, Nugen Audio, G-Technology, AVI, Blue- Fish444, Front Porch Digital, HB Communications, Key Code Media, MelroseMAC, Oracle, root6, SGL, Tekserve e Telestream. São parcerias fundamentais mas estão longe de ter impacto na estratégia de empresas concorrentes, sabendo-se que nos próximos dois anos, serão menos as empresas restantes com capacidade de concretizar uma visão tão abrangente como esta.
Aliás, Louis Hernandez Jr. será recordado na história da indústria pelo seu comentário sobre o “excesso de fragmentação” e excessivo número de players da indústria, assim que assumiu o cargo.
E na NAB 2014 as suas palavras parecem ter sido oportunas, porque o número de grandes empresas está em vias de se reduzir consideravelmente, pelo menos atentando na quantidade de aquisições e fusões anunciadas.

As grandes mudanças Ao ler esta reportagem souberam das notícias das principais aquisições, fusões e reorganizações que agitaram a indústria broadcast. Do fato de a Grass Valley ter sido comprada pela Belden e se fundido com a Miranda; de a antiga Harris Broadcast, ter dado origem à Imagine e à GatesAir; que a Quantel comprou a Snell; que a Imagine (ex-Harris) comprou a Digital Rapids; e que a Dalet comprou a AmberFin. Isto para apenas falar das grandes mudanças.

A nova Grass Valley surpreendeu com a nova câmara GV 4K Ultra com sensores de 2/3” e suporte para objetivas B4 terá sido a maior surpresa.

O que seria mais apropriado e já ninguém se lembra é referir quem estas mesmas empresas tinham comprado nos anos anteriores e quem está agora agrupado nestes novos grupos. Mas isso tomaria todo o espaço deste artigo. Nos parece mais interessante perceber o que anunciaram de fato estas novas empresas na NAB 2014 e qual a direcção que tomaram.
Começando pela “nova” Grass Valley (que manteve o mesmo logo só que com a cor roxa da Miranda), aqui o importante é perceber que se trata de uma aquisição da qual sai um player reforçado, beneficiando do forte empenho e suporte financeiro da Belden.
Bem patente aliás no fato de que foi nomeada mesmo uma nova direção para a empresa, com os antigos executivos (alguns rivais) a se afastarem e a tomarem posições nos órgãos consultivos ou a se dedicarem a divisões estratégicas.
Tal como os executivos da GV realçaram desde logo, o investimento de 800 milhões de dólares feito pela Belden nos últimos três anos, exclusivamente no mercado broadcast resulta numa organização com um portfólio completo de soluções, uma vez que a Miranda e a Grass Valley nos últimos dois anos se complementavam em grande escala, ao mesmo tempo que a empresa resultante fica bem posicionada para fornecer soluções ainda mais avançadas num mercado cada vez mais necessitado de integração.
Para a nova GV foi nomeado um novo presidente, Marco Lopez, um executivo que vem da Miranda (previamente da também canadiana Matrox) e que não hesitou em afirmar que “a nova Grass Valley está preparada para o futuro e sabemos que isso significa muito mais do que simplesmente trabalhar mais arduamente para inovar nestes tempos de mudança”. O melhor sinal de todos vem da forma como a empresa se apresentou na NAB, com as soluções já combinadas e quase todas integradas, apesar de ainda se manterem dois estandes separados, resultado do compromisso já assumido previamente com a organização da NAB Show (os estandes estavam pagos).
Agora a Grass Valley combinava sistemas de produção em estúdio e broadcast, com software avançado e conectividade IP, mostrando diversas soluções de hardware já integradas e um portfólio de serviços coerente. Os sistemas de cabeamento da Belden, nomeadamente os interfaces de fibra óptica estavam já integrados com as câmeras da Grass Valley, enquanto o sistema iTX já integrado na plataforma Stratus. Se os sistemas não estavam efetivamente funcionando, pelo menos mostravam o caminho a seguir. Em preparação para uma televisão que, tal como Marco Lopez antecipa, vai responder a um ritmo de mudança cada vez maior. “Tal como os mais recentes estudos sugerem, em 2019 existirão mais de 8000 milhões de assinaturas de serviços de banda larga, e as redes LTE vão alcançar mais de 65% da população”. Para responder ao desafio da televisão multiplataforma, linear e On-demand, a Grass Valley apresentou não apenas uma nova geração de soluções de base IT, Service-Oriented Architectures (SOA) e Software-Defined Networks (SDN), como mostrou soluções de produção 4K completas, desde as câmeras até às matrizes Nvision, dos switchers K-Frame aos multiviewers Kaleido, passando pelas soluções de edição Edius.
De realçar o fato da Grass Valley apostar fortemente na sua plataforma GV Stratus DMP (Digital Media Platform) e soluções de automação Ignite, recorrendo a novas parcerias com a Brightcove (serviços Cloud), Elemental (tecnologia de processamento vídeo) e ExciteM (VOD e interação com redes sociais) para acelerar a implementação deste ambicioso sistema. Por outro lado, avançando de forma decidida para as soluções baseadas em IP, com sistemas IRG-3401 IP Gateway (módulo Densité), integrados com novos multiviewers Kaleido-IP X310 e as matrizes IP Nvision 8500.
Nas câmeras a Grass Valley lançou quatro novos modelos LDX com capacidade de câmera lenta 3X e 6X juntamente com sistemas de repetição K2 Dyno Replay System melhorados com novos algoritmos avançados, ao mesmo tempo que anunciou para surpresa do mercado, uma nova plataforma de câmera 4K Ultra, baseada numa nova geração de sensores de 2/3” (3), respondendo diretamente às necessidades de produção de televisão no formato, nomeadamente para esportes, com suporte de objetivas de montagem B4. Beneficiando das soluções de conectividade de fibra da Belden, será seguramente uma opção bem recebida pelos broadcasters que, até aqui, dependiam da adaptação feita pela Sony às suas câmeras F5 e F55 com sensores mais pensados para cinema e com adaptadores que não são nada ergonómicos.
Provavelmente algumas soluções que eram da Miranda e outras da Grass Valley ficarão para trás neste processo, mas no global, a nova Grass Valley parece sair bastante reforçada. Tudo vai agora depender da capacidade de liderança da nova equipe.

A Ross está imparável e David Ross não só assinalou condignamente os 40 anos da empresa como mostrou novas gerações de soluções que mostram uma forte capacidade de inovação e diferenciação.

Ross: a força do Canadá
Existe um factor em comum a esta história da aquisição da Grass Valley por parte da Belden e a respectiva fusão com a Miranda que vale a pena mencionar. Na abertura da conferência de imprensa da GV na NAB 2014 esteve presente Tim Thorsteinson, nomeado no ano passado como Presidente e CEO da Grass Valley pelos anteriores donos da Francisco Partners e que agora cedeu a sua posição a Marco Lopez, passando diretamente para o Advisory Board da Belden/Grass Valley. Ausente desta cerimónia esteve Strath Goodship, anterior CEO da Miranda Technologies desde 2002, principal responsável pelo seu crescimento e entrada em bolsa em 2005, orientando desde então a sucessão de aquisições estratégicas (entre as quais a da inglesa Omnibus em 2010) e foi orquestral na venda da Miranda à Belden, tendo desde então passado a ser membro do Advisory Board da Belden em matéria de aquisições. Strath Goodship foi quem supervisionou nos bastidores a integração da Miranda e da Grass Valley. Em comum a Thorsteinson e Goodship está a sua passagem anterior pela Leitch, que nos anos noventa foi a maior empresa do sector broadcast com origem no Canadá e que, tal como recordou Thorsteinson, chegaram a fazer uma oferta de aquisição à Miranda, recusada na época.
A Leitch comprou no entanto muitas outras empresas até, por sua vez, ter sido absorvida pela Harris (actual Imagine Communications) precisamente na época de Thorsteinson. A fusão da Miranda com a Grass Valley surge assim como que um culminar de um percurso ascendente para estas empresas do Canadá e Estados Unidos, dando a entender que não ficará por aqui.
Se olharmos atualmente para o Canadá, verificamos que o talento de engenharia e capacidade industrial que sempre caracterizou algumas das suas empresas, entre as quais a Leitch, continua presente na dinâmica e determinação de empresas como a Evertz e a Ross Video. Ambas com duas das presenças mais fortes que vimos na NAB 2014, com gamas de produtos extremamente interessantes.
A Ross Video, liderada por David Ross, atual CEO e filho do fundador, parece estar imparável e celebrou justamente na NAB 2014, o seu 40º aniversário. Tal como David Ross assinalava num discurso inflamado, não existe atualmente no setor empresa mais dedicada e focada do que a Ross Video, liderada por uma equipe que adora a indústria e determinada a oferecer ao mercado exatamente aquilo que ele precisa – a melhor tecnologia ao melhor preço. Na nossa opinião, posicionando-se entre aquilo que outrora foi uma Leitch e é atualmente uma Evertz, com a visão de uma Blackmagic.
David Ross deixou claro que os próximos anos pretende crescer ainda mais, inclusivamente através de aquisições. Nesta edição da NAB 2014, a empresa apresentou um logo renovado (que diz apenas Ross), o novo slogan “Production Technology Experts” e uma linha expandida de produtos a preços extremamente competitivos.
Aliás, ficámos com a clara sensação de que a herança de David Ross começa apenas agora verdadeiramente a se fazer sentir, com uma nova geração de soluções que não são apenas económicas, mas combinam um design e funções verdadeiramente surpreendentes. Entre elas, o novo switcher de produção Acuity, uma plataforma completamente nova que combina o design requintado e minimalista de um iPhone com as capacidades de um sistema de produção de grande escala, preparado já para UHD 4K (quad link) e capaz de acomodar qualquer configuração de entradas/saídas, número de M/Es (6 de base), multiviewers etc. A arquitetura destes switchers é totalmente modular, integra uma nova T-bar completamente redesenhada, telas tácteis 16:9, com processamento baseado em chips FPGA de nova geração, permitindo ampla flexibilidade de expansão e evolução.
Juntamente com a antevisão do switcher Acuity, a Ross apresentou dezenas de novos produtos, incluindo o novo switcher Vision Tritium, novos modelos Carbonite, nova versão 6.1 do software de gestão e controle Dash- Board, múltiplos novos produtos de grafismo da linha Xpression, novos sistemas de automação, produção de notícias, integração de redes sociais e até novos sistemas robotizados para estúdios de televisão na sua linha Furio. Aliás, precisamente como resultado das aquisições da Ross feitas na área da robótica para estúdios de TV, David Ross anunciou mais uma aquisição, desta vez a da empresa de cenários virtuais e realidade aumentada Unreel. Esta empresa de Massachusetts tem sido um dos parceiros estratégicos de muitos outros fabricantes, integradores e broadcasters na área do grafismo para TV e cenários virtuais e a integração na Ross dará uma dinâmica extremamente interessante a este setor do mercado. Tal como David Ross comentou, esta aquisição torna a Ross na única empresa da indústria a ser capaz de oferecer soluções de estúdio virtuais chave-na- -mão, desde a plataforma aos serviços. “O custo e a complexidade fizeram com que os cenários virtuais e a realidade aumentada estivessem até aqui confinados essencialmente às grandes cadeias de televisão nacionais. Na Ross, entendemos que existia uma necessidade de não apenas oferecer soluções deste tipo mais económicas a qualquer cliente, como também se tornava necessário abrir as portas a uma nova oportunidade de receitas: com a publicidade virtual”.
Ao integrar as soluções de software e serviços da Unreel com a linha de soluções gráficas Xpression, sistemas robotizados, software de redes sociais Inception, switchers e keyers UltraChrome, a Ross Video tem agora toda a tecnologia para tornar essa visão realidade. A área de serviços da Unreel continuará existindo de forma independente e foi agora transformada no departamento UX Design.
Sem ser propriamente uma novidade, talvez uma das mais interessantes soluções da Ross é a plataforma de soluções modulares openGear, cuja geração 3.0 foi lançada precisamente na NAB do ano passado e que agora se tornou ainda mais potente e ganhou funcionalidades de controle em rede mais interessantes. O ecossistema openGear já inclui mais de 60 parceiros tecnológicos e já é sem dúvida uma das maiores histórias de sucesso no mercado broadcast, com milhares de instalações, sendo que o software DashBoard (gratuito), proporciona exactamente todo tipo de funções de controle aos equipamentos openGear.
Agora, a Ross anunciou uma iniciativa semelhante, à volta de unidades de produção móveis, oferecendo ao mercado os desenhos detalhados dos veículos OT1 Ross Mobile Productions que a empresa desenvolveu, com posições para 10 operadores e opções de câmeras com ligações de fibra e triax.

Soluções IP da Evertz
Igualmente a demonstrar a capacidade de engenharia do Canadá, a Evertz foi outra das mais interessantes empresas presentes na NAB 2014, demonstrando uma enorme coerência entre as promessas feitas nos anos anteriores e aquilo que agora apresentou já concretizado e disponível.
Na nossa opinião, a Evertz foi o fabricante que melhor estaria preparado para fornecer soluções chave- -na-mão a qualquer estação de televisão que deseje construir deste já uma infra-estrutura UHD preparada para o futuro.
Sendo uma das empresas que mais cedo se propôs implementar uma arquitetura preparada para aproveitar a evolução das redes Ethernet para 10Gbps e agora para 40/100Gbps, a Evertz lançou este ano a sua nova plataforma de serviços de vídeo e dados 46Tb/s EXE, a qual é um dos componentes centrais na sua arquitetura Software Defined Video Networking (SDVN). O novo sistema Evertz EXE é uma plataforma de matriz completa, com mais de 46 Tb/s de capacidade de comutação – são 23Tbytes por segundo em full duplex, com suporte para 2304 portos Ethernet 10Gbps ou 192 portos Ethernet 100G por chassis!
Em termos de layer físico, a solução SDVN da Evertz esta baseada nos dispositivos IP Gateway (IPG), High Density Media Gateway (MG) e nos rotedores IPX/EXE 46 Tb/s 10GbE, associada a uma arquitetura de armazenamento em rede, a qual combina um layer de dados Ethernet full-compliant com tráfego optimizado para vídeo na mesma rede.

Evertz apresentou a nova plataforma de serviços de vídeo e dados 46Tb/s EXE.

A solução é uma das primeiras implementações de vídeo em rede em grande escala que vemos surgir na indústria – apesar das inúmeras promessas feitas por outras marcas nesse sentido – aproveitando a capacidade e largura de banda extrema da plataforma EXE, permitindo verdadeiramente explorar o potencial das redes Ethernet 10GbE /100GbE e ligações IP.
Além do mais, a Evertz apresentou igualmente dezenas de novos produtos que colocam a marca canadiana a par com os grandes fabricantes da indústria, nomeadamente propondo uma linha completa de soluções 4K UHD a funcionar, desde multiviewers a sistemas de produção. Com a vantagem de ser um fabricante que demonstra entender igualmente as necessidades das infra-estruturas de televisão como as pontes que atualmente estas necessitam criar com as redes dos operadores de telecomunicações, a Evertz parece estar concentrada em áreas que merecem menos atenção por parte da concorrência, sendo que a solução SDVN é a primeira que verdadeiramente aponta o caminho da transição das operações para IP, desde a implementação local com integração garantida de todas as ferramentas de controlo MAGNUM e 3080IPX da marca, ao mesmo se expandindo à distribuição WAN.
No centro desta estratégia SDVN a Evertz tem já disponíveis as unidades IPG High Density Media Gateway e IPX 10GbE Switch Fabric que constituem uma alternativa viável já hoje a ligações SDI e baseadas em cabo coaxial para transporte e encaminhamento de vídeo e áudio, incluindo igualmente suporte para distribuição em fibra óptica e arquiteturas distribuídas.

Rohde & Schwarz DVS a 4K
Mas encontrámos igualmente outros fabricantes com uma visão bastante abrangente e completa da evolução das soluções de televisão na necessária migração para 4K UHD, e em simultâneo, para operações baseadas em IP.
E uma das visões mais abrangentes e surpreendentes surge precisamente da alemã Rohde&Schwarz, empresa pioneira nas soluções de transmissão por radiofrequência que está evoluindo a bom ritmo em soluções para redes IPTV e operadores de distribuição e que, na sequência da sua aquisição da DVS, se apresenta agora com um portfólio integrado de soluções igualmente de produção.
Surpreendendo o mercado com uma cadeia de transmissão 4K UHD completa, a Rohde & Schwarz ia mais longe, ao integrar soluções de pós-produção, ingestão, armazenamento, playout, codificação e multiplexagem, para além da transmissão.

Rohde & Schwarz DVS trouxe a NAB soluções integradas para responder às necessidades de evolução das estações de televisão para 4K.

Conscientes da importância que as suas soluções de transmissão de televisão digital têm no mercado norte-americano e latino-americano, a Rohde & Schwarz apresentou em Las Vegas o caminho completo para a adopção do padrão de alta resolução 4K, começando com soluções de produção completas baseadas na plataforma Clispter que a DVS apresentou ao mercado em 2005 como a primeira plataforma já pronta para 4K.
Das primeiras aplicações então orientadas para cinema digital, a nova Rohde & Schwarz DVS demonstra agora uma cadeia de aplicações completas para televisão em 4K, começando com as capacidades de ingestão e produção do servidor Venice, respondendo já a produção em direto e integrando- -se com sistemas Avid; seguindo-se o novo gravador em disco Pronto4K-HFR, o mais recente modelo desta linha de soluções; ao mesmo tempo que apresentava uma nova solução de armazenamento de larga escala capaz de responder às necessidades da produção em 4K e já preparado mesmo para uma evolução ao 8K.
A nova solução de armazenamento modular SpycerBox Cell usa uma nova arquitetura de alta densidade (30 drives SSD, SAS ou SATA em 1U) e redundante, capaz de responder a cadências de dados muito elevadas, adequadas já para arquivos até 8K sem compressão.
Beneficiando da extensa experiência de integração do sistema de produção Clipster em múltiplos clientes de televisão, a Rohde & Schwarz DVS mostrava já implementação de suporte dos padrões AS- 02 e IMF a resoluções até 4K, assim como do suporte nativo de formatos RAW gerados por câmeras 4K de nova geração como as Sony F5/F55, Blackmagic Cinema Camera e Canon C500.
Além do mais, a Rohde & Schwarz demonstrava a sua nova solução de cabeça de rede R&S AVHE100 já com compatibilidade com o novo sistema de compressão HEVC (H.265) para sistemas 4K e aumentando ainda mais a eficiência de redes em HD. Até mesmo na sua linha de instrumentos de teste e medida, demonstrava uma linha completa de novas soluções para auxiliar as empresas a lidar com os sinais de televisão em 4K, ou mesmo para os fabricantes conseguirem testar e controlar a qualidade de novos equipamentos de eletrónica de consumo em 4K, desde caixas STB a televisores com receptores integrados. A implementação de rotinas de teste para sistemas HDMI 2.0, já com suporte de sinais até 4K era outra das áreas de demonstração dos sistemas de teste R&S VTC, VTE e VTS.

Wohler e RadiantGrid
Várias outras empresas mostraram ter percebido as necessidades de evolução da indústria, e estão apostando a soluções inovadoras, por vezes rompendo totalmente com as suas raízes, como é o caso da Wohler Technologies. Depois de a Wholer ter comprado a RadiantGrid em 2012, a empresa se transformou completamente, ao ponto de ter mesmo convertido algumas das tecnologias que basicamente fizeram o seu núcleo de negócio em módulos de software que agora são “oferecidos” como parte das suas soluções IT integradas. Não é que a empresa tenha deixado de produzir soluções para processamento em banda base. A Wholer entendeu é que tinha que, em simultâneo, oferecer soluções para processos de trabalho baseados em arquivos, ao mesmo tempo que se prepara para um futuro baseado em redes IP.
Aliás, Kirk Marple que é o chefe de arquitetura de software da divisão RadiantGrid da Wohler apresentou na NAB 2014 uma interessante sessão denominada “Processamento Inteligente Baseado em arquivos: Ferramentas Económicas e Eficientes para Broadcasters”, que basicamente resume a atual estratégia da empresa. Desde a gestão de sinais e monitorização, passando pela gestão de formatos de vídeo e áudio e agora integrando a gestão completa de soluções de mídia baseados em tecnologias IT e redes IP, a “nova” Wohler combina agora todos esses processos na sua nova RadiantGrid Intelligent Media Transformation Platform. A nova versão 8.3 desta plataforma acrescenta conversão de padrões de cor com base no algoritmo melhorado RightHue, processamento de áudio e legendagem, tudo numa arquitetura “service-oriented”. Nas capacidades de processamento inclui-se agora a produção de formatos para plataformas móveis e OTT, tal como MPEG-DASH, HLS e Microsoft Smooth Streaming.
O motor de processamento TrueGrid foi melhorado nesta versão, sendo capaz de lidar com questões como o processamento de formatos anamórficos, suporte 4K UHD e resoluções de cor até 16-bit YUV.
Ao mesmo tempo, a Wholer anunciou novas capacidades de descodificação MPEG tanto de sistemas ASI como streams de redes IP ou ligações 3G/HD-SDI, com visualização direta em monitor e análise de dados auxiliares, incluindo monitorização de áudio (normas Dolby incluídas).
O maior anúncio da Wholer nesta edição da NAB 2014 diz respeito ao projeto desenvolvido em colaboração com a empresa Cinnafilm, que permite disponibilizar ao mercado a solução Tachyon Wormhole para ajuste automatizado de temporização em mais ou menos 10% da duração, preservando não apenas a qualidade de vídeo e áudio mas também o sincronismo das legendas. O sistema foi desenvolvido pela Cinnafilm para um projeto específico, com base no plugin de transcodificação Tachyon para a plataforma RadiantGrid e agora é disponibilizado ao mercado pela Wholer, permitindo, segundo afirmam os responsáveis, eliminar mais de 500.000 dólares de hardware especializado de base SDI. Usando uma plataforma GPUD NVIDIA Tesla, a solução de processamento é capaz de processar até dois stream HD em tempo real, com um número ilimitado de canais de áudio, reajustando os dados de legendagem de acordo com os padrões CEA-608 e -708 e SMPTE 436M e 360M. Para além de reajuste automático de temporização, o sistema faz transcodificação em simultâneo e pode fazer análise de Loudness, conversão de espaço de cor e marcas de água, tudo ao mesmo tempo.

A Solid State Logic demonstrou uma rede IP completamente dedicada a operações áudio com base no protocolo Dante

Redes AVB e Dante
E no que diz respeito à evolução para processos baseados em redes IP, a Wholer foi das poucas empresas com anúncios concretos nesta área, com o lançamento de uma placa opcional de monitorização áudio em AVB para os seus sistemas modulares de monitorização de áudio/vídeo AMP2 Series. Combinando funções de análise e gestão de qualidade de áudio, níveis, Loudness e metadados; em conjunto com descodificação Dolby Digital, Dolby E, e DD+, o sistema Wholer AMP2- -E16V permite, através de uma simples actualização de software, receber uma opção de monitorização AVB, sem alteração das restantes especificações.
Esta implementação AVB da Wholer usa ligações Ethernet 100 BaseT, onde cada placa permite monitorizar até dois streams de 8 canais cada, ambos sincronizados ao mesmo relógio. “A norma AVB promete importantes benefícios incluindo estruturas de rede mais simples, com custos de implementação reduzidos, gestão unificada e a possibilidade de evoluir para aplicações de áudio e vídeo de nova geração com elevada qualidade de serviço”, afirmam os responsáveis da Wohler Technologies. O suporte AVB no monitor de áudio/vídeo AMP2-E16V diz apenas respeito ao áudio mas é um primeiro passo.
Quando dizíamos no início desta análise que ainda não foi desta que vimos o mercado fazer uma verdadeira aposta em soluções de base IP, obviamente que nos estávamos a referir ao domínio da televisão (vídeo). No âmbito do áudio, vimos múltiplas empresas anunciando não apenas no âmbito das tecnologias Audio Video Bridging (AVB – IEEE 802.1) como igualmente na área dos protocolos Ravenna e Dante. No caso da tecnologia Dante, desenvolvida pela Audinate, podemos já falar no padrão de fato da indústria em soluções de áudio em rede. Aliás, na NAB 2014 vimos a Solid State Logic realizar o maior endorsement que vimos até agora à tecnologia de rede Dante, desta feita para aplicações broadcast e gravação. Enquanto até aqui os sistemas Dante estavam sendo implementados essencialmente em soluções para som ao vivo e instalações fixas, agora, ficou claro que até mesmo em soluções broadcast, esta tecnologia já se tornou incontornável.
A SSL instalou no seu estande uma rede IP completamente dedicada a operações áudio com base no protocolo Dante para demonstrar os benefícios que estas redes podem ter na optimização de custos em operações de encaminhamento de sinais para produções para televisão. A empresa mostrava mesmo um circuito completo, centrado na sua nova linha de interfaces Network I/O, lançada nesta edição, com consolas digitais da marca ligadas a diferentes dispositivos Dante, para ilustrar como é possível já criar soluções operacionais com equipamentos de mais de 75 fabricantes diferentes. A nova Linha SSL Network I/O consiste num sistema ‘MADI-Bridge,’ com 64 canais bidirecionais de ligações MADI-para- -rede, com monitorização por headphones no painel frontal de qualquer um dos canais. A unidade SSL ‘SDI’ faz, por sua vez, a ponte com embebedores e desembebedores de sinais áudio sobre circuitos de vídeo 3G-SDI, diretamente com redes Dante e MADI, com oito canais e possibilidade de encaminhamento individual de cada canal. Finalmente, a unidade SSL ‘Stagebox’, permite ter oito canais de entradas e saídas de microfone ou linha com os famosos pré-amplificadores SSL SuperAnalogue, também com ligações Dante redundantes. A demonstração incluía ainda quatro consolas SSL (2 x C10, C100 e a Live) ligadas em rede com equipamentos da Shure e Sound Devices (tudo em Dante), terminando os sinais no sistema de monitorização de Loudness LMS-16 que a SSL criou em colaboração com a Nugen Audio.

Continuará…