Doutores em comunicação discutem como os conteúdos estão sendo impactados pela tecnologia

Cinco doutores em comunicação com sólida formação acadêmica estiveram reunidos no painel “A visão da comunicação na era do conteúdo e inteligência artificial”. O objetivo do encontro foi o de analisar como os conteúdos estão sendo impactados pela tecnologia, principalmente a IA (inteligência artificial), como isto está sendo recebido pela audiência e a credibilidade da informação. O moderador do painel foi o jornalista e professor do curso de Rádio e TV da Unesp, Francisco Machado Filho.

 

Em sua palestra, Fernando Carlos Moura, editor-chefe da Revista da SET/PUC Campinas, abordou a verdadeira batalha por audiência e monetização de conteúdos que a TV tradicional e serviços de vídeo por streaming travam. Para isso, demonstrou dois cases: “Game of Thrones”, exibido pela HBO GO; e a transmissão pelo Facebook Watch do jogo do Flamengo contra o San José em partida válida pela Libertadores da América 2019. “Quando o conteúdo é relevante o streaming ao vivo faz sentido.”

 

A jornalista da TV Unesp, Leire Mara Bevilaqua, falou a respeito das novas estratégias dos telejornais em usar as redes sociais para se aproximar de seu público. O seu objeto de estudo foi o Jornal Nacional. Ela detectou que o modo de endereçamento do telejornal tomou como base o despojamento, quando, ao vivo, foi escolhido o nome da então apresentadora do tempo, Maria Júlia Coutinho, que passou a ser chamada pelos colegas de Maju Coutinho, uma identificação que os internautas já nutriam.

 

Outro episódio envolveu o âncora Willian Bonner, que, ao comentar a notícia de um hacker norte-americano suspeito de invadir o sistema de um avião o chamou de “maluco”. Ele pediu desculpas ao vivo, algo não usual até então. Um novo endereçamento do Jornal Nacional detectado por Leire ocorreu quando o âncora instruiu os internautas a enviarem vídeos com o celular na horizontal para a campanha “O Brasil que eu quero”. Bonner fez até uma espécie de tutorial para ensinar como os telespectadores/internautas deveriam enviar os vídeos. “Este novo endereçamento marcou a interação entre usuários de sites de redes sociais a respeito do conteúdo veiculado”, afirmou a pesquisadora.

 

Credibilidade e monetização

Presidente do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo), o professor Francisco Rolfsen Belda, do Departamento de Comunicação Social da UNESP, também é coordenador acadêmico do Projeto Credibilidade, o capítulo brasileiro da iniciativa mundial Trust Project. Segundo explicou, as causas da descrença das pessoas em relação à imprensa envolvem fatores como fragmentação da notícia; falta de intermediação das informações no meio digital (como no caso de governantes que evitam a imprensa, porém divulgam suas ações por meio de redes sociais); notícias falsas; polarização política; a tendência das pessoas em confirmar os seus posicionamentos por meio de pesquisas de informações na internet para confirmar suas crenças; os filtros bolhas no WhatsApp e outras redes sociais; apuração enviesada de informações ou com deficiências éticas e precarização da profissão jornalística, o que leva à queda de qualidade.

 

Nesse cenário adverso, a contribuição do projeto credibilidade é fundamental, segundo o docente. “O objetivo é o de refletir sobre a desinformação e desenvolver ferramentas para combatê-la”, afirmou. A geração de credibilidade envolve o desenvolvimento de indicadores tais como o de programar melhores práticas; divulgar a expertise do autor do texto; disponibilizar citações e referências usadas; métodos de apuração; estimular diversidade de vozes na produção do conteúdo e um feedback acionável.

 

Alvaro Bufarah Júnior, pesquisador associado ao Intercom, SBPjor e Rede Alcar, apresentou dados sobre modelos de negócios e sua aplicação no radiojornalismo brasileiro. Além das formas já conhecidas e empregadas pelas mídias sociais, ele citou algumas relacionadas a modalidades de paywall. O modelo tradicional de estabelecer um limite mesmo em áreas gratuitas e começar a cobrar após disso pode ser mesclado com outros, que envolvem assinaturas, clube de membros com conteúdos pagos (membership) e até crowfunding (doações).

 

O maior desafio para os gestores de comunicação será como atender a geração Z, um público formado dentro da estrutura digital. “Na faculdade de comunicação a gente não é preparado para trabalhar com gestão, só aprendemos a ser replicadores de conteúdo”, afirmou Bufarah Júnior.