A Inteligência Artificial no aparelho de TV

NAB 2019 “O OLHAR DOS ESPECIALISTAS DA SET”

Autores afirmam que está consolidado que a Inteligência Artificial (IA) será a grande revolução que os meios de comunicação irão experimentar nos próximos anos

por Francisco Machado Filho e Rosiene Tondelli Cazale

Diagrama da TV com IA © Fonte: Rosiene Tondelli Cazale

Diagrama da TV com IA © Fonte: Rosiene Tondelli Cazale

Desde a invenção da televisão até agora, a evolução se deu sempre nos aspectos de captação, edição, pós-produção. Vimos uma grande oferta de novas tecnologias, principalmente nos últimos 10 anos. Um quarto aspecto é a distribuição. Para a televisão aberta, a principal transformação foi a digitalização da transmissão. Todas essas mudanças não alteraram o modelo de negócios das emissoras privadas no sistema aberto. Contudo, os próximos anos apresentam um cenário totalmente novo, fomentado pela IA em todos estes aspectos, desde a captação até a entrega do conteúdo e a comercialização dos espaços comerciais. Será um ambiente totalmente novo. Uma nova televisão e uma de suas principais mudanças é que o aparelho televisor que ate agora é apenas uma tela, será um aparelho inteligente, integrado a Internet das Coisas (IoT) e será capaz de realizar tarefas e oferecer serviços que nem a ficção científica ousou prever.
A IA no aparelho de TV possibilitará novas relações com seus telespectadores, possibilitará o mapeamento de todos os hábitos de consumo dos membros da família ou qualquer outro ambiente, aprendendo e se tornando cada vez mais indispensável para o usuário. Enquanto o Consumidor assiste à TV ou transita pela casa, a IA presente no aparelho de TV irá fornecer dados através dos diversos aparelhos da residência (mesmo sem saber), para que a IoT capte esses dados, em relação à programação assistida, qual a emissora mais assistida, horário de maior, assim como seus hábitos frente a TV e as dinâmicas de consumo, inclusive sobre aquilo que ele acessa e compra na Internet.
De acordo com o diagrama da figura abaixo, é possível demonstrar os aspectos que envolvem o funcionamento da IoT e IA na televisão, detalhando o que compete a cada uma das partes.
No centro temos a TV. Partindo do princípio de que o televisor possui um sensor de IoT, o qual estará ligado vinte e quatro horas. Já estão a venda nas lojas modelos utilizados como painéis decorativos, com molduras que se adaptam ao ambiente das residências, exibindo pinturas famosas como se fossem um quadro e também transmitindo informações de data, hora e temperatura ambiente.
As plataformas de cognição têm capacidade de “ensinar” a IA aprimorando sua base de dados. O IBM Watson é uma plataforma de sistemas cognitivos da IBM, onde os softwares de IA são capazes de adquirir conhecimento a partir de informações recebidas. A Amazon AWS é uma plataforma de sistemas cognitivos da Amazon, onde os softwares de IA são capazes de adquirir conhecimento a partir de informações recebidas e que permite a criação, armazenagem e distribuição de conteúdo. Estes são apenas exemplos de plataforma que já estão ativas atualmente. Para entender porque a IA será a grande revolução da televisão é simples, basta lembrarmos de que tudo que se faz atualmente na indústria de TV perde valor quando o usuário desliga o aparelho. Todas as tecnologias e estratégias deixam de fazer sentido em um ato muito simples e que fazemos todos os dias: o momento em que desligamos a TV.
Toda a evolução que o meio tem experimentado objetiva entregar um conteúdo melhor, mais relevante e com mais qualidade, mas quando desligamos a televisão nada disto pode ser monetizado. Não podia, agora vai poder. Se toda indústria esta sujeita ao desligar ou não da TV, por que desligá-la. A TV deixará de ser um aparelho que o consumidor liga e desliga e passa a ser um aparelho conectado, ligado vinte e quatro horas por dia, monitorando a vida do consumidor, e lhe oferecendo produtos e serviços que a TV vai aprendendo ao longo do tempo.
O grande diferencial da IA é que ela aprende por conta própria, sem que se programe para repetir uma função. Então, realmente é uma nova era que está se formando no broadcasting, em que a TV deixa de ser um veículo de um para muitos e passa a ser um veículo personalizado.
O aparelho de TV com IA e IoT abre novas possibilidades de experiência para o telespectador, o que se deve em função do grande avanço por que passou a IA e os sensores miniaturizados de IoT nos últimos anos: hoje permitem o acesso a cada vez mais informações, que são captadas e armazenadas em Big Data e Cloud Computing. Esses dados analisados possibilitam anúncios personalizados baseados no consumo de programas, dados de uso dos consumidores finais, buscas na internet ou curtidas em redes sociais, o que permite às emissoras de TV oferecer recomendações personalizadas em seus conteúdos, com alta precisão e em tempo real.
A interação entre IA e mídia aumenta a cada dia, e a IA no aparelho de TV possibilita criar um ecossistema para casas inteligentes, fornece ao consumidor uma experiência de vida simples e personalizada, para que as pessoas desfrutem facilmente de entretenimento, encontrem informações, planejem o seu dia e controlem dispositivos domésticos inteligentes com simples comandos de voz. Tudo poderá ser configurado e reproduzido automaticamente pela TV, como tocar músicas, configurar o irrigador para funcionar ao amanhecer, acender automaticamente as luzes da casa ao entardecer e apagar quando for a hora programada para dormir, assim como reposição de mercadorias que estão acabando na geladeira ou armários.
Os espectadores estão ávidos por consumir tecnologia no aparelho de TV, conforme dados levantados pelo IBGE, o que possibilita o engajamento dos consumidores inclusive em multitelas, pois a IA no aparelho de TV empodera-os, tornando suas vidas mais práticas e inteligentes ao substituir atividades rotineiras e ao potencializar a criatividade das pessoas com o aproveitamento do potencial oferecido por essas ferramentas para gerenciar o conhecimento que as informações oferecem ao relacionamento com as pessoas.
Ela possibilita também estabelecer diálogos através de sensores de IoT e diversos aplicativos de IA, engajando os seres humanos de forma surpreendente: torna-se, assim, uma companhia para as pessoas, que poderão usufruir dos mais diversos serviços do aparelho, o qual agora permite que a TV possa ver, ouvir, falar, compreender e interagir com o mundo ao redor, facilitando o dia a dia das pessoas solitárias, deficientes ou debilitadas fisicamente.
É certo que este mundo novo não será perfeito. Para que esta previsão se torne realidade serão necessários vários debates que irão abordar temas como privacidade, segurança na rede, ética, regras para a publicidade e etc. Mas como estamos vendo, a tecnologia vem primeiro e o debate depois. A possibilidade de fazer com que a televisão volte a ocupar o lugar principal da casa como aparelho de conexão e entrega de conteúdo representa a recuperação de toda a indústria televisiva que vai muito além do conteúdo, mas também a recuperação de empresas de infraestrutura, torres, transmissão, hardware. É algo fácil de compreender quando se visita os pavilhões da NAB, nenhuma indústria que está morrendo atrai mais de 100 mil pessoas em uma feira. A televisão está mudando, mais uma vez a tecnologia irá impactar todos os públicos envolvidos, mas a grande transformação será na premissa básica do que era a televisão analógica: ela será de massa, mas ao mesmo tempo individual.
Esta é a grande transformação da TV em nosso tempo. Ser um meio de massa (de um para muitos) e ao mesmo tempo capaz de entregar conteúdo personalizado (um para um) seja programas ou comerciais. Este é o fato novo. Esta é a televisão do futuro.

Prof. Dr. Francisco Machado Filho é jornalista, professor do curso de Jornalismo e Rádio e TV da Unesp/Bauru e diretor da TV Unesp/Bauru. Contato:
[email protected]

 

Prof. Me. Rosiene Tondelli Cazale é especialista em Informática em Educação pela Universidade Federal de Lavras-MG, possui Licenciatura Plena em Processamento de Dados pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet). Mestre em Mídia e Tecnologia pela UNESP/Bauru. Contato: [email protected]