Conteúdo original ganha cada vez mais relevância na produção audiovisual brasileira

Entender as mudanças que a tecnologia promove, criando novos paradigmas de consumo, e como isso impacta o processo de produção e divulgação de conteúdo audiovisual estiveram entre os principais pontos discutidos no painel “Conteúdo Original – O Fim das Janelas?”, que reuniu representantes do audiovisual para um amplo debate sobre desafios e tendências da produção brasileira.

Os palestrantes foram Adriana Favaro, diretora Comercial de Veículos da Kantar IBOPE Media; Beto Gauss, sócio e produtor da Prodigo Films; Marcio Yatsuda, presidente da Movioca Content House; Paulo Rabello, diretor de engenharia de entretenimento da TV Globo; e  Roberto d’Avila, fundador da Moonshot Pictures. A mediação foi feita por Mauro Garcia, presidente da BRAVI (Brasil Audiovisual Independente), que também é integrante do Conselho Deliberativo da SET.

Os palestrantes discutiram como a evolução do consumo de conteúdo via plataformas OTT em diversos tipos de dispositivo vem deixando o conceito de janela de exibição em segundo plano. Neste cenário, a produção de uma narrativa de qualidade, tanto focada no público quanto nas plataformas em que será exibida, torna-se cada vez mais essencial.

Adriana Favaro, da Kantar IBOPE Media, deu início ao painel com uma apresentação sobre as transformações pelas quais passa o consumo de vídeo no Brasil, com foco em VoD (Video on Demand). Por exemplo, em 2018, 34% das pessoas nas principais regiões metropolitanas do país assistiam a conteúdo de vídeo em VoD pelo menos uma vez por mês – em 2014, eram 5%. Os preferidos do VoD são as séries (53%), animações (31%) e documentários (29%).

“O grande desafio que os produtores de conteúdo têm hoje é como entrar no dia a dia do consumidor de uma forma consistente e prazerosa. Quando falamos de cenário de tecnologia, falamos muito de cenário de multitelas. Na verdade, as três telas, as quatro telas, estão perdendo penetração no Brasil. Hoje, 80% dos brasileiros têm duas telas, a TV e o celular. São esses dois devices que comandam hoje o cenário de consumo de conteúdo”, afirmou.

Paulo Rabello, da Globo, fez uma breve explanação dos componentes de conteúdo original, como história, elenco, produção e tecnologia de distribuição, para falar sobre financiamento de projetos. “Isto tudo custa dinheiro. Como o cenário mudou, o mais importante é ter em mente, ao desenvolver determinado conteúdo original, a rentabilidade que esse produto vai trazer”, afirmou, citando leis de incentivo e apoio, comercialização no conteúdo (merchandising), peças publicitárias adjacentes ao conteúdo (publicidade) e o consumidor diretamente (via assinaturas, por exemplo).

 

Desafios

Os três palestrantes representantes de produtoras audiovisuais independentes  contaram cases e falaram sobre as mudanças pelas quais passam o setor. Beto Gauss, da Prodigo Films, lembrou que, desde sua primeira produção independente, em 2003, o segmento, incluindo a questão do tempo de janela, mudou muito. Mas ele vê o futuro com otimismo. “Hoje, por exemplo, a língua não é mais uma barreira. As séries e os filmes viajam muito mais e o Brasil é um grande produtor e consumidor de conteúdo.”

Roberto d’Avila, da Moonshot Pictures, atentou para o momento peculiar pelo qual o setor passa. “O que a gente vive hoje é um momento de disrupção, talvez só comparável à invenção da televisão em relação ao que ela fez com o cinema, ou ao Napster, em relação à indústria da música”, afirmou. Para ele, do ponto de vista da produção audiovisual, a principal questão hoje é como ser relevante. “A quantidade de oferta de conteúdo de séries de títulos diferentes nunca foi tão grande para o consumidor. O canal, o investidor e o comprador estão cada vez mais especializados.”

Marcio Yatsuda, da Movioca Content House, apontou outro desafio, o que chamou de “momento conturbado para o nosso modelo de negócios”. “A gente vive um momento em que as regras do jogo certamente vão mudar. É um momento de inquietude e insegurança, mas sem deixar de ter confiança muito grande no futuro, porque, no final, quem produzir bons conteúdos sempre vai ter espaço”, afirmou.